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Iraque: missionário argentino descreve “sofrimento” dos Cristãos
Perder tudo menos a fé
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Bagdade é uma cidade sitiada. Os Cristãos estão encurralados. Têm medo, mas não renegam a sua fé. São exemplo, por isso, para todos nós. Do Iraque chega-nos o testemunho de um padre argentino, Luís Montes, que nos interpela directamente a fazermos alguma coisa por estes irmãos na fé. A começar pela oração. Uma oração a sério. É que eles estão a morrer…

 

Primeiro, ele. O sorriso, a alegria que transmite aos outros. Depois, a singularidade da família. Ele, Luís Montes, é argentino e sacerdote do Verbo Encarnado. São sete irmãos, um já faleceu. Três são sacerdotes e um outro é leigo consagrado. O pai morreu há oito anos e a mãe, viúva, decidiu então que era tempo de, também ela, seguir a vida religiosa de forma mais radical. Aos 82 anos tomou o hábito e agora passa os dias a tomar conta de crianças num lar. Voltemos a ele. Luís Montes está em Bagdade há cinco anos, depois de ter iniciado o seu trabalho missionário no Médio Oriente há mais de duas décadas. Esteve na Terra Santa, na Jordânia e no Egipto, onde chegou a ser o superior provincial da região. Desde que deixara a sua terra natal, a Argentina, que havia como que um enamoramento pelo Iraque. E fizeram-lhe a vontade. Vinte anos depois, o Padre Luís fez as malas e partiu para Bagdade. Foi acolhido ainda com o cheiro da pólvora, com as pessoas assustadas, a ouvir a palavra “medo” em todas as conversas. Chegou ao Iraque em 2010, em Dezembro. Poucas semanas antes, no último dia de Outubro, um grupo armado da al-Qaeda entrou na catedral de Bagdade e fez reféns todos os que ali se encontravam.

 

Campo de batalha

A igreja transformou-se em campo de batalha entre os jihadistas e as forças de segurança. Meia centena de pessoas perderam a vida e muitos ficaram feridos. Dois dias depois, quando a cidade enlutada enterrava os seus mortos, novo atentado terrorista. Dez bombas explodiram quase em simultâneo em cafés, restaurantes, lojas. Mais de sessenta pessoas morreram ali, em breves instantes, e quase duas centenas ficaram feridas. Já havia, nesses dias, uma tempestade forte no ar. Os Cristãos eram uma comunidade em fuga, que carregava nas malas o medo de serem um dos alvos dos extremistas. E ainda ninguém sonhava que o auto-proclamado “Estado Islâmico” estava quase a chegar, trazendo consigo um terror apocalíptico que poucos conseguiriam imaginar ser possível. Mas foi. E aconteceu. Bagdade é hoje, de alguma forma, uma cidade quase sitiada. Não há dia em que não rebentem duas, três, oito bombas… Não há dia que passe sem que alguma rua fique manchada de sangue, cravada de balas, cemitério de gente. É uma cidade sitiada que se prepara, de certa forma, para o pior. Para a guerra total. Os Cristãos sabem disso. Continuam a ser um alvo, continuam a procurar sobreviver. E dão, todos os dias, um notável exemplo de fé.

 

Guerra aberta

Conta-nos o Padre Montes: “Para os Cristãos é particularmente difícil, porque são apanhados no meio destes problemas étnicos que existem entre os xiitas e os sunitas. Há muita injustiça”. Em conversa com a Fundação AIS, este missionário do Verbo Encarnado esclarece que “a zona tomada pelo ‘Estado Islâmico’, que ainda não é Bagdade, ainda está pior. Mossul e os arredores estão um autêntico desastre”. Nesta guerra aberta entre muçulmanos radicais, entre xiitas e sunitas, os Cristãos são, quase sempre, carne para canhão. E é aqui, quando as armas estão apontadas para as suas cabeças, quando as ameaças são reais, quando o medo está ao rubro, que os Cristãos do Iraque têm dado exemplos de fé que nos podem envergonhar. “Há muitos mártires, muitas pessoas que disseram directamente ‘não vou deixar de ser cristão, mate-me’. Conhecemos casos muito bonitos e heroicos. E, depois, há quem tenha abandonado tudo, mesmo tudo, a casa, o automóvel, o dinheiro que tinham no banco, absolutamente tudo para poder continuar a ser cristão. Para nós é um exemplo muito edificante viver com eles e vê-los nos campos de refugiados, vivendo em paz e tranquilidade, e até com alegria. É muito edificante” – diz o Padre Montes que sublinha: “estas pessoas não estão apegadas aos bens terrenos”. “Perder tudo, de certa forma, libertou-os para se unirem mais a Deus”.

 

O poder da oração

Hoje, este sacerdote sabe que o exemplo destes cristãos é como que uma vitamina para a sua própria fé. Quando questionado sobre o que nós, Portugueses, podemos fazer pelos Cristãos iraquianos, a sua resposta é quase instintiva. “Há três coisas que peço: Em primeiro lugar, a oração, que todos podem fazer. São precisas mais pessoas que rezem pelos Cristãos perseguidos. Estas pessoas estão a passar por sofrimentos indescritíveis e é preciso apoiá-las com a oração. Em segundo lugar, que divulguem o que se está a passar. Que se comente e se fale nas paróquias, que se celebrem Missas pelos Cristãos perseguidos e Missas pelo perdão aos perseguidores, que partilhem isso no facebook… Em terceiro lugar, que façam um donativo à Fundação AIS ou no nosso blogue, onde temos uma conta, para que as pessoas enviem um donativo que ajudará directamente os refugiados.” Há ainda um pedido do Padre Luís Montes. É algo de muito especial, que nos envolve a todos. A mim, a si, a quem ler estas linhas daqui a pouco. “Nós vimos o que produz o ódio no coração dos homens. Por isso, o que pedimos a todos é que cada um viva melhor a caridade com a pessoa que tem ao lado. Por que se nós vivermos mais a caridade, seremos construtores da paz. E essa força é irresistível.” Certo?

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