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Ao fim de oitenta e quatro dias nas cadeias do “Estado Islâmico”…
Fuga para a liberdade
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Foi raptado no Mosteiro de Mar Elian, na Síria, a 21 de Maio, e fugiu dos jihadistas saltando para cima de uma mota, conduzida por um amigo muçulmano, no passado dia 10 de Outubro. Provavelmente, o Padre Mourad nunca mais vai conseguir esquecer os dias que passou numa cela em Raqqa, ameaçado de morte apenas por ser cristão.

 

A sua história poderia ser o enredo de um filme de Hollywood. Raptado no Mosteiro de Mar Elian, a 21 de Maio, por um grupo de homens armados, o Padre Jacques Mourad escapou das garras dos jihadistas a 10 de Outubro, disfarçado de combatente islâmico, saltando para cima de uma mota conduzida por um amigo muçulmano. A viagem era arriscadíssima. Desde Qaratyan, de onde partiram, até à vila de Zaydal, o território é controlado pelo auto-proclamado “Estado Islâmico”. Bastaria serem interceptados por um grupo jihadista e a fuga acabaria logo ali, provavelmente em tragédia. Mas correu bem. Não foram incomodados. No Domingo, dia 11 de Outubro, o Padre Mourad celebrou Missa, pela primeira vez ao fim de cinco meses, numa igreja, em Zaydal, perto de Homs.

 

“Serás degolado…”

Regressemos a esse dia 21 de Maio. O Padre Mourad estava no Mosteiro de Mar Elian, que fora restaurado e refundado pelo Padre Paolo Dall'Oglio, ele próprio sequestrado pelos jihadistas em Julho de 2013, e de quem não há notícias desde então. Mourad sucedeu a Paolo e aconteceu-lhe o mesmo. Estava no Mosteiro quando o obrigaram a entrar num carro e levaram-no, de olhos vendados, até Raqqa, a praça-forte do autoproclamado “Estado islâmico”. Foram três meses confinados a uma cela. “Quase todos os dias, alguém me fazia a mesma pergunta: ‘quem és tu?’. E eu respondia sempre: ‘sou Cristão!’” Depois da resposta, vinha a ameaça, aos gritos. “És um infiel, se não te converteres serás degolado com uma faca!”

 

O Sheik Jacques

Mourad não sabia sequer exactamente onde estava nem porque o tinham raptado. Mas os jihadistas conheciam-no bem. O Mosteiro de Mar