Lisboa |
A Casa Damião, da Congregação dos Sagrados Corações
Dar uma esperança de vida às crianças
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A Casa Damião, no Catujal, acolhe crianças dos PALOP com patologias cardíacas e é a mais recente obra dos Padres dos Sagrados Corações no Patriarcado de Lisboa. Esta congregação chegou à diocese há mais de 80 anos e que quer continuar a “contemplar, viver e anunciar o amor de Deus em Jesus e Maria”.

 

Bemba, Ioba, Beghate, Agostinho, Angela e Sofia são seis crianças naturais da Guiné Bissau que chegaram recentemente a Lisboa. Além da naturalidade, têm em comum a doença do foro cardíaco e o facto de residirem na Casa Damião, no Catujal. “Somos uma casa de acolhimento temporário, pré e pós-hospitalar, para crianças e jovens com patologias cardíacas, oriundos dos PALOP – Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, financiada exclusivamente pela Congregação dos Sagrados Corações. A Casa Damião, no seu desenvolvimento, procura assegurar vigilância e acompanhamento a nível da saúde, bem como proporcionar às crianças e jovens a satisfação de todas as suas necessidades básicas”, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE o responsável geral da instituição, Igor Rodrigues.

Fundada em abril de 2013, a Casa Damião acolhe crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 15 anos, que chegam sozinhas a Portugal por uma questão de financiamento e de legalidade. “Além da componente financeira, não queremos ser uma porta de entrada à imigração ilegal”, salienta este coordenador. A estadia da criança é “paga a 100 por cento” pela Casa Damião. “Se acolhêssemos também o pai, a mãe ou um tio da criança, íamos diminuir o número de ajudas e a resposta que prestamos”, observa Igor. O irmão Manuel Dutra, desta congregação, é o diretor (e mentor) da Casa Damião e sublinha ao Jornal VOZ DA VERDADE a opção da instituição: “Ou recebíamos três crianças com três familiares, ou acolhíamos seis crianças. Optámos pelas crianças, que depois de tratadas regressam aos seus países de origem”.

 

Última esperança

Na Guiné Bissau, os contactos são feitos através da ONG espanhola AIDA, “que tem a sede dentro do hospital local e faz toda a triagem das crianças, juntamente com os médicos”, salienta Igor. O processo até uma criança chegar à Casa Damião é “moroso e burocrático”, por “envolver muitas entidades, como o Ministério da Saúde da Guiné Bissau, a Embaixada de Portugal na Guiné Bissau, a Embaixada da Guiné Bissau no nosso país, a Direção-Geral da Saúde portuguesa e os hospitais”. “São procedimentos que duram meses. Os últimos processos das crianças que chegaram, entre a sinalização e a sua chegada à Casa Damião, demoraram cerca de cinco meses até estarem concluídos. E algumas nem eram estas crianças, eram outras três, das quais duas morreram no decorrer do processo…”, lamenta o coordenador.

Igor esteve na Guiné Bissau em março passado e testemunha que as questões culturais e de formação estão na origem “do agravar” dos problemas cardíacos das crianças. “Quando uma criança adoece, em primeiro lugar os pais chamam o curandeiro e só passado muito tempo levam a criança ao médico. Além disso, muitos destes pais são analfabetos…”. Contudo, Igor manifesta que não há desconfiança por parte dos pais quando veem os filhos partir para Portugal. A explicação é aparentemente simples: “Em momentos de aflição, confiam na primeira pessoa que aparece e diz que vai salvar a vida daquela criança, que daqui a um ano ou um ano e meio vai voltar a casa. Eles confiam, apesar de não conhecerem o Igor, nem a Casa Damião; mas é uma confiança que surge no momento da aflição. Veem a criança doente e sentem que já não há resposta na Guiné Bissau”.

 

Manter o contacto

O diretor da Casa Damião, irmão Manuel Dutra, revela que este projeto de apoio a doentes estrangeiros “surge na sequência de uma notícia do jornal Público, de novembro de 2005”, que levou a um primeiro projeto onde participou e que acabou por deixar em 2010. A Casa Damião nasce cerca de três anos depois e funciona na antiga residência dos sacerdotes desta congregação, no Catujal. “A casa vive somente com o apoio da Congregação dos Sagrados Corações e donativos de pessoas que conhecem a obra”, destaca o diretor.

Entre os critérios de admissão, Igor Rodrigues aponta a natureza da patologia. “Acolhemos crianças que possam ser tratadas e que depois regressem à sua vida. Infelizmente, aquelas que precisam de cuidados continuados para toda a vida não podemos acolher”, lamenta.

Além do diretor da instituição, irmão Manuel Dutra, a Casa Damião conta com cinco funcionários: o assistente social Igor Rodrigues, de 29 anos, que como coordenador integra este projeto praticamente desde o início, duas auxiliares de ação direta e duas enfermeiras. Os 11 voluntários, “todos da comunidade do Catujal”, são também uma peça importante neste projeto. “Em termos de voluntariado, a nossa experiência é excecional. Porque os voluntários assumem o compromisso e a responsabilidade e têm uma intervenção lúdica junto das crianças”, frisa Igor. O pároco do Catujal, padre Luís Manuel Alvarez Garcia, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE que a Casa Damião, “pela proximidade, gera uma consciência de trabalho comunitário nas pessoas da freguesia”.

Após a operação, cada criança permanece na Casa Damião por mais um tempo. “Primeiro, devido ao estado de saúde e às consultas pós-operatório, porque estas intervenções cardíacas são delicadas; depois, porque a própria recuperação inicial tem de ser vigiada e analisada; finalmente, a medicação tem de ser adaptada a cada criança”, descreve Igor.

Enquanto a criança está na Casa Damião, o contacto com os pais e os irmãos, na Guiné Bissau, ocorre duas vezes por mês através de chamadas telefónicas. “É importante que as crianças não percam a ligação aos pais, por isso temos o cuidado de colocá-las em contacto com a família”, aponta Igor.

 

Dar continuidade

O foco de intervenção da Casa Damião é a saúde das crianças. Paralelamente há também a preocupação pela educação. Neste sentido, enquanto estão no Catujal, as crianças frequentam a escola local. “Uma criança que faça a matrícula em janeiro tem de esperar por setembro para entrar na escola, ou seja, tem de esperar o início do ano letivo. Nós explicámos o projeto ao agrupamento de escolas do Catujal, referimos que muitas das crianças, mesmo com cerca de 12 anos, nunca andaram na escola e conseguimos que as nossas crianças entrem na escola assim que chegam a Portugal”, explica Igor. “Há crianças que chegam, por exemplo, em janeiro, são operadas em fevereiro e em março o médico passa uma declaração a dizer que está recuperada e pode frequentar o ensino. Essa criança, fruto do acordo, pode entrar logo na escola, nem que seja somente por dois, três, quatro meses… Até agora, tem corrido muito bem esta experiência”.

Igor fala da necessidade de haver um processo de continuidade no tratamento de saúde nos países de origem destas crianças. “Eles cá em Portugal têm todo o conforto e ‘mordomia’ do ponto de vista da saúde. Quando regressam, muitas vezes após um ano, esses cuidados nem sempre são atendidos. O ideal era uma espécie de Casa Damião 2, que desse acompanhamento à criança, no seu país”, deseja o coordenador da Casa Damião no Catujal, recordando o exemplo do pequeno Domingos, que já por três vezes teve de regressar a Portugal: “Ele regressa à Guiné estável, recuperado, mas o que acontece, por vezes, é haver negligência por parte dos pais, que não compram a medicação nem levam a criança ao hospital”.

 

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“Seja empreendedor, ajude-nos a salvar”

A Casa Damião vive exclusivamente do financiamento da Congregação dos Sagrados Corações e de donativos. “Queremos que o mundo destas crianças faça parte do seu mundo. Dê o seu donativo através do NIB: 003502450000000553037”, apela a instituição através da internet, descrevendo ainda outras formas de ajuda: “Contribua para a nossa missão adquirindo uma t-shirt (7¤), livro (4¤) ou pin (1¤). Se desejar pode também levar os três artigos por apenas 10¤”.

Morada: Rua Bartolomeu Dias, 33, 2680-380, Unhos

Telefones: 216001656 / 961413306

E-mail: casadamiao2013@gmail.com

Site: www.casadamiao.sscc.pt

Facebook: www.facebook.com/casadamiao

 

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Presença histórica na diocese

Fundada nos finais do século XVIII, em França, pelo sacerdote da Diocese de Poitiers José Maria Coudrin e uma jovem da nobreza francesa, Henriqueta Aymer de la Chevarie, a Congregação dos Sagrados Corações (SSCC) tem como carisma “contemplar, viver e anunciar o amor de Deus em Jesus e Maria”. A chegada a Portugal acontece em 1931, para o Seminário dos Olivais, a pedido do Cardeal Cerejeira. Os primeiros padres da congregação – três franceses e um holandês – chegaram a Lisboa a 26 de setembro desse ano, para dirigir o seminário, onde ficaram até 1947. Entretanto, também a pedido do Cardeal-Patriarca, iniciaram as missões populares em toda a diocese (1939-1967).

Hoje a congregação está presente nas paróquias de Unhos e Catujal, através da comunidade que reside em Camarate: o irmão Manuel Dutra, de 70 anos, e os padres Luís Manuel Alvarez Garcia, espanhol de 72 anos, Francisco Frederico Walders, holandês com 78 anos, e João de Brito de Almeida Atanásio, português e um dos sacerdotes mais idosos do Patriarcado de Lisboa, nascido a 1 de janeiro de 1923. Natural de Celorico da Beira, veio morar para Sintra com 11 anos. Fez toda a formação na Diocese de Lisboa e conheceu os Padres dos Sagrados Corações no Seminário dos Olivais. “Com a licença do senhor Patriarca, fui para a congregação, porque senti-me tocado pela sua espiritualidade”, conta o padre João de Brito, ao Jornal VOZ DA VERDADE, que ao longo do seu ministério na diocese esteve nas paróquias da Penha de França, Santa Iria de Azóia, Bobadela, São João de Brito, Unhos, Catujal e Charneca.

 

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Charneca e padre Dâmaso

No Patriarcado de Lisboa, a Congregação dos Sagrados Corações está presente também na paróquia de São Bartolomeu da Charneca, através do padre Alcindo Armas, de 42 anos, que tomou posse como pároco no passado dia 13 de setembro.

Figura incontornável do mundo das prisões e que pertence também à congregação é o padre Dâmaso Lambers, de 85 anos, que em 2009 foi condecorado pelo Presidente da República, no Dia de Portugal, com o grau de Grande Oficial da Ordem do Mérito. Sacerdote de origem holandesa foi ordenado em 1955 e chegou ao nosso país dois anos depois. ‘Padre Dâmaso – Uma vida de doação’ é o título do livro, com a chancela da Paulinas Editora, que vai ser lançado no próximo dia 29 de setembro, às 18h30, no auditório da Rádio Renascença.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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