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Celebrações de Páscoa na Sé de Lisboa
Cardeal-Patriarca apela a cristãos “atentos” a uma “realidade que clama”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa considera que a Igreja só entrará e permanecerá em Páscoa se estiver atenta ao apelo dos pobres. Nas celebrações pascais na Sé, D. Manuel Clemente destacou a necessidade de os cristãos ativarem, nas suas vidas, o verdadeiro significado do batismo.

 

O Cardeal-Patriarca de Lisboa convidou os cristãos a viverem mais intensamente a misericórdia. Na celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor, no passado dia 5 de abril, na Sé de Lisboa, D. Manuel Clemente lembrou o ano santo convocado pelo Papa Francisco. “De misericórdia – e da misericórdia com que Jesus nos olha a nós, para nós O olharmos nos outros – fala-nos constantemente o Papa Francisco, que até a escolheu por lema. Em boníssima hora nos convoca para um “jubileu da misericórdia”, a começar no próximo 8 de dezembro, precisamente o da Imaculada Conceição da “Mãe de Misericórdia”. Aproveitemos a oportunidade para vivermos mais intensamente a misericórdia, que é a verdadeira atmosfera do mundo ressuscitado com Cristo e o único critério para entrarmos nele”, desejou o Cardeal-Patriarca.

Nesta celebração de Páscoa na Sé, que foi transmitida pela TVI, D. Manuel Clemente destacou, na sua homilia, a importância da cruz. “Neste dia, floresce a cruz do Senhor; florida é adorada e até processionalmente levada por muitas casas e em muitas terras. Dum modo ou doutro, é bom que assim suceda, pois não há melhor nem mais persuasivo sinal cristão do que o da cruz e da sua florescência ou resplendor. Uma e outro, cruz e resplendor, estão muito certos assim, pois o Ressuscitado é o Crucificado, com o sinal dos cravos com que foi pregado; e é na cruz que Ele vence o mundo e se torna critério de juízo verdadeiro e definitivo”. Depois, o mais recente cardeal português convidou os fiéis a replicarem a “sentença de Deus” – que foi a Ressurreição de Jesus Cristo – na vida dos que mais sofrem. “A ressurreição de Cristo foi a sentença final do próprio Deus, sobre o que vale ou não vale, deste mundo para o outro. Não valeram os que condenaram Jesus, valeu sozinho o injustamente condenado, que venceu o mal com o bem, a injúria com o perdão e a morte com a vida. E esta sentença definitiva de Deus, replica-se hoje e agora, com a presença do Ressuscitado em cada homem ou mulher, que viva, sofra e nos aguarde. Na nossa resposta está o nosso destino e o juízo de Deus. Compreenderemos melhor a esta luz, o encadeamento das bem-aventuranças, ligando a conduta que tivermos agora ao futuro que Ele nos promete”, observou D. Manuel Clemente.

 

“Não retardemos a Páscoa do mundo!”

Em Sábado Santo, o Cardeal-Patriarca de Lisboa lembrou aos cristãos a importância de ativarem, nas suas vidas, o verdadeiro significado do batismo. “Morrer e ressuscitar com Cristo é o sentido novíssimo da vida batismal de nós todos. O batismo realiza a Páscoa em nós, qual passagem decidida que toda Bíblia anuncia no tempo, abrindo à eternidade feliz. Tempo novo que havemos de anunciar já agora, eternizando também sentimentos e atitudes, outro modo de dizer “vivendo em Cristo”, pois a caridade nunca acabará. (…) Daí que, renascidos que somos na fonte batismal, nada pode ser realmente como dantes. O sacramento realizará o que significa, se não lhe opusermos óbices nem demoras. E hoje em dia, quando já não descansamos em “cristandades” sociológicas, em que tudo parecia formalmente garantido na lei e nos costumes, só vale o que valeu há dois mil anos: morrer para uma vida sem Deus e sem os outros e ressuscitar com Cristo para a vida filial, solidária e fraterna”, garantiu D. Manuel Clemente, na homilia da Vigília Pascal, na Sé de Lisboa.

