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Nova igreja de Miraflores (paróquia de Algés) é dedicada este sábado
“O desafio é a pastoral”
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É uma igreja que a comunidade aprendeu a gostar ao ver o final da construção. A nova igreja de Miraflores, da paróquia de Cristo Rei de Algés, é dedicada este sábado, dia 30 de maio, pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, e nasce do grande crescimento populacional que este lugar teve nos anos 70 e 80. “Por mais que possa parecer desafiante construir uma igreja, os grandes desafios são sempre os pastorais”, garante o pároco.

 

Igreja da Santíssima Trindade. Assim se chama a nova igreja de Miraflores. Uma obra da paróquia de Algés, cuja primeira referência remete para 1962 mas que só nos últimos seis meses, desde novembro passado, foi possível concluir. A arquitetura exterior, por ser muito alta, não agradou a todos. Alguns apelidaram-na de foguetão, outros de cilindro e até de torre de controlo. “Inicialmente as pessoas olhavam com alguma tristeza para a construção, não gostavam da nova igreja, mas à medida que a obra ia avançando, nos últimos seis meses, começaram a ficar entusiasmadas. As pessoas sentiram muito a necessidade de ter uma igreja em Miraflores”, descreve ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco de Algés, cónego Daniel Batalha Henriques, observando que “a comunidade diz agora, com o final das obras, que a igreja está muito bonita”.

Apesar de ser muito alta, a nova igreja de Miraflores “não é muito grande no seu interior”. “Vai ter lugar para cerca de 380 pessoas sentadas”, aponta este sacerdote, salientando o objetivo da paróquia de Algés de manter diariamente aberto o novo templo que vai ser dedicado este sábado, dia 30 de maio. As celebrações na nova igreja, segundo o pároco, deverão manter-se em relação às da loja que servia de capela a este lugar: Missa diária, às 18h00, e celebração ao Domingo às 12h15.

 

Avanços e recuos

Miraflores é um lugar da paróquia de Cristo Rei de Algés. Situado na zona norte da freguesia, Miraflores “teve o seu grande crescimento urbanístico nos anos 60”, por intervenção da sociedade imobiliária Habitat, constituída para urbanizar esta zona, presidida por Joaquin Peña Mechó. “No projeto urbanístico pensado para esta zona, aparece pela primeira vez a referência a uma futura igreja, que servisse as pessoas. Ou seja, essa referência é anterior à existência da paróquia”, conta o padre Daniel, referindo que nos anos 70-80 este lugar “viu crescer muitos prédios”. Em 1984, o então pároco de Algés, cónego João Ferreira, percebeu que “não era possível ficar à espera que a construtora da urbanização avançasse com a igreja”, pelo que a paróquia “começou a movimentar-se e a fazer um projeto, uma maquete”. “Havia até um terreno em vista e avançou-se bastante, mas chegou-se a um ponto de bloqueio por causa da propriedade dos terrenos e do rio que lá passa e o projeto acabou por cair”, lembra o padre Daniel.

Em 1999, o então pároco, cónego Armando Duarte, retomou o sonho da construção de uma igreja em Miraflores. “Com o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Dr. Isaltino Morais, foi encontrado um novo terreno camarário, onde está atualmente a nova igreja, e iniciou-se o projeto da autoria do arquiteto Troufa Real, que ficou pronto em 2001”. O padre Francisco Simões, que esteve em Algés entre janeiro de 2002 e setembro de 2005, “completou a candidatura aos apoios do Estado e outros meios de financiamento”. Foi com este sacerdote que foi benzida a primeira pedra da futura igreja de Miraflores. “Em 2007, dois anos após a minha chegada, começámos a construção da igreja, que incluía igualmente a construção do centro pastoral”, refere o padre Daniel Henriques. “Arrancámos com as escavações e fizemos todo o centro pastoral, que era o mais urgente, e começámos logo a utilizá-lo, em 2008-2009. É um espaço que tem uma pequena capela provisória, sete salas grandes e uma sala/auditório, e é utilizado pela catequese, pelos grupos de jovens, pelos escuteiros, pelos CPM’s e pelos CPB’s, além de diversas atividades e momentos de convívio da paróquia”, descreve o pároco, destacando ainda “o claustro interior e o pátio exterior, propícios à convivência”.

