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A. Pereira Caldas
Fátima e a Paz
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Em 13 de Maio, Fátima foi, outra vez, Altar do Mundo. Já passaram mais de duas semanas, mas falar de Fátima nunca é tempo perdido. Sobretudo porque, se outros motivos não houvesse, existe entre a Virgem e a Paz uma ligação indelével muito especial. E foi um veemente apelo à Paz que, há quase um século, Maria transmitiu ao mundo pela voz dos Pastorinhos – uma mensagem de enorme significado num momento particularmente difícil que mundo então vivia.

Daí para cá, Fátima repete-se como um grito de esperança. E neste 13 Maio, lá estiveram, como sempre, milhares e milhares de peregrinos portugueses e estrangeiros, todos irmanados no espírito desse apelo lançado há noventa e oito anos da Cova de Iria.

Um século, é verdade, mas infelizmente, um século em que, verdade é também, o apelo da Virgem quase se perdeu na realidade pantanosa, difusa e contraditória em que se move a consciência humana. Basta olhar à nossa volta – e o que vemos? Vemos guerras e guerrilhas, lançando a morte e a miséria um pouco por toda a parte; e vemos assassinatos bárbaros em nome de um deus que de deus nada tem; e vemos violência gratuita ao dobrar da esquina mais próxima da nossa rua. Vemos isto – e vemos ódios e vinganças inexplicáveis à luz de qualquer sentimento de raiz humana.

E não vemos mais porque fugimos do mais que não queremos ver.

É, por isso, fundamental e urgente recuperar o apelo de Fátima ao mundo e procurar fazer do seu imenso significado para a humanidade a fonte de onde devem beber todos os que acreditam que a Paz não é, não pode ser, um sonho ou um mito.

Porém, os homens de hoje, mesmo muitos dos que se afirmam católicos, deixaram para trás valores fundamentais da sua existência e embrenhados, perdidos até, na confusão dos conceitos sociais, económicos e políticos em voga, parecem incapazes de assumir o papel que se lhe exige. E não deixa de ser um estranho paradoxo a facilidade com que se encontra, entre eles, quem ambicione guindar-se à condição de deus – de um deus que o serviria em vez de ser servido…

Não pensemos, contudo, que existir Paz depende apenas da força dos nossos apelos. Não. É essencial que cada um de nós consiga empreender a sua própria luta pela Paz interior – e vencê-la. Porque só assim, de vitória em vitória individual, a Paz será possível como uma realidade transversal ao mundo.

E é na nossa consciência que se trava essa batalha crucial.