Nesta celebração, na noite do dia 4 de abril, o Cardeal-Patriarca lembrou aqueles que ainda não ouviram falar de Jesus Cristo: “Quando as mulheres do Evangelho que escutámos entraram no sepulcro, não encontraram quaisquer restos mortais, antes ouviram o primeiro precónio pascal: «- Procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui!». Isto mesmo ouvimos nós também. Pelo batismo entramos no sepulcro, pelo batismo saímos dele, para anunciar com vidas ressuscitadas nos sentimentos e nas práticas a vitória de Cristo sobre a morte. E há tanta gente à espera deste anúncio vivo na imensa Galileia que é o mundo… Da parte de Deus tudo nos foi oferecido em Cristo: o Espírito, a caridade e a novidade última de todas as coisas. Não faltemos com a nossa parte, que a graça de Deus capacita. - Não retardemos a Páscoa do mundo!”.

 

“Salvar a todos”

Na celebração da Paixão do Senhor, em Sexta-Feira Santa, dia 3 de abril, o Cardeal-Patriarca de Lisboa classificou a desatenção à graça de Deus como a “maior desgraça do mundo”. “É fácil verificar que este mundo tem sede. Uma sede que nada sacia de vez, senão a própria fonte e unicamente com a água que ela oferece. (…) A maior desgraça do mundo é sermos tão desatentos à graça divina, que em Jesus se derrama. E desatentos permanecermos, quando já tínhamos tantas razões de sobra para reparar no que nos falta. Falta-nos Deus, e Jesus oferece-O. Falta-nos vida, e Jesus recria-a. Falta-nos esperança, ânimo e luz, e Jesus realiza a esperança do mundo, pois que da própria morte fez vida. Sim, vida, porque os sinais desta tarde, ou a grande ausência deles, como o sepulcro que os guardará até à alvorada pascal, não são só restos mortais; são, isso sim, troféus de vitória. A cruz é glória, os espinhos floriram, a vida jorrou”.

Na Sé Patriarcal de Lisboa, D. Manuel Clemente lembrou igualmente a sede de Jesus pela humanidade. “Que Jesus tem sede da nossa sede d’Ele, como um verdadeiro amigo dos outros que tardam, esclarecem-nos os passos evangélicos que O mostram à nossa procura e tão disposto a saciar-nos. (…) Com a sede que tem de nós e com a nossa sede saciada n’Ele, cumprem-se de vez as Escrituras, que duma ponta à outra não falam senão dessa vontade divina, que Jesus inteiramente compartilha e cumpre. Outro modo de dizer a justiça, enquanto verdade das coisas, feitas e refeitas segundo Deus. A imensa sede – ou igualmente a fome – de Jesus não é outra, senão esta mesma de realizar a justiça de Deus, refazendo o mundo. (…) Compartilhar a sede de Jesus é sentirmos como Ele a sede do mundo e n’Ele a dessedentarmos, com o Espírito oferecido”. No final, exortou ainda os cristãos a permanecerem junto à cruz de Cristo: “O nosso lugar é aqui e onde a sua cruz se alarga, em toda a sede do mundo, para a saciarmos com a imensa sede de Cristo, que é a de nos salvar a todos”.

 

O ‘segredo’ do Papa Francisco

Na tradicional celebração do lava-pés, na Sé de Lisboa, D. Manuel Clemente apontou a Eucaristia como o centro da vida da Igreja e interpelou os cristãos sobre a sua condição de batizados. “A celebração eucarística é o centro da vida eclesial, para a comunhão com Cristo e o envio missionário, que necessariamente ativa. Comungar da sua vida é partilhar o seu serviço, pois é, por excelência “sacramento da caridade”. E apenas na caridade legitimamente se ganha e comunga”, apontou D. Manuel Clemente, na Missa da Ceia do Senhor, na tarde de Quinta-Feira Santa, 2 de abril.

