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Bispos portugueses encontraram-se com o Papa Francisco
“Não pode deixar de nos preocupar a todos esta debandada da juventude”
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O Papa Francisco considera que a Igreja em Portugal é “serena”, “solidária e solícita”, mas alerta para a “debandada da juventude”. Num encontro com os bispos portugueses, que decorreu na manhã do passado dia 7 de setembro, na Sala Clementina, no Vaticano, o Papa exortou ainda os prelados a prosseguirem “no empenho duma constante e metódica evangelização”.

 

Foi um Papa sorridente aquele que recebeu os bispos portugueses, em visita ad limina. Na sua intervenção, Francisco começou por apelar à esperança cristã. “Quando as dificuldades parecem ofuscar as perspetivas de um futuro melhor, quando se experimenta o falimento e o vazio em redor de nós, é o momento da esperança cristã, fundada no Senhor ressuscitado e acompanhada por um amplo esforço caritativo em favor dos mais necessitados. Muito me alegra ver a Igreja em Portugal solidária e solícita com a sorte do seu povo”, observou.

 

Retratos

Perante o episcopado nacional, o Papa fez o seu retrato da Igreja em Portugal. “Dos vossos relatórios quinquenais, pude deduzir, com verdadeira satisfação, que as luzes sobrepujam as sombras: a Igreja que vive em Portugal é uma Igreja serena, guiada pelo bom senso, escutada pela maioria da população e pelas instituições nacionais, embora nem sempre seja seguida a sua voz; o povo português é bom, hospitaleiro, generoso e religioso, ama a paz e quer a justiça; há um episcopado fraternalmente unido; há sacerdotes, preparados espiritual e culturalmente, que desejam dar um testemunho cada vez mais coerente de vida interior realizada de modo evangélico, enquanto enraizada na oração e na caridade; há consagrados e consagradas, que, fiéis ao carisma dos respetivos fundadores, manifestam à sociedade contemporânea o valor perene da sua entrega total a Deus mediante os conselhos evangélicos da pobreza, da castidade e da obediência, e colaboram na pastoral de conjunto de cada uma das Igrejas particulares; há leigos que exprimem, com a sua vida no mundo, a presença eficaz da Igreja para a autêntica promoção humana e social da Nação”, observou, exortando os bispos a prosseguirem “no empenho duma constante e metódica evangelização, bem convictos de que uma formação autenticamente cristã da consciência é de extrema e indispensável ajuda também para o amadurecimento social e para o verdadeiro e equilibrado bem-estar de Portugal”. “Com viva confiança em Deus, não percais a coragem perante situações que suscitam perplexidade e vos causam amargura, tais como certas paróquias estagnadas e necessitadas de reavivar a fé batismal, que acorde no indivíduo e na comunidade um autêntico espírito de missão; paróquias por vezes centradas e fechadas no «seu» pároco às quais a carência de sacerdotes, para além do mais, impõe abertura a uma lógica mais dinâmica e eclesial na comunhão; alguns sacerdotes que, tentados pelo ativismo pastoral, não cultivam a oração e a profundidade espiritual, essenciais para a evangelização; um grande número de adolescentes e jovens que abandonam a prática cristã, depois do sacramento do Crisma; um vazio na oferta paroquial de formação cristã juvenil pós-Crisma, que muito poderia obstar a futuras situações familiares irregulares; enfim, necessidade de conversão pessoal e pastoral de pastores e fiéis até que todos possam dizer com verdade e alegria: a Igreja é a nossa casa”, manifestou.

 

Encontrar Jesus

Neste encontro no Vaticano, o Papa mostrou-se preocupado com o que chamou de “debandada” da Igreja por parte da juventude. “Meus amados irmãos, não pode deixar de nos preocupar a todos esta debandada da juventude, que tem lugar precisamente na idade em que lhe é dado tomar as rédeas da vida nas suas mãos. Perguntemo-nos: A juventude deixa, porque assim o decide? Decide assim, porque não lhe interessa a oferta recebida? Não lhe interessa a oferta, porque não dá resposta às questões e interrogativos que hoje a inquietam? Não será simplesmente porque, há muito, deixou de lhe servir o vestido da Primeira Comunhão, e mudou-o? É possível que a comunidade cristã insista em vestir-lho?”, questionou Francisco, respondendo com o exemplo dos apóstolos: “A proposta de Jesus tinha-os convencido; hoje a nossa proposta de Jesus não convence. Eu penso que, nos guiões preparados para os sucessivos anos de catequese, esteja bem apresentada a figura e a vida de Jesus; talvez mais difícil se torne encontrá-Lo no testemunho de vida do catequista e da comunidade inteira que o envia e sustenta”.

 

Deus que chama

No discurso escrito, o Papa falou ainda de vocação. “A Igreja em Portugal precisa de jovens capazes de dar resposta a Deus que os chama, para voltar a haver famílias cristãs estáveis e fecundas, para voltar a haver consagrados e consagradas que trocam tudo pelo tesouro do Reino de Deus, para voltar a haver sacerdotes imolados com Cristo pelos seus irmãos e irmãs. Temos tantos jovens desocupados e o Reino dos Céus à míngua de operários e servidores… Deus não pode querer isto. (…) Precisamos de conferir dimensão vocacional a um percurso catequético global que possa cobrir as várias idades do ser humano, de modo que todas elas sejam uma resposta ao bom Deus que chama”.

 

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Palavras de Francisco incentivam Igreja portuguesa

O Cardeal-Patriarca de Lisboa disse ao Papa que “as palavras, gestos e atitudes de Francisco são uma contínua provocação para os bispos e também para os católicos de Portugal”. D. Manuel Clemente manifestou ao Papa que as suas ações são “um estímulo para apostar mais na evangelização de todos os portugueses, cada vez mais presentes no mundo, e também perante as grandes dificuldades que atravessam”.

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