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Entrevista ao novo Chefe da Região de Lisboa do CNE - Corpo Nacional de Escutas, João Carvalhosa
“Os miúdos são a nossa única missão”
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O novo chefe da Região de Lisboa do Corpo Nacional de Escutas - Escutismo Católico Português, João Carvalhosa, aponta a necessidade de “um novo dinamismo para a Região”, que passa pela valorização da formação dos cerca de 2000 dirigentes escutistas. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, após a recente eleição como chefe da Região de Lisboa do CNE, João Carvalhosa garante que vai trabalhar para “proporcionar um melhor escutismo aos miúdos”.

 

De que forma apresenta o escutismo católico?

O escutismo é um movimento de educação não formal. Entendemos que a educação básica é dada pela família. Depois, há uma educação mais abrangente e científica que é dada pela escola. Aos escuteiros cabe um complemento destas duas educações que tem como base os valores cristãos. Porque as crianças e jovens podem até ser bons alunos e bem-educados em casa, mas muitas vezes não têm algumas capacidades de estruturação, programação e de construção. Nós treinamos muito isso com os nossos miúdos, como por exemplo, no planeamento de uma atividade. Na prática eles são confrontados com obstáculos, onde são desafiados a ultrapassá-los. É nessa construção que se faz da pessoa que se centra o nosso papel.

 

Como está organizada a Região de Lisboa do CNE?

A Junta de Lisboa conta com 136 agrupamentos que estão sedeados nas respetivas paróquias. Numa região tão grande como a de Lisboa, era muito difícil existir uma única estrutura que fizesse um acompanhamento pedagógico destes agrupamentos. Por isso, desde há uns anos, houve a decisão de se criarem estruturas intermédias que são os núcleos. Existem sete Juntas de Núcleo, que mantêm uma relação de maior proximidade com os seus agrupamentos. Para esta junta regional, estes núcleos são um fator fundamental de sucesso naquilo que pretendemos implementar na Região de Lisboa.

 

Quais as faixas etárias mais representativas no escutismo?

A predominância é dos 6 aos 10 anos [lobitos] e dos 10 aos 14 anos [exploradores]. Nas idades seguintes, essa percentagem vai diminuindo, por motivos variados e óbvios, como a independência que o jovem vai ganhando ou por outros interesses que o jovem vai tendo. Quando passam para a faculdade, há uma maior dificuldade em conjugar a entrega ao escutismo com novos grupos sociais que se ganham e com a exigência nos estudos. Nós pretendemos que os momentos que as crianças e os jovens vivem no escutismo lhes orientem a vida, nomeadamente para que sejam bons profissionais, boas pessoas, para que saibam que, estando numa organização ou empresa, têm uma tarefa e têm que a cumprir bem.

 

Há perspetivas de crescimento em número de escuteiros?

Em Lisboa temos mais de 13 mil escuteiros e temos notado um crescimento ligeiro. Temos alguma dificuldade, por vezes, em adaptar as unidades à realidade sociológica onde estão implantadas porque há agrupamentos que estão em locais onde a população envelhece e, por isso, existem menos crianças para entrar. No entanto, existem outros locais que, por causa das construções de novas habitações, têm um maior número de crianças para entrar. Temos de ponderar muito bem estes dois racionais quando pensamos abrir um novo agrupamento.

 

Quais as atividades mais representativas que têm contado com a maior participação dos escuteiros?

O dia de São Jorge é a grande festa da Região de Lisboa. Por isso, todos os anos, é um ponto obrigatório. O ACAREG (Acampamento Regional) acontece de 4 em 4 anos e é uma atividade muito participada. Temos também os dias de núcleo, de formação dos guias e cargos respetivos, desafios entre agrupamentos, mas também prestamos apoio em procissões, vigílias, peregrinações, isto é, na vida da paróquia. Os agrupamentos têm um nível de atividade enorme, a um ritmo semanal que é frenético. Por vezes têm a dificuldade em conjugar toda a oferta de atividades que existe, não só do CNE mas também da paróquia, do banco alimentar, da junta de freguesia, da câmara, etc. Temos que ter algum cuidado porque dada a imensa oferta de atividades exteriores, corre-se o risco de não termos tempo para a própria unidade.

 

Quais os desafios que espera nas novas funções?

Os desafios são enormes. Nós vimos de uma junta regional que era gerida, há muitos anos, pelas mesmas pessoas. Naturalmente que isso faz com que qualquer estrutura acabe por não acompanhar a realidade local. Portanto, o nosso desafio é dar um novo dinamismo à Região e, sobretudo, valorizar muito os recursos que temos. Nós temos mais de 2000 recursos adultos dirigentes, absolutamente fantásticos e com uma grande qualidade. O grande desafio é unir todas estas capacidades para construirmos uma Região com um único objetivo: maior capacidade para proporcionar um melhor escutismo aos seus miúdos. O nosso único objetivo é o bem-estar dos miúdos e correspondermos ao motivo pelo qual as famílias depositaram em nós a confiança. Os pais acreditam que o escutismo é uma atividade boa, segura e de crescimento. Isso coloca-nos a responsabilidade de responder a esse ‘caderno de encargos’ que os pais colocam quando nos entregam as crianças. O objetivo da estrutura regional – que não está a lidar diretamente com as crianças – é dar a estes dirigentes que trabalham com elas as melhores condições possíveis para o fazerem. Como? Estes dirigentes têm que ter a melhor formação possível. Quando admitimos um recurso adulto, vindo de um percurso escutista ou entrando já adulto para os escuteiros temos de garantir uma formação altamente especializada e responsável para que eles saibam qual a sua missão e ganhar as ferramentas para a cumprir.

Queremos melhorar as ferramentas pedagógicas ao dispor dos animadores. Temos um programa pedagógico que está em implementação há uns 3 anos que é muito interessante em termos de avaliação e desenvolvimento das capacidades individuais de cada miúdo. Trata-se de uma formação muito focalizada nas características de cada um. Até agora, a pedagogia utilizada assentava num modelo que era igual para todos. Com este novo modelo os miúdos fazem um diagnóstico sobre as suas capacidades. Reconhecendo que têm algumas lacunas, os próprios miúdos propõem o que querem fazer para as ultrapassar e todo o processo é validado pelo grupo. A aplicação deste modelo não é fácil porque implica um trabalho muito individualizado dos animadores com o miúdo e um dos problemas que temos sentido é o perceber que isto ocupa mais tempo ao dirigente. A nossa missão é criar ferramentas pedagógicas que ajudem os animadores a agilizarem o processo, focando-se naquilo que é essencial.

Em termos de gestão da Região e da estrutura, entendemos que a gestão deve ser o mais transparente possível. Além de ser uma gestão muito sóbria, porque estamos a lidar com o dinheiro das famílias, a sociedade hoje em dia não tolera pouca transparência, em particular na altura de crise que temos vivido. Ao libertarmos as pessoas da preocupação com a gestão da instituição, elas ficam mais disponíveis para aquilo que interessa, que é trabalhar com os miúdos. Os miúdos são a nossa única missão.

 

Como é que o escutismo católico, em Lisboa, se pode tornar num maior instrumento de evangelização?

Julgo que a própria atividade escutista que é feita, fora do terreno, é, por si só, um fator de evangelização porque estamos, de facto, a atrair uma série de miúdos para o movimento. Há muitos que nos procuram e não têm o batismo ou que apenas tiveram o batismo e não tiveram mais nada. Temos tido algum sucesso nessa evangelização pela atração. Tal como explicamos aos pais e aos miúdos, nós somos um movimento da Igreja e, portanto, para poder integrá-lo, propomos um caminho de Igreja.

Como representantes da Igreja no meio da comunidade, transmitimos muito esses valores da Igreja, no entanto, julgo ser preciso um trabalho mais aprofundado entre as paróquias, párocos, assistentes e os agrupamentos para também ficarmos capacitados para conseguirmos cumprir melhor essa missão evangelizadora. O CNE é a maior instituição juvenil do país, logo traz uma responsabilidade à estrutura da Igreja em saber como ser guia, irmão e pai deste rebanho e nós, enquanto escuteiros, temos de ter essa disponibilidade para nos colocarmos ao serviço da Igreja. Tem que existir um equilíbrio nesta relação, sendo que nós seremos sempre um exército de paz e alegria.  

 

Em caminhada sinodal da Diocese de Lisboa, projeta alguma proposta concreta para concretizar “o sonho missionário de chegar a todos”?

Precisamos de fazer ainda muito caminho no Sínodo Diocesano 2016. Eu acho que os agrupamentos e as várias estruturas precisam de se envolver mais neste convite feito pelo Cardeal-Patriarca e temos que encontrar a melhor forma de o fazer. Temos que encontrar aqui uma forma de chegar a todos com iniciativas que sejam próprias para todas as idades. Obviamente incidirá mais nos adultos mas também desde miúdos temos que ensiná-los a não terem vergonha de serem cristãos e irem à Missa. Não temos que ter medo nem vergonha de dizer que somos escuteiros e cristãos.

 

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Perfil

João Carvalhosa é o novo Chefe da Região de Lisboa do Corpo Nacional de Escutas. Tem 41 anos, é casado e tem 3 filhos. Atualmente é assessor do conselho de administração de uma empresa. Entrou para os escuteiros com 6 anos, no agrupamento de Santa Maria de Belém, e em 1996 tornou-se dirigente.

  

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“É uma grande honra que o nosso Cardeal-Patriarca seja escuteiro. Os nossos bispos conhecem muito bem os escuteiros e, para nós, é uma honra saber que também sabem o que é acampar e conhecem a alegria de ser escuteiro. Isso é muito importante para nós. Todos os sinais que temos tido são de muito apoio, proximidade e carinho.”

João Carvalhosa

 

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Dia de São Jorge, em Cascais, reúne 7500 escuteiros

Na Região de Lisboa do CNE, a comemoração do patrono mundial do escutismo decorreu no passado Domingo, 26 de abril, no Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais. Na homilia da Missa, o Cardeal-Patriarca de Lisboa lembrou a importância de todos os escuteiros serem “bons pastores uns dos outros”. “Eu sou o Bom Pastor e o Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas”, recordou. Esta frase foi repetida pelos cerca de 7500 escuteiros da Região de Lisboa que participaram na comemoração do Dia de São Jorge, em Cascais. Na celebração eucarística, D. Manuel Clemente salientou o dever de preocupação pelo outro, que deve fazer parte da vida de cada escuta. “O escuteiro tem sempre a preocupação de dar a vida pelos outros. Só se ganha a vida quando se oferece e o escutismo é uma grande escola para nós aprendermos isto, porque no escutismo ninguém vive sozinho nem para si”, referiu o Cardeal-Patriarca, lembrando os dirigentes que oferecem as suas vidas em “entrega aos outros”. “O pior que nos podia acontecer era que não houvessem unidades escutistas e que, por isso, não houvesse tantos milhares de escuteiros como hoje aqui, que aprendem que o sentido da vida está na entrega e numa boa ação completa e permanente e que nunca se cansa”, concluiu.

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