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Manuel Barbosa, scj
Consagrados na Misericórdia
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O Papa Francisco acaba de anunciar um Ano Santo da Misericórdia para 2016, a iniciar-se a 8 de dezembro de 2015, Solenidade da Imaculada Conceição, com término a 20 de novembro de 2016, Solenidade de Cristo Rei, rosto vivo da misericórdia do Pai. Este Jubileu, que vai coincidir em dois meses com o Ano da Vida Consagrada, será «nova etapa do caminho da Igreja na sua missão de levar a cada pessoa o Evangelho da misericórdia». Transcrevo as próprias palavras do Papa, a 13 de março, no contexto penitencial da celebração «24 horas para o Senhor»:

«Queridos irmãos e irmãs, muitas vezes tenho pensado sobre o modo de a Igreja poder tornar mais evidente a sua missão de ser testemunha da misericórdia. É um caminho que começa com uma conversão espiritual; e devemos fazer este caminho. Por isso decidi realizar um Jubileu extraordinário que tenha no seu centro a misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia. Queremos vivê-lo à luz da palavra do Senhor: "Sede misericordiosos como o Pai" (cf. Lc 6,36). E isso especialmente para os confessores! Tanta misericórdia!»

Depois de anunciar o Jubileu, o Papa aponta o seu sentido:

«Estou convencido de que toda a Igreja, que tem tanta necessidade de receber misericórdia, pois somos pecadores, poderá encontrar neste Jubileu a alegria para redescobrir e tornar fecunda a misericórdia de Deus, com a qual todos nós somos chamados a dar consolação a cada homem e a cada mulher do nosso tempo. Não esqueçamos que Deus perdoa tudo, e Deus perdoa sempre. Nunca nos cansemos de pedir perdão. Confiamos a partir de agora este Ano à Mãe de Misericórdia, para que volte para nós o seu olhar e vigie o nosso caminho: o nosso caminho penitencial, o nosso caminho com o coração aberto, durante um ano, para receber a indulgência de Deus, para receber a misericórdia de Deus».

Misericórdia é da essência de Deus. «Rico em misericórdia», «Sede misericordiosos como o vosso Pai celeste é misericordioso», «Bem-aventurados os misericordiosos porque é deles o Reino de Deus»... são apenas algumas expressões bíblicas a sintonizar com esse dizer quem é Deus. Em Deus todo misericórdia, só podemos ser misericórdia.

Esta proposta jubilar do Papa, que nos pode ter surpreendido, não é senão um recentrar o nosso ser em Deus. Daí o convite permanente às comunidades cristãs para que sejam fecundas de misericórdia no amor de Deus. «A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho» (Papa Francisco, «A Alegria do Evangelho», nº 114).

É todo um programa de existência cristã que nos é proposto para viver e celebrar. Somos consagrados na misericórdia, melhor dizendo, Deus consagra-nos na sua misericórdia. Isso vale para todos: para as famílias e comunidades cristãs; para aqueles e aqueles que levam essa existência como consagrados e consagradas, em institutos religiosos e seculares, em congregações, mosteiros e conventos, em intensa vida apostólica e em íntima vida contemplativa.

Como mero exemplo, o Padre Leão Dehon, fundador da Congregação a que pertenço, deixou-nos um precioso legado onde frequentemente nos acena à misericórdia de Deus, que descreve como «excesso de amor»; este transparece na misericórdia e encontra o lugar da sua mais alta manifestação na criação, na incarnação, na cruz, na paixão e na ressurreição. São palavras suas: «Não há mais nenhum atributo divino que a Sagrada Escritura glorifique mais que a sua misericórdia». O lema que carateriza os Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) - «profetas do amor e servidores da reconciliação» - é um desafio constante à sintonia com a misericórdia de Deus.

Que Deus nos consagre na sua misericórdia, entranhando de ternura e compaixão o coração das nossas vidas, famílias e comunidades, para que vivamos e anunciemos sempre e em toda a parte, sem cansar e sem cessar, a sua misericórdia!