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Refugiados, algo que me diz respeito
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No dia 13 de Setembro, quando o Governo alemão declarou que iria encerrar as fronteiras e manter controlo sobre a entrada de refugiados, que nos últimos quatro dias tinham atingido a cifra de 28.000, tive a oportunidade de passar à volta do Centro de Acolhimento de Traiskirchen, nos arredores de Viena, e ainda de passar várias horas na Estação Central Ferroviária, transformada ela mesma num outro campo de acolhimento; no fim do dia acompanhei o movimento de uma organização paroquial que, em articulação com a Caritas, proporcionava a alguns recém-chegados dormida e outros cuidados primários nas suas instalações.

 

As raízes escondidas debaixo da terra

Foi um dia que me proporcionou muitas perguntas e nenhuma resposta, para além da convicção de que o problema é de todos, de que é preciso ter uma visão para lidar com o fenómeno e que não podemos esconder a cabeça na areia ou deixar cair os braços. Que o problema é de todos nós manifesta-se na dificuldade dos governantes se entenderem; à medida em que o problema se vai tornando incontornável, porque crescentemente incontrolável, começam a assumi-lo; mas à Europa vai faltando a tal força agregadora que lhe poderia dar jus ao título de União; sem ela, mais motivada por questões económicas, inserida num “sistema mau e injusto” (na expressão do Papa), também a pessoa vai ficando para segundo lugar.

Quando há semanas a questão dos refugiados de Calais subiu à ribalta, recordei-me do filme “Welcome” de Philippe Lioret que, exibido em 2009, nos apresentava o esforço desumano de um jovem iraquiano que tentava chegar à Inglaterra onde vivia a namorada: uma obra de ficção, mas que retratava aquilo que hoje só difere pelas suas dimensões. Revejo também as imagens do Holocausto com multidões caminhando em frente, uns com a ilusão de um talvez desfecho feliz; outros com a quase certeza de caminharem para a morte, com aqueles sentimentos tão bem expressos pelo sobrevivente Shlomo Venezia: “A cada dia preferia morrer… e cada dia lutava para sobreviver”.

 

O pastor junto do rebanho

Revejo também os meados dos anos 90 quando o Bispo Jacques Gaillot escreveu o seu livro “Coup de guelle”, como que um grito contra a política do Ministro do Interior Charles Pasqua relativamente aos imigrantes que chegavam a França. Foi um grito que deve ter levado indiretamente à sua destituição como Bispo de Évreux e a ter sido nomeado para Partenia, uma diocese já extinta, continuando a sua missão de pastor, manifestando preocupação e carinho junto dos mais desfavorecidos: sem-abrigo, refugiados, pobres, desempregados, vítimas do tráfico humano, bem como de pessoas pouco dadas com a instituição eclesiástica. No passado dia 1 de Setembro foi recebido no Vaticano pelo Papa Francisco. Seguramente que a posição de ambos perante as exigências evangélicas do momento presente estarão muito mais em sintonia do que a invocada cacafonia por altura da sua demissão. Para quem vivia perto dos imigrantes a sua atitude e os seus livros eram um valioso estímulo a não deixar cair os braços perante as dificuldades.

 

O dever irrenunciável de se preocupar

O Papa, recordando as 71 pessoas asfixiadas num camião abandonado numa autoestrada da Áustria, pediu a Deus que “nos ajude a cooperar com eficácia para impedir estes crimes, que ofendem toda a humanidade”. Já não se trata de uma questão alheia e secundária; tem um nome: crime contra a humanidade. Do mesmo modo as fotografias do menino Aylan afogado em Bodrum, na Turquia, tornaram-se as mais partilhadas com a legenda de “naufrágio da humanidade”. O problema não é só deles; é de toda a humanidade. Já o Papa Francisco dissera na primeira visita a Lampedusa: “Muitos de nós estamos desorientados, já não estamos atentos ao mundo em que vivemos, não cuidamos nem guardamos aquilo que Deus criou para todos, e já não somos capazes sequer de nos guardar uns aos outros”. E há dias em entrevista à Rádio Renascença considerava esta crise dos refugiados como a “ponta do icebergue”. Estamos perante uma questão altamente política, perante uma questão séria de humanidade.

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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