No início do Tríduo Pascal, D. Manuel Clemente ‘desvendou’ o que considera ser o segredo do atual Sucessor de Pedro. “O Papa Francisco tem-nos repetidamente admirado com palavras e gestos onde o lava-pés de Cristo continua e convence. Podemos até perguntar como consegue alguém da sua idade e estado físico sustentar tal dia a dia, com tanta qualidade e quantidade de contactos e atitudes, em Roma e além de Roma, numa contínua lembrança dos pobres e das suas necessidades. Mas ele próprio nos desvenda o segredo, estimulando-nos ao mesmo e de idêntico modo. Escreve assim, na exortação apostólica que nos guia aqui em caminho sinodal, depois de lembrar os momentos de oração que lhe sustentam a jornada: «A Igreja não pode dispensar o pulmão da oração, e alegra-se imenso que se multipliquem, em todas as instituições eclesiais, os grupos de oração, de intercessão, de leitura orante da Palavra, as adorações perpétuas da Eucaristia» (Evangelii Gaudium, 262). Mas é desse mesmo exercício orante e eucarístico que o Papa parte e nos faz partir, em anúncio redobrado do Senhor que tanto atrai como envia, pois é do seu amor que se trata, como sangue que aflui e diflui dum coração vivo e misericordioso”.

  

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“Cada pessoa real e concreta constitui o primeiríssimo valor a salvaguardar e promover”

O Cardeal-Patriarca de Lisboa alertou, na Missa Crismal, os cristãos para seguirem o exemplo de Jesus no apelo dos mais pobres. Citando o número 187 da exortação apostólica Evangelii Gaudium do Papa Francisco – «Cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade; isto supõe estarem docilmente atentos, para ouvir o clamor do pobre e socorrê-lo» – D. Manuel Clemente considerou este “um lema a fixar - porventura afixar, nos locais em que” a Igreja se reúne. “Cada um de nós, pessoal e comunitariamente, tem a vocação inexcusável de libertar e promover os outros, quando carências de qualquer tipo não lhes permitam a realização devida. Realização de toda a potencialidade que cada ser humano traz a este mundo, mas requerendo logo o próprio direito a nascer, base de tudo o mais. Realização de cada um, que plenamente o integre no conjunto da sociedade, só assim justa de facto. Mesmo e precisamente com quantos tenham limitações de qualquer tipo, que não lhes reduzem a dignidade e são outros tantos apelos a sairmos de nós para ajudarmos os outros, suscitando o melhor que temos e nos realiza no bem. É certo que há muitas falhas neste ponto crucial. Muita incapacidade, muito desinteresse também. Porém, enquanto corpo eclesial de Cristo e ungidos no seu Espírito, temos de estar como Ele esteve, atentos sempre ao apelo dos pobres, distraídos nunca da realidade que clama, irredutivelmente clama. Sem isso, não entramos em Páscoa nem permanecemos nela”, observou o Cardeal-Patriarca, na Missa Crismal, na manhã de Quinta-Feira Santa, 2 de abril, que teve transmissão em direto pelo site do Patriarcado de Lisboa (www.patriarcado-lisboa.pt) e que pode ser revista em http://goo.gl/pQosQj. “Não pensemos que alguma melhoria sólida se conseguirá para o futuro, sem termos realmente um outro olhar para as pessoas e as coisas, mais aberto, solidário e estimulante. A pessoa, cada pessoa real e concreta, constitui o primeiríssimo valor a salvaguardar e promover, seja em que circunstância for. E as comunidades cristãs não podem dispensar-se de dar o exemplo, na atenção positiva que deem aos que já integrem, ou ainda procurem”, acrescentou, citando depois uma expressão do Papa Francisco na Mensagem Quaresmal deste ano: “Estou, finalmente, certo e seguro, que o melhor fruto da caminhada sinodal diocesana, tão motivada que é pelas palavras e atitudes evangélicas do nosso querido Papa Francisco, nos renovará no Espírito de Cristo, transformando as nossas comunidades em «ilhas de misericórdia no meio dum mar de indiferença»”.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Arlindo Homem e Jorge Carmona
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