Sínodo 2016 |
Sínodo Diocesano de Lisboa 2016 na paróquia da Póvoa de Santo Adrião
Casas que se abrem para a evangelização
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E se algum vizinho ou conhecido, com quem pouco fala, o convidasse para jantar ou tomar um chá, lá em casa? E se depois da conversa sobre a crise, o futebol ou o estado do país lhe falassem de Madre Teresa de Calcutá? Falta de oportunidade? Talvez não. Saiba como a paróquia da Póvoa de Santo Adrião ensaia uma proposta que pretende “chegar a todos”.

 

“Uma surpresa!” Assim aconteceu com Cátia Soares, no dia em que recebeu o convite para, em família, ir “tomar algo” a casa de Carlos e Filomena – dois paroquianos ativos da paróquia da Póvoa de Santo Adrião, na Vigararia de Loures-Odivelas. Juntamente com o seu marido Carlos e com a filha Madalena, hoje com 8 anos, a família Soares aceitou, em 2014, o convite para o que, inicialmente, seria apenas “uma conversa” mas que acabou por ser o primeiro passo para “reconstruir uma ligação à Igreja” que até passou pelos sacramentos da Confirmação e do Matrimónio, depois de 11 anos casados pelo civil. Para padrinhos de casamento escolheram, precisamente, o casal que os convidou para “tomar algo”.

Foi depois de uma Missa da catequese, onde Cátia acompanhava a filha Madalena, que surgiu o convite. “Foi com muita gratidão que aceitámos. De onde vinha, calculávamos que era algo a ver com a Igreja”, conta Cátia Soares ao Jornal VOZ DA VERDADE, revelando nunca ter tido “uma participação muito frequente na Igreja”, apesar de se ter considerado “crente, embora não praticante”. Para a família Soares, o “grande motivo” para a maior participação na Igreja deve-se à “história de vida da Filomena e do Carlos” que foi partilhada nesse primeiro encontro. “Quando for grande quero ser como eles!”, destaca Cátia, de 29 anos, lembrando algumas consequências desse encontro, que ainda estão presentes no dia a dia da sua família, a começar pela pequena Madalena. “Passámos a abençoar as refeições, à mesa”, revela a filha do casal, não sem antes constatar um facto: “Sou sempre eu que tenho de rezar”. Para o futuro, o casal Cátia e Carlos Soares têm o desejo de partilhar um encontro semelhante com outros. “Já pensámos em fazer um encontro parecido em nossa casa. Ando a tentar convidar uma amiga, mas tem que ser com calma. Acho que ficou lá a semente…”, afirma, esperançosa, Cátia Soares.

 

Partilha da própria vida

A lançar o convite à família Soares esteve o casal Carlos e Filomena Pinto. Esta foi uma “experiência totalmente nova” para o casal que colabora na paróquia da Póvoa de Santo Adrião há cerca de 40 anos. “Convidámos três casais para nossa casa. Um deles conhecíamos de vista, outro era nosso vizinho e o terceiro casal era a Cátia e o Carlos Soares, com o qual nunca tínhamos falado mas que sabíamos que a filha tinha entrado para a catequese”, descreve ao Jornal VOZ DA VERDADE Carlos Pinto, que afirma também ter tido em conta o facto de se tratar de um “casal jovem” que certamente precisaria de ser “integrado na paróquia”.

Sobre o que se passou durante o encontro que reuniu em casa os três casais, Carlos revela que partilharam ‘apenas’ a “experiência como casal que passa muitas dificuldades na vida”. “Tentámos explicar aos casais que nunca abandonámos Deus, mesmo nos momentos mais difíceis da nossa vida. Faleceu-nos um filho com 20 anos, temos uma filha deficiente, mas nunca abandonámos Deus. Vamos sempre buscar a nossa força a Ele”, assegura o casal Carlos e Filomena Pinto.

 

“Hoje quero ficar em tua casa”

A ideia de propor estes encontros, em casa de alguns paroquianos, nasceu em 2014, numa Missão Vicarial, na paróquia da Póvoa de Santo Adrião. “Trata-se de aplicar as orientações de evangelização que o Papa Francisco nos sugere na Exortação Apostólica ‘A alegria do Evangelho’”, afirma ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco, padre Rui Valério. “Nos pontos 127 e 128 da Exortação Apostólica torna-se presente a convocação de ‘todos’ para ‘levar o Evangelho às pessoas’, mesmo que numa 'pregação informal que se pode realizar durante uma conversa’. Só depois desta conversa é que se pode apresentar a Palavra. Não convidávamos as pessoas para serem logo evangelizadas mas perguntávamos, em primeiro lugar, se queriam ir lá a casa para tomar um chá ou jantar. A única condição que apontei foi para não convidar pessoas que fossem ‘mal dispostas’ em relação à Igreja, porque se não o discurso ia acabar logo ao princípio”, recorda o padre Rui, pároco de uma das paróquias mais populosas dos arredores de Lisboa.

