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Egipto: onde estão as raparigas cristãs raptadas?
O pesadelo de Martha
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São raptadas, violadas e vendidas. Ser-se rapariga e cristã é uma condição de risco no Egipto nos dias de hoje. Este é um tema tabu, quase ninguém quer falar sobre isto, mas há muitas famílias em lágrimas porque as suas filhas desapareceram…

 

Desde que a filha de Martha Said Yacoub desapareceu, que a vida deixou de fazer sentido para esta mulher. O que será feito dela? “Quero falar com a minha filha, quero ouvir a sua voz, quero saber se ela está viva ou não…” Martha não conhece Makram Kamel, apesar de ele também desconhecer onde está a sua filha, o seu “tesouro”. Nadia Said tinha 14 anos quando foi à igreja, com o pai, o que acontecia quase todos os dias. Tinham acabado de se benzer, a Missa estava a começar. O telemóvel tocou e ele fez-lhe sinal de que ia lá fora atender a chamada. Podia ser importante. Ela assentiu com a cabeça e continuou atenta às palavras do padre. Foram poucos segundos de ausência. “Quando regressei, a Nadia tinha desaparecido. Saí e procurei-a por todo o lado, pelas ruas. De repente, disseram-me: a tua filha foi raptada!”

 

A história de Maria

Não há números oficiais e quase ninguém quer falar no assunto. O rapto de raparigas cristãs é quase tabu no Egipto. Normalmente, nunca mais regressam às suas famílias. É como se morressem. As meninas cristãs raptadas são levadas para locais desconhecidos onde, são violadas repetidamente, drogadas e, após algumas semanas de tortura, são coagidas e chantageadas a converterem-se ao Islão.

Maria – chamemos-lhe assim – foi raptada no auge das perseguições aos Cristãos no tempo do presidente Morsi, da Irmandade Muçulmana, em 2012. Ao contrário do que acontece quase sempre, Maria conseguiu fugir dos seus raptores. Hoje vive quase clandestinamente, numa casa gerida pela Igreja na Arquidiocese Católica de el-Minya. A simples ideia de sair à rua aterroriza-a. Maria procura esquecer os dias de medo e de lágrimas que passou quando a levaram de casa de seus pais. Ela não se quer lembrar, mas não consegue esquecer o que aconteceu nesses dias. “Não podia comer, nem beber, nem dormir. Tudo o que eles queriam era drogar-me e violar-me. Outro grupo de homens veio e levou-me. Fiquei com eles cinco dias. Não sei como sobrevivi. Pelo menos cinquenta homens violaram-me durante esse mês. E, pelo facto de ser cristã, não se fez nada.”

 

Venda das raparigas

A passividade das autoridades é criminosa. Os Cristãos sentem-se ultrajados e diminuídos. É como se o mundo estivesse a conspirar contra eles. Mesmo agora, quando os militares tomaram conta do poder, destituíram e prenderam o presidente Morsi e tornaram a Irmandade Muçulmana ilegal, os raptos de meninas e jovens cristãs continuam a ocorrer. E a polícia continua a não agir. Martha foi participar o rapto da sua filha ao ministério público. “A polícia veio a minha casa, agrediu-nos e revistou tudo. Fui obrigada a sair porque o procurador me disse, literalmente, que ‘acabariam connosco’. Devia ter ficado calada. Tenho de aceitar o rapto da minha filha.”

O rapto e a conversão das raparigas ao Islão é algo de dramático. A reversão ao Cristianismo é praticamente impossível. Depois de terem assumido, mesmo sob coação, que se converteram ao Islão, estas raparigas não podem voltar a afirmar-se como cristãs. O castigo é a morte. Mas estes raptos representam também um mundo obscuro de contrabando de mulheres, um negócio que é financiado por apoiantes islâmicos de outros países. Uma menina pode valer até cerca de 10 mil euros, dependendo da sua aparência e posição social.

 

O papel da Igreja

O rapto das jovens egípcias é terrível. As que conseguem fugir das garras dos seus captores ficam marcadas para o resto das suas vidas. A sociedade olha para elas com desconfiança. Ficam desonradas. Não raras vezes a própria família não as volta a acolher. Muitas vezes ocorrem os chamados “assassinatos de honra”. O papel da Igreja é fundamental no acolhimento destas jovens. A Fundação AIS apoia algumas casas onde estas raparigas são abrigadas. Se não fosse isso, elas estariam literalmente abandonadas à sua sorte.

Desde que a sua filha desapareceu, Martha vive dias de pesadelo. Pensa nela a todas as horas, e os seus lábios e o seu coração murmuram orações angustiadas à espera de um milagre.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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