Lisboa |
Paróquia de Porto Salvo vai dedicar nova igreja
Uma igreja que convida à oração
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Foram anos e anos a lutar contra a incredulidade das pessoas. Em Porto Salvo, Oeiras, foram muito poucos os que acreditaram na construção da igreja, após a criação da paróquia, em 1985. Neste Domingo, 26 de julho, a nova igreja de São Joaquim e Santa Ana de Porto Salvo vai ser benzida e dedicada pelo Cardeal-Patriarca.

 

Um grande painel apostólico – com Cristo ao centro, de braços abertos, em atitude de acolhimento, ladeado à esquerda e à direita pelos 12 apóstolos – é uma das esculturas que marcam a nova igreja de Porto Salvo, na Vigararia de Oeiras. “A Igreja apostólica é, para mim, a visão que eu tenho da Igreja. Jesus deu a cada um dos apóstolos uma missão e nós hoje temos que viver essa missão como expressão do desejo que Jesus nos trouxe. Como batizados, temos de sentir que temos uma missão a cumprir, tal como aqueles 12. Nós somos os continuadores dessa vida apostólica; por isso, este painel é, a meu ver, o sintoma do fundamento – porque sobre eles foi fundada a Igreja – e é a projeção do futuro que todo o cristão deve ter presente na sua vida”, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco de Porto Salvo, padre Abílio Lucas, autor da ideia de criação do painel apostólico.

A nova igreja de São Joaquim e Santa Ana de Porto Salvo vai ser dedicada este Domingo, 26 de julho, pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, numa celebração marcada para as 15h00. O padre Abílio mostra-se muito satisfeito com o templo, salientando ser uma igreja que convida à oração. “Depois de ver colocado o painel apostólico, e as esculturas de São Joaquim, Santa Ana e Nossa Senhora encimados pelo Espírito Santo, sinto que o espaço já me ajuda e convida a rezar. O que mais peço, por intercessão de São João Paulo II e Santa Beatriz da Silva – santos cujas relíquias estarão presentes por baixo do altar desta nova igreja –, é que todos sintam este desejo e esta necessidade de rezar. Foi para isso mesmo que o espaço foi pensado”, observa este sacerdote, desejando igualmente “uma comunidade orante”. “Sem oração não conseguimos ser verdadeiros discípulos de Cristo”, garante o pároco de Porto Salvo.

 

Experiência de vida

O padre Abílio Lucas, de 64 anos, chegou à paróquia de Porto Salvo em setembro de 2009. Nomeado por D. José Policarpo, este sacerdote lembra-se bem do desafio que o então Cardeal-Patriarca de Lisboa lhe lançou: construir a nova igreja. “O senhor D. José pediu-me para ‘desencalhar’ e avançar com o projeto da nova igreja de Porto Salvo”, recorda. No pensamento do Cardeal-Patriarca estaria a experiência profissional do padre Abílio como administrador de empresas, durante mais de 25 anos. “As últimas empresas onde fui administrador eram de construção e obras públicas. Acredito que a minha nomeação para Porto Salvo procurava ser uma mais-valia pela minha experiência profissional”, sustenta.

Ordenado sacerdote em 2008, então com 57 anos, o padre Abílio tinha-se licenciado em Economia e construído uma carreira na administração empresarial. A vocação, ressalva, “não é tardia, nasceu aos 12 anos”. “Cresci num berço católico, mas era o filho último e o pai achava que eu tinha jeito para as contas e que devia ser Ministro das Finanças, como o Salazar, segundo ele. Pelo meu sentido de obediência ao pai, não fui para o seminário e foi um projeto adiado e uma travessia do deserto durante 40 anos”, partilha este sacerdote.

 

“Ele vence tudo”

Porto Salvo é uma freguesia do concelho de Oeiras, com 7,35 quilómetros quadrados de área e 15.157 habitantes, segundo os Censos de 2011. Números que pecam por escassos, segundo o pároco. “Hoje em dia estamos a falar de mais de 16 mil pessoas, porque houve bairros que cresceram”.