Além do centro pastoral, esta primeira fase das obras contemplou também a estrutura do piso inferior da igreja, onde vão ficar duas capelas mortuárias e uma espécie de garagem. “E parámos por aí”, conta o padre Daniel. O projeto só foi retomado há meio ano. “Em novembro passado, retomámos as obras da igreja da Santíssima Trindade, que vai ser dedicada na Missa vespertina da Solenidade da Santíssima Trindade. Como foi pensada no ano 2000, no início do Jubileu, a nova igreja tem esta invocação”.

 

Investimento e necessidade

A paróquia de Algés teve duas fontes de financiamento para a construção da nova igreja de Miraflores: “A Câmara Municipal de Oeiras contribuiu com cerca de um terço do valor total da obra e a comunidade contribuiu com os restantes dois terços. Como foi um processo muito longo, havia algum dinheiro de lado, porque nunca deixámos de organizar iniciativas de angariação, mas estamos também a pagar um empréstimo bancário”. O padre Daniel destaca igualmente a generosidade de toda a comunidade. “As pessoas achavam que nunca mais iam ver a igreja pronta. Houve momentos de algum desânimo, mas nos últimos seis meses, com o avanço da obra, as pessoas têm-se animado e têm sido muito generosas”, reconhece, lembrando “os almoços mensais de angariação de fundos, a campanha para reunir os apoios necessários para a parte artística e mobiliário litúrgico”.

Desde há muitos anos, “talvez desde os anos 80”, que Miraflores tem o lugar de culto “numa loja cedida gratuitamente para o efeito”, para que a comunidade cristã se pudesse reunir. “É uma loja que pertence ainda aos herdeiros de Mechó, o casal católico que urbanizou Miraflores e que cedeu o espaço para a comunidade celebrar a Eucaristia”. Entre 1998 e 2002, o pároco de Algés, cónego Armando Duarte, hoje pároco dos Mártires e Sacramento, na Baixa de Lisboa, “desenvolveu muito a pastoral em Miraflores”. “Passou a ter Missa diária, catequese e agrupamento de escuteiros”, aponta.

Quando o cónego Daniel Henriques chegou à paróquia de Algés, há dez anos, a catequese em Miraflores era dada “na tal loja que servia de capela”. “Era um espaço exíguo. Os grupos de catequese continuavam a crescer e nós estávamos numa situação deplorável em termos de espaço. A catequese era logo depois da Missa e chegámos a ter três grupos dentro da sala, um em cada canto…”, lembra o pároco. “Havia uma urgência enorme de começar a construção da nova igreja e do centro pastoral”.

 

Uma zona histórica que se renova

A zona antiga de Algés era, no início do século XX, um local de veraneio e uma zona turística. “Algés tem uma zona histórica com características muito particulares. Era uma zona com muito comércio, uma autêntica ‘Baixa’, onde as pessoas se dirigiam para as suas compras, para irem à praça, para irem tratar de documentos da Segurança Social ou das Finanças. É uma zona que depois perdeu muito das suas características – hoje é um local demasiado perto de Lisboa para ser procurado. Era também uma zona de praias, em que as pessoas vinham do centro de Lisboa para passar o dia”, descreve o atual pároco, lembrando ainda “os chalés, as casas de gente rica, o teatro, a praça de touros e os clubes desportivos” que existiam antigamente em Algés.

A paróquia de Algés foi criada em 1966 e foi desmembrada da paróquia de Carnaxide. “Antes de Algés ser paróquia, Carnaxide tinha aqui a sua sede e era aqui que residia o seu pároco”, conta o padre Daniel. “Diversas quintas tinham capelas particulares, mas o lugar de culto de referência era a capela de Nossa Senhora das Graças, também ela particular, datada de final do século XIX, que pertencia a um casal, Alice e Polycarpo Anjos, que a mandou construir aquando das suas bodas de prata e a ofereceu ao Patriarcado”. A 20 de novembro de 1977 foi dedicada a atual igreja paroquial de Algés, que foi construída exatamente no mesmo lugar onde estava edificada a referida capela. “Foi um empreendimento complexo, que teve muitos problemas  - ‘apanhou’ a época do 25 de abril –, mas lá se fez a igreja”.

