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P. Duarte da Cunha
Bispos Europeus na Terra Santa
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Ir à Terra Santa é sempre uma experiência excepcional. É uma peregrinação de onde ninguém volta na mesma. Todas as boas peregrinações servem para aprofundar a Peregrinação que é a própria vida, porque na realidade somos todos peregrinos neste mundo, caminhando em direcção à meta onde esperamos encontrar Deus. Os cristãos não são vagabundos que não sabem para onde vão, mas gente que responde ao apelo de Deus e caminha e cresce com uma direcção segura.

Deus, ao chamar Abraão para ser pai do Seu povo, fez dele um peregrino e prometeu que o caminho tem um fim. Com Jesus, esse fim chegou a nós, ou seja, a salvação aconteceu; já é um facto. A promessa foi cumprida. Isto faz a diferença do cristianismo, nós não sonhamos só com um futuro, esperando que o dia amanhã deixe de ter as agruras de hoje; nós abraçamos o presente porque aqui e agora Deus já está connosco. Por isso, quando um cristão vai à Terra Santa não o faz porque pensa que Jesus só se encontra lá. O cristão sabe que, depois da ressurreição de Jesus o tempo e o espaço deixaram de impedir que Ele esteja presente na vida de cada pessoa. Jesus fez-se peregrino connosco. Ele é o Caminho e é o ponto de chegada.

A peregrinação à Terra Santa serve, no entanto, e de maneira excepcional, para tomar consciência desta presença e ajuda a reconhecer a presença de Jesus no dia a dia. Visitando os lugares onde Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou compreendemos melhor os Evangelhos e percebemos que o cristianismo não é uma teoria ou uma filosofia, mas um acontecimento concreto: a Pessoa de Jesus Cristo. Os apóstolos, que Jesus tinha chamado para estarem com Ele e depois foram enviados pelo mundo, quando O viram vivo, depois de O terem visto morto na cruz, ao princípio custou-lhe acreditar. Mas, aos poucos, obedecendo ao que Jesus mandara, viram a eficácia das palavras e dos sacramentos que comunicavam em nome de Jesus. Não se calaram, partiram por todo o mundo e chegaram à Europa.

Os bispos da Europa, sucessores dos Apóstolos, (de Portugal estará presente o Senhor D. António Francisco, bispo do Porto) vão agora à Terra Santa, de 11 a 16 de Setembro, porque também eles seguem Jesus e são enviados ao mundo. Pela primeira vez, em nome de todos os bispos europeus, os presidentes das Conferências Episcopais de todo o continente vão juntos em peregrinação à Terra Santa. Vão porque querem que Jesus seja cada vez mais recordado e acolhido nas suas vidas e nas vidas de todos os cristãos. Num momento em que parece que a Europa está desorientada, os bispos vão pedir ajuda a Deus e testemunhar que têm a certeza de que só se voltando para Deus a Europa tem futuro – e presente.

Os desafios económicos, a maré de emigrantes e refugiados que fogem das guerras e da fome e que chegam à Europa, a desagregação social que nasce das muitas crises familiares, a cada vez maior secularização que leva tantos a desesperarem da vida, a guerra na Ucrânia, a situação na Bósnia ainda não resolvida, os muitos ataques à vida que se vão fazendo, a radicalização de alguns grupos muçulmanos que ameaçam com terrorismo, etc. são problemas que levam a uma forte tomada de consciência: sem Cristo vamos ao fundo. Sem Deus estamos a construir apenas instantes, mais ou menos indolores, que não têm consistência nem futuro.

Uma peregrinação destas tem um significado simbólico único e importantíssimo. A Igreja quer dizer a todos: com Cristo não desistimos. Por isso, a peregrinação dos bispos é também um sinal de que acreditam que a Europa pode reencontrar-se, se se abrir ao amor de Deus. Os bispos querem que esta peregrinação possa servir para dizer aos cristãos da Europa que vale a pena viver. Ao mesmo tempo, com este gesto querem rezar pela paz na Terra Santa e no Médio Oriente e dizer aos cristãos daquela região que não estão sós. É deste modo que os sucessores dos Apóstolos querem testemunhar a certeza de que faz sentido construir o futuro porque, embora os homens por si não consigam resolver os seus problemas, estando com Jesus cada esforço vale a pena.

Quem quiser seguir esta peregrinação pode encontrar muita informação em www.ccee.eu. Alguns momentos serão mesmo transmitidos em directo pela internet.