A paróquia de Nossa Senhora de Porto Salvo foi fundada a 1 de janeiro de 1985, pelo Cardeal Ribeiro, desanexada de Oeiras e São Julião da Barra, e tem atualmente seis comunidades, todas elas dedicadas a Nossa Senhora. “Como esta é uma paróquia com ‘seis’ Nossas Senhoras, nada melhor do que dedicar a nova igreja aos pais de Maria, São Joaquim e Santa Ana, como sugeriu o senhor Capelo, que foi juiz da Irmandade de Nossa Senhora de Porto Salvo”, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE Carlos Almeida, que mora em Porto Salvo há 35 anos e é, desde há cinco anos, juiz da Irmandade de Nossa Senhora de Porto Salvo. Tinha 15 anos quando foi morar para esta terra do concelho de Oeiras e recorda-se bem da criação da paróquia. “Lembro-me perfeitamente, até porque 1985 foi o ano em que casei! Já desde essa altura que se faziam peditórios para a nova igreja. A minha mãe faleceu há alguns anos e recordo-me perfeitamente de ela falar de uma verba que se dava no final das Missas para a construção da igreja nova”, conta Carlos. Este leigo diz que “havia vontade nas pessoas de ter uma igreja nova”, mas ao mesmo tempo “sentia-se que era muito difícil”.

Este sentimento de incredulidade face ao projeto de um novo templo em Porto Salvo, segundo o pároco, “permaneceu mesmo com o início das obras”. “Ouvi muitas vezes: ‘Não, ainda não é desta vez…’ ou ‘Ele pensa que vai arrancar com isto mas não vai ser capaz’ ou ainda ‘Já muitos tentaram antes dele’. Houve até quem me dissesse, após o início da obra: ‘Andam lá as máquinas mas aquilo é só para fingir’. Estas eram as conversas habituais, na freguesia. As pessoas não acreditavam. Quando arrancou a construção, as expressões mudaram para: ‘Vamos ver se chega ao fim’”, recorda o padre Abílio, lembrando a forma como procurava responder às pessoas: “Se o projeto for bom aos olhos de Deus, Ele vence tudo. Se não for agradável aos olhos de Deus, também não faz falta nenhuma”.

 

O contributo da Irmandade

Em 2009, quando o padre Abílio chegou a Porto Salvo, não havia projeto para a nova igreja. “Partimos do zero. No tempo do padre Major houve projetos, no tempo do padre António Pinto Leite houve projetos, no tempo do padre José Luís houve projetos… mas nunca foi possível avançar”, ressalva o pároco, lembrando que pegou neste dossiê cerca de duas-três semanas após a tomada de posse como pároco. Há seis anos atrás, foi desde logo constituída uma equipa de voluntários, composta por arquitetos, engenheiros, advogados, paroquianos ligados à construção e pela Irmandade. “Foi esta equipa que, a título gracioso, me ajudou em todas as fases, desde o convite aos gabinetes de arquitetura até à elaboração do caderno de encargos”, aponta o padre Abílio.

A área onde se ergue a antiga igreja de Porto Salvo, uma ermida do século XVI, e também a nova igreja, tem cerca de 22 mil metros quadrados. “Para se construir a nova igreja foram destacados 9 mil metros quadrados e foi vendida a restante área, de mais de 12 mil metros quadrados, à Câmara Municipal de Oeiras, por 2,8 milhões de euros”, revela Carlos Almeida. A nova igreja de Porto Salvo é propriedade da Irmandade de Nossa Senhora de Porto Salvo. “Esta Irmandade vem do tempo do início da ermida. Estes terrenos foram doados à Irmandade pelo rei D. João III”, refere o juiz desta Irmandade, que conta com mais de 100 elementos.

O projeto do novo templo, da autoria da CAS Arquitetos, foi escolhido entre três, em 2013. O pároco revela que, “ao nível da construção e equipamento, o projeto envolve cerca de 3 milhões de euros. Se incluirmos o preço do terreno, estamos a falar de um projeto que pode valer 6 a 7 milhões”, frisa, salientando “não haver empréstimo bancário” para a construção da nova igreja de Porto Salvo.

 

Uma igreja aberta

O novo complexo paroquial em Porto Salvo divide-se em três: a Praça São João Paulo II, com a estátua dedicada ao Papa polaco (ver caixa), uma grande cruz e o carrilhão com três sinos de bronze, a igreja propriamente dita, com cerca de 380 lugares sentados, e os espaços anexos, com quatro gabinetes para o cartório e acolhimento, as reuniões, a Irmandade e o pároco, três sacristias, sendo uma a principal e duas para os acólitos e a Irmandade, um espaço para a pastoral social, duas alas de catequese, com sete salas para a infância e mais três para a adolescência, diversas salas de apoio aos movimentos e grupos da paróquia, um auditório para 300 pessoas sentadas, duas capelas mortuárias, diversas salas de arrumações, a residência paroquial, que pode receber dois sacerdotes, e uma garagem para 15 a 20 carros. O espaço do piso superior, dotado de todas as infraestruturas, vai ser oferecido pela Irmandade ao Centro Social Paroquial. “A igreja vai estar aberta todo o dia, de forma a permitir que as pessoas venham rezar”, garante o padre Abílio, revelando ainda os novos horários das Eucaristias: “No sábado, teremos Missa vespertina, às 18h00, e no Domingo, haverá celebrações às 9h00 e às 11h30. De semana, teremos Eucaristia de terça a sexta-feira, às 9h00”.

A paróquia de Porto Salvo tem cerca de 200 crianças e adolescentes na catequese. A partir do próximo ano pastoral, com a inauguração da nova igreja, toda a catequese paroquial vai passar a decorrer ao Domingo de manhã, às 10h30, com a Eucaristia uma hora depois. “Será um novo modelo de catequese, que procura responder à ansiedade de muitas famílias. Desejo que as pessoas se continuem a aproximar da paróquia e que o número de crianças na catequese suba no próximo ano”, frisa o pároco.

 

Alegria

A poucos dias da dedicação da nova igreja de Porto Salvo, o juiz da Irmandade de Nossa Senhora de Porto Salvo, Carlos Almeida, garante que “o sentimento entre os irmãos é de muita alegria e satisfação” pela conclusão da obra. A alegria é extensiva ao pároco, padre Abílio Lucas: “Sinto-me indigno desta maravilha que aconteceu. Este é um projeto de Deus para as pessoas. Eu fui apenas um instrumento de que Ele se serviu para dar alegria à comunidade”.

 

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Inauguração da Estátua São João Paulo II

Tem 5,20m de altura, é feita de alabastro e está a ‘acolher’ aqueles que chegam à nova igreja de Porto Salvo. Situada numa praça com o nome do Papa polaco, a Estátua São João Paulo II, da autoria de Carlos Oliveira, autor da Cruz da Teologia do Corpo e que pertence às Equipas de Nossa Senhora, foi inaugurada no passado Domingo, dia 19, numa celebração que o pároco de Porto Salvo considerou ser “um aperitivo” para “a grande festa” da dedicação da igreja de São Joaquim e Santa Ana, neste Domingo, 26 de julho. “Sempre que invoquei João Paulo II para este projeto, senti que a mão dele estava a interceder”, garante o padre Abílio ao Jornal VOZ DA VERDADE.

 

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Angariar fundos pelas pedras

“A pedra número 1 é do senhor Patriarca, a número 2 é do senhor D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa, a número 3 é do senhor presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Dr. Paulo Vistas, e a 4 é a minha”, refere o pároco de Porto Salvo, padre Abílio Lucas, referindo-se à iniciativa de compra das pedras numeradas (entre 1 e 1044) que preenchem o chão da nova igreja de Porto Salvo e que têm um custo unitário de 250 euros. “Chamar os paroquianos a sentir que este espaço é deles foi um dos objetivos desta iniciativa. As pessoas têm aderido e estamos neste momento com cerca de 500 pedras vendidas, no total de 1044, que representam qualquer coisa como 125 mil euros. É significativo e mostra a vontade que este povo tinha de ver construída a sua igreja”, aponta o sacerdote, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

“Oração em Missas de sufrágio e Missa pelos benfeitores e seus familiares” são a garantia de pagamento deste ‘investimento’ na pedra. “O benfeitor garante que tem a paróquia a rezar por si e pela sua família, em especial no dia 26 de julho, que vai ser o dia da dedicação e em que é celebrado o orago, São Joaquim e Santa Ana”, explica o pároco, destacando igualmente que “os benfeitores recebem ainda um certificado”.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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