Algés, na Vigararia de Oeiras, pertence atualmente à União das Freguesias de Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada/Dafundo e tem cerca de 22 mil habitantes, segundo o padre Daniel. “Há um pouco a ideia de que Algés é uma zona envelhecida. É verdade que as pessoas de Algés foram envelhecendo, mas a zona histórica está a ter uma renovação de gerações. Os apartamentos estão a ser remodelados, por netos de pessoas que faleceram ou por casais jovens que estão a comprar estas casas e a renovar a parte antiga de Algés”. O pároco diz que se começou a aperceber desta renovação “nos processos de batismo”. “Nos dias de hoje, metade dos pais que batizam os filhos moram em Algés e a outra metade em Miraflores”, salienta.

 

Parcerias

A paróquia de Cristo Rei de Algés tem cerca de 550 crianças e adolescentes na catequese, em dois centros (Algés e Miraflores), para 60 catequistas. Esta é uma paróquia com dois agrupamentos de escuteiros, “os dois cheios, com mais de 100 elementos cada”. A nível juvenil, o grupo de jovens envolve a juventude com idades entre os 15 e os 25 anos.

De acordo com o pároco, “alguma população de Algés passa por carências”. O Centro Social Paroquial “é muito antigo”, foi criado em 1985, e tem as valências de centro de convívio para idosos, “que funciona no salão paroquial, um equipamento da paróquia que fica a meio caminho entre Algés e Miraflores”. Tem também um gabinete de atendimento social, com assistente social “que coordena uma série de respostas sociais”. O ‘Lado a lado’ é um projeto de apoio à família, “que funciona há seis/sete anos e que tem sido requisitado, sobretudo, para o acompanhamento de apoio domiciliário a idosos e pessoas dependentes”. O ‘Programa Raízes’ procura “minorar a solidão” e a Conferência Vicentina presta apoio alimentar a mais de 100 famílias, “o que representa cerca de 400 pessoas”. “Temos uma excelente relação de coordenação e de parcerias locais, a nível social. Estamos presentes também no projeto ‘Nisa - Núcleo de Intervenção Social de Algés’, da freguesia, que é uma ação de resposta imediata, e muito eficaz, junto dos casos de maior necessidade”, refere o pároco, salientando ainda “o bom trabalho com diversas instituições locais”.

 

Aumentar a prática dominical

Neste sábado, na Missa vespertina da Solenidade da Santíssima Trindade, a paróquia de Algés vê ser dedicada a nova igreja de Miraflores. Mas os desafios não ficam por aqui. “Os grandes desafios são sempre os pastorais. Por mais que possa parecer um grande desafio construir uma igreja, estamos a falar de pedras, de trabalho de engenheiros e arquitetos. De facto, não há dúvida que consolidou-se uma comunidade paroquial, mas os grandes desafios são o sentido de comunhão e de unidade de toda a paróquia. Há um grande desafio que é de facto as pessoas sentirem-se corresponsáveis pela construção da Igreja. Ainda há hábitos de algum comodismo, de um consumismo espiritual e eclesial”, manifesta o padre Daniel Henriques.

Sublinhando que a paróquia de Algés tem “cristãos leigos muito empenhados, bem formados e muito conscientes da sua missão”, o pároco reconhece que “a prática religiosa é muito baixa, porque há também muitas pessoas que frequentam outras paróquias da zona”. Questionado se a nova igreja da Santíssima Trindade de Miraflores pode inverter este paradigma, este sacerdote acredita que o templo pode impulsionar a evangelização. “A nova igreja vai, certamente, trazer mais pessoas à Igreja. Gostaria muito que houvesse pessoas que habitualmente não vêm à Missa que agora começassem a vir”, deseja o pároco de Algés.

 

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Um fim-de-semana de festa

A paróquia de Cristo Rei de Algés está este fim-de-semana em festa, com a bênção e dedicação da igreja da Santíssima Trindade de Miraflores neste sábado, dia 30 de maio, às 17h00, numa celebração que vai ser presidida pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Este Domingo, 31 de maio, vai ser “o dia da comunidade”, salienta o pároco de Algés. “Teremos Missa na nova igreja, às 12h15, em que vamos rezar especialmente por aquelas pessoas que já faleceram e que estiveram mais ligadas à construção da igreja de Miraflores. Haverá depois o almoço comunitário, de família, oferecido pela paróquia, em que as pessoas trazem as sobremesas e as entradas, e um momento cultural. Entre as 17h00 e as 18h00, teremos Adoração do Santíssimo, organizada pelos jovens. À noite, a partir das 21h00, a procissão das velas começa na igreja paroquial de Algés e termina na nova igreja da Santíssima Trindade de Miraflores”, descreve o cónego Daniel Batalha Henriques.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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