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Persistem os dias de medo na República Centro-Africana
O Padre coragem
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Por mais de uma vez já arriscou a própria vida para salvar pessoas ameaçadas por bandos armados. Num país em caos, como é a República Centro-Africana, o Padre Barnard Kinvi, de 33 anos, consegue ser sinal da esperança de que nem tudo está perdido.

 

Desde o final de 2012 que a República Centro-Africana vive em estado de sítio quando uma milícia armada, os Seleka, de maioria muçulmana, conquistou a capital, Bangui, e instaurou em quase todo o país um reino de terror. Como acontece quase sempre, a violência gera mais violência e começaram a surgir outras milícias para combaterem os Seleka, como são os Anti-Balaka. Hoje, as populações vivem aterrorizadas, sentindo que ninguém as defende, pois há cada vez mais casos em que as próprias forças da ordem - como os “capacetes azuis” das Nações Unidas – são atacadas com a maior das impunidades. Ainda na semana passada, 41 pessoas perderam a vida e quase 300 ficaram feridas em distúrbios na capital, depois do assassinato de um jovem taxista.

 

Milhares em fuga

Calcula-se que só na região de Bangui mais de 400 mil pessoas estarão em fuga por causa da actuação destes bandos armados. Num acampamento provisório nas imediações do aeroporto estão mais de 30 mil pessoas. Cuidar dos feridos e ajudar psicologicamente quem viveu momentos de horror é uma das tarefas do Padre Barnard Kinvi, de 33 anos, que dirige um hospital em Bosemptélé, a quase 200 quilómetros da capital. Demonstrando uma coragem invulgar, este padre salvou, só num dia, mais de 1.000 muçulmanos que fugiam destas milícias violentas que trouxeram para as ruas o cheiro da morte. Reunindo todos esses muçulmanos, levou-os para a igreja local, arriscando assim a própria vida. Na República Centro-Africana, os bandidos fazem a própria lei. De metralhadoras em punho ou brandindo catanas, tudo vale para se cumprir a máxima de “olho por olho e dente por dente”. “Tive de proibir que eles viessem ao hospital com armas”, explica este sacerdote de aspecto frágil mas decidido.

 

Cuidar dos inimigos

Desde que começaram os tumultos que é raro encontrar alguém que não tenha vivenciado cenas de terror. A vida vale pouco, por estes dias, na República Centro-Africana. A tentação de responder à violência com violência é muita. Mas o Padre Barnard tem combatido isso com o seu próprio exemplo. “No auge do conflito, reuni todo o pessoal do hospital e disse-lhes: 'Nós somos um hospital católico. Aqui tratamos todos por igual, seja amigo ou inimigo. Ele matou o seu irmão ou violou a sua irmã? Pois bem, se ele cruzar a porta de entrada do hospital porque está doente ou ferido, tem de cuidar dele. Se concordarem com isto podem continuar a trabalhar aqui. Se não concordarem, têm de ir embora…'” E todos ficaram. “Foi um momento muito emocionante”, diz.

 

Enfrentar o medo

As pessoas continuam assustadas. O medo permanece instalado nas ruas. Basta passar um carro a alta velocidade com homens armados lá dentro que todos correm a esconder-se. Basta escutar-se uma rajada de metralhadora para se temer o pior. Ninguém sabe o que pode vir a acontecer. O terror está à solta e ninguém se sente verdadeiramente seguro em lugar algum. Para agravar o sentimento de impunidade com que as milícias têm vindo a actuar, nos últimos dias cerca de 500 presos evadiram-se de uma cadeia em Bangui e quase uma centena de uma outra prisão, em Bouar. Se as forças da ordem têm vindo a revelar-se impotentes para contrariarem toda esta violência, resta a coragem de alguns, como o Padre Barnard, que todos os dias enfrenta o próprio medo em defesa das populações. “Sinto-me chamado pelo Senhor, que me convida a defender os direitos humanos sem levar em consideração as feridas do meu próprio corpo. É muito bonito amar e dar a vida pelos amigos.”


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Para celebrar os 20 anos de presença em Portugal, a Fundação AIS preparou para si um conjunto de actividades e convidou algumas personalidades que certamente irá gostar de ouvir.

Venha conhecer os seus testemunhos! Entrada Livre.

 

D. George Jonathan Dodo, Bispo de Zaria, Nigéria

Pe. Aurelio Gazzera, Carmelita Descalço, Bozoum, R. Centro-Africana

Ir. Annie Demerjian, Aleppo, Síria

 

13 de Outubro - 18h00

Lançamento relatório “Perseguidos e Esquecidos?”

Sociedade de Geografia de Lisboa (na Sala Algarve)

 

15 de Outubro - 18h00

Inauguração do espaço AIS em Évora

Igreja de Santa Clara

 

16 de Outubro - 21h00

Vigília de oração na Paróquia de Almada

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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