28.06.2015
Papa |
A uma janela de Roma
Violência doméstica deixa “marcas para a vida”
O Papa Francisco dirigiu-se novamente aos casais, pedindo-lhes para pensarem nos filhos. Na semana em que foi apresentado o documento de trabalho do Sínodo da Família, o Papa visitou Turim, recordou bispos sírios e encontrou-se com biblistas.
1. O Papa alertou para as consequências da violência doméstica na vida dos filhos. Na habitual audiência-geral da passada quarta-feira, dia 24 de junho, Francisco voltou a falar da família e alertou para as feridas do divórcio e das discussões entre pai e mãe provocam. “Quando os adultos perdem a cabeça, quando cada um só pensa em si ou quando o pai e mãe se ofendem a alma das crianças sofre muito e experimenta o desespero. São feridas que deixam uma marca para a vida”, declarou, perante milhares de pessoas na Praça de São Pedro.
O Papa lembra que na família tudo está ligado, por isso, quando a sua alma é ferida de algum modo, a infeção contagia todos. Quando os membros do casal pensam “obsessivamente nas suas próprias exigências de liberdade e gratificação”, essa “distorção afeta profundamente o coração e a vida dos filhos”. Francisco sublinhou que o “esvaziamento do amor conjugal” gera “ressentimento nas relações” e “desemboca em lacerações profundas que dividem marido e mulher”, com “palavras, ações e omissões que, em vez de exprimir amor, o corroem e, pior ainda, mortificam-no”. “Tantas vezes as crianças escondem-se para chorar, sozinhos, tantas vezes”, lamentou. Nesse sentido, o Papa recordou aos casais a “grave responsabilidade” de salvaguardar o “vínculo conjugal”, pedindo aos pais que não procurem solucionar os problemas com presentes.
No final da audiência, o Papa Francisco encontrou-se com os familiares dos estudantes da Universidade Lusófona que morreram afogados, no Meco, a 15 de dezembro de 2013, prometendo que rezaria por eles.
2. O documento de trabalho do próximo Sínodo dos Bispos sobre a Família, em outubro, foi divulgado esta terça-feira, dia 23, e tem como tema ‘A Vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo’. Elaborado a partir de contributos das dioceses do mundo inteiro, o documento de trabalho retoma as preocupações do sínodo anterior. Na própria conferência de imprensa de apresentação ficou patente que as questões que ocuparam o Sínodo da Família do ano passado são os mesmos que darão que falar em outubro.
O documento, com 32 páginas e 147 pontos, resumido pelos três principais responsáveis do sínodo, afunilou – como aconteceu no sínodo anterior – à volta das questões mais polémicas: homossexuais, contraceção e acesso à Eucaristia por parte dos divorciados que voltaram a casar. “Há muitas proibições disciplinares que têm fundamento, mas há que rever um pouco alguns casos concretos, para ver se alguns desses muros podem ser abatidos para os transformar em pontes. Eu creio que na próxima assembleia será considerado tudo isso”, disse o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do sínodo, que deseja uma eventual abertura. No mesmo sentido se exprime o secretário especial deste sínodo, o arcebispo Bruno Forte: “Esta integração chega ao ponto de dizer que pessoas em situação irregular ou difícil podem ser admitidos à comunhão eucarística? Esta é uma pergunta a que o sínodo quer dar resposta. Por isso, não existe um ‘não’ preconceituoso, mas uma reflexão em curso, porque temos de ouvir os bispos de todo o mundo e apresentar ao Papa o resultado das suas avaliações e decisões”. Opinião diferente, e sem apontar reformas, manifesta o cardeal Peter Erdo, relator geral do sínodo: “A questão central destes sínodos é sobre o que é o cristianismo, cujo ensinamento é bastaste reconhecido. E vemos, justamente nesta tradição disciplinar, que o ensinamento de Jesus sobre o adultério é um ensinamento muito exigente e até mesmo escandaloso na sua época”.
A assembleia geral do Sínodo dos Bispos realiza-se de 4 a 25 de outubro, no Vaticano. Portugal vai estar representado pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, e pelo Bispo de Portalegre-Castelo Branco, D. Antonino Dias.
3. Francisco visitou, durante dois dias, Turim. “Somos chamados a reafirmar o ‘não’ a uma economia do desperdício, que pede para se resignar à exclusão daqueles que vivem em pobreza absoluta”, afirmou o Papa Francisco, à chegada à cidade italiana, no Domingo, 21 de junho. Durante o encontro com representantes de trabalhadores, Francisco apelou a que se diga “não” à “idolatria do dinheiro” e “à corrupção, tão espalhada que parece ser uma atitude e um comportamento normal. ‘Não’ aos conluios mafiosos, às fraudes, aos subornos e coisas do género!”, continuou.
O Papa encontrou-se ainda com os jovens, pedindo-lhes para privilegiarem a ação e a obra, em vez das simples palavras. Nesta visita a Turim, o Papa rezou diante do Santo Sudário, dando assim continuidade à tradição de visitas papais à relíquia guardada na catedral da cidade. Diante do misterioso lençol de linho, com marcas de sangue, venerado como sendo a mortalha que envolveu o corpo de Cristo no Sepulcro, Francisco deteve-se vários minutos em silêncio.
Na segunda-feira, dia 22, o Papa pediu perdão à Igreja Valdense por "comportamentos não cristãos" do passado. A visita à Igreja Evangélica Valdense em Turim foi histórica, uma vez que Francisco tornou-se no primeiro Papa a entrar num templo desta denominação cristã nascida no século XII. O Papa foi acolhido pelo pastor desta comunidade, que salientou que Francisco ultrapassou um muro de 800 anos de excomunhão.
4. O Papa Francisco recordou, dia 19 de junho, os dois bispos sírios que foram raptados há mais de dois anos, no contexto da guerra-civil da Síria. Num encontro com o patriarca ortodoxo siríaco de Antioquia, Mor Inácio Aphrem II, no Vaticano, Francisco sublinhou as dificuldades pelas quais os cristãos têm passado, e continuam a passar, no Médio Oriente.
5. Perante a Federação Bíblica Católica, o Papa lembrou que uma comunidade quando se fecha em si mesma e se esquece que foi enviada a anunciar o Evangelho enfraquece, adoece e morre. Recordando as dioceses do norte de África, no tempo de Santo Agostinho, Francisco observou que “existem dois modos, duas maneiras de morrer: ou morrer fechado em si mesmo, ou morrer oferecendo a vida como testemunho. E uma Igreja que tem a coragem, a paresia, de levar em frente a Palavra de Deus e não se envergonha, está no caminho do martírio”.
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