Questionado sobre a forma como se processou o convite e o encontro, este sacerdote Monfortino explica que, em primeiro lugar, convidou-se para o projeto “leigos comprometidos, com uma prática de vida cristã, para serem missionários”. Depois, nas suas casas, organizaram um encontro, “convidando pessoas que estavam afastadas ou distantes da prática de vida cristã, íntimas ou simplesmente conhecidas, procurando chegar até elas pela amizade”. No encontro que poderia abordar assuntos como futebol, estado do país, crise, etc., procurava-se também encetar o diálogo “a partir de frases de Madre Teresa de Calcutá ou do Papa Francisco”. “A ideia era falar de pessoas que são modelo e referência e, por isso, com uma vivência cristã forte”, frisa. Num momento seguinte, ainda no mesmo encontro, havia a entrega e leitura da Palavra de Deus, que relatava o episódio de Zaqueu. “Por isso, o lema desta ação foi: ‘Hoje quero ficar em tua casa’”, explica o padre Rui Valério.

 

Novo impulso

Com o início da reflexão feita a partir dos Guiões de Leitura do Sínodo Diocesano de Lisboa 2016, a proposta da paróquia da Póvoa de Santo Adrião para chegar a quem estivesse mais afastado ganhou um “novo impulso” e método. “Ao longo do último ano realizámos três conferências que tiveram como oradores o senhor Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, o padre Nuno Tovar de Lemos, jesuíta, e a jornalista Aura Miguel. O objetivo, num primeiro momento, foi que os católicos praticantes convidassem um grupo, ou apenas um amigo que estivesse distante, para ir à conferência. Depois, coloquei, num papel, algumas frases dos oradores e distribuí, para que ao reunirem-se em casa de quem os tinha convidado, pudessem começar por aí o diálogo e a escuta. Esses encontros terminaram com a leitura de um versículo da Bíblia”, revela o padre Rui Valério, comprometido, para breve, com a realização de mais uma conferência sobre a família e uma exposição sobre a Encíclica Laudato si’. “Sempre com o objetivo de chamar quem está na periferia”, manifesta.

 

Querer chegar

Para este “ensaio” sinodal, a paróquia tem, à sua disposição, uma equipa alargada e que também está empenhada em diversos serviços paroquiais. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, alguns desses elementos partilham os principais receios ao convidar alguém com quem têm pouca relação, mas evidenciam os frutos de quem evangeliza. O convite “desafiante”, proposto pela paroquiana Lúcia Rodrigues, de 56 anos, e pelo seu marido, fez com que a conversa, num dos encontros em sua casa, “fosse muito para além” do que imaginavam, porque uma doença oncológica tinha atingido um dos casais que convidaram. Foi, por isso, “no meio de um turbilhão, provocado pelo início dos tratamentos”, que o convite “inesperado” chegou ao casal Luís e Teresa Morais. “Falámos um pouco de tudo. Senti-me muito bem, calma, serena”, refere, ao Jornal VOZ DA VERDADE, Teresa. Para o marido, Luís Morais, o jantar foi o “despoletar do chamamento para a Igreja”. “No encontro que tivemos com o casal Lúcia e Manuel, sentimos o ambiente, a paz espiritual. Estão bem com Deus e com eles próprios... e isso transmite-se, sente-se”, aponta Luís Morais, que agora se sente “integrado na comunidade”, juntamente com a sua esposa.

Para o padre Rui Valério, o mérito destas experiências é “não ter como incumbência aprofundar”. “Para isso a paróquia dispõe de outras propostas. Esta é uma experiência para quem está na frente”, revela, sentindo “alegria” por ver “uma paróquia missionária e que não está instalada”. “Estamos a querer chegar às periferias”, conclui.

 

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Testemunhos de quem evangeliza

São muitos os paroquianos da Póvoa de Santo Adrião que se comprometem com a missão de chegar a quem está mais afastado da Igreja, com um convite para um café, um chá ou um jantar em sua casa.

 

“O diálogo tornou-se mais fácil, não por ser eu a falar, mas pelas perguntas que eles iam fazendo. (...) A esposa de um deles até me perguntou quando programamos o próximo encontro.”

Natário Lopes

 

“Apesar de não conseguir trazer o grupo que convidei, à frequência habitual da Missa, creio que contribuí para que eles se sentissem mais tocados pela fé. Um deles passou a trazer a filha à catequese.”

Alexandra Alves

 

“Nós recebemos muito mais do que damos. Do casal que convidei, para além da gratidão, orações, recebi exemplo, agradecimento e sinto muitas vezes Jesus presente neles. Limitei-me a estabelecer alguns elos. Deles recebi quase tudo.”

Laura Azevedo


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Guião de Leitura #4 já se encontra disponível

Já se encontra disponível o Guião de Leitura #4 – ‘A dimensão social da Evangelização’ (setembro a dezembro de 2015). O documento pode ser descarregado (formato pdf) no site oficial do Sínodo Diocesano 2016 (http://sinodo2016.patriarcado-lisboa.pt). Também é possível adquirir exemplares, em papel, na Livraria Nova Terra, no Patriarcado de Lisboa. 

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