Karachi é uma das maiores cidades do mundo. Um dos seus bairros mais pobres é Essa Nagri, também conhecido como a “Cidade de Jesus”. Por lá vivem cerca de 40 mil pessoas. São quase todos cristãos e andam assustados. Nos últimos tempos, há cada vez mais episódios de violência. A comunidade cristã vive dias de terror.
Essa Nagri é um bairro de lata, como há tantos no mundo. Ruas estreitas, cobertas de pó, casas atamancadas, becos escondidos, negócios de rua. Violência. No Paquistão confunde-se a condição de pobre com a de cristão. Em Essa Nagri, não há confusão possível. Praticamente todos os cristãos vivem no limiar da pobreza. O desemprego é muito elevado assim como o analfabetismo. É fácil encontrar crianças a vaguear pelas ruas, apesar de ser perigoso.
Os pais de Kala Masih nunca mais se vão esquecer do dia em que o filho desapareceu. Masih brincava na rua quando um grupo de homens armados o raptou. Ficaram todos em pânico com o seu desaparecimento. Ao fim de poucas horas, a família recebeu o pedido de resgate. É quase sempre assim.
Medo das represálias
Extremamente pobres, os pais de Masih não tinham qualquer possibilidade de pagar o resgate. Foram salvos por uma ONG cristã que actua na região e que convenceu os raptores a libertarem o menino. Esta foi, apesar de tudo, uma história com final feliz. Porém, os pais nunca apresentaram queixa. Tiveram medo de represálias.
Na cidade de Karachi o medo anda à solta, tal como grupos de mafiosos, de terroristas. Há assassinos que são contratados para executarem “trabalhos”. O valor da vida humana está em saldo. Recebem uma fotografia com o alvo a abater e à noite enviam o cadáver. Nos últimos anos a insegurança tem sido muito grande. Os cristãos que o digam.
Vida miserável
Essa Nagri é como que uma ferida aberta num corpo doente que é a imensa urbe. D. Joseph Coutts, o Arcebispo de Karachi, diz que “podíamos chamar-lhe um bairro de lata ou, por outras palavras, uma determinada parte da cidade onde vive um grande número de pessoas pobres”. A vida no bairro de Essa Nagri é a metáfora perfeita para os cristãos neste país. Muito pobres, estão condenados a uma existência miserável.
Verdadeiro calvário
Esta “Cidade de Jesus” esconde dramas inimagináveis. A pobreza e o analfabetismo ampliam o terror quotidiano de milhares de pessoas. Há menos de 3 anos, um político cristão, Michael Javed, afirmou que em Essa Nagri famílias inteiras vivem um autêntico calvário. No meio da confusão das casas e barracas, das ruas estreitas e poeirentas, há autênticas “celas de tortura” onde são detidas e violadas meninas cristãs. É um negócio. “Para elas – diz Michael - pede-se um resgate até 100 mil rupias e, se as famílias não podem pagar, elas são torturadas até ficarem irreconhecíveis.” Ou então, são forçadas a prostituir-se. Apesar de tudo isto, deste terror quotidiano, quase ninguém denuncia o que acontece às autoridades. É o medo, sempre o medo a imperar. Mesmo quando as crianças são violadas, mesmo quando as famílias ficam sem recursos. Mesmo quando são obrigadas a fugir. Ninguém faz queixa. É um verdadeiro silêncio dos inocentes.
Limpeza étnica
Há como que uma limpeza étnica em curso. Michael não tem dúvidas. “O objetivo da violência é eliminar a presença cristã da área: somos considerados escravos, indignos de pisar o solo paquistanês.” Para combater este calvário, a Igreja tem procurado combater a pobreza, criando estruturas assistenciais, abrindo escolas, ajudando na promoção dos indivíduos. Um dos sacerdotes mais activos neste combate pela promoção social dos cristãos na “Cidade de Jesus” é o franciscano Victor John, cujo trabalho é apoiado pela Fundação AIS. “Normalmente estas pessoas trabalham nas limpezas, mas são todas mal pagas. Como vivem sob pressão, muitos já se tornaram toxicodependentes.” A droga e o álcool é uma maneira de procurarem escapar a esta realidade terrível.
Construir o futuro
A “Cidade de Jesus” continua a ser um bairro de lata no meio de Karachi. Os seus habitantes vivem dias de medo, de provação. Continuam tão aterrorizados que nem denunciam a violência que bandos de malfeitores exercem contra eles. Muitas vezes apenas por serem cristãos. Mas continuam a afirmar a sua fé, a justificar o nome por que o bairro é conhecido. O padre Victor John é um homem de coragem mas precisa da nossa ajuda. “Nós, cristãos, temos esperança de que o destino do Paquistão e de Karachi vai mudar. Assim como o destino de Essa Nagri. Felizmente temos a sorte de a Fundação AIS estar a ajudar-nos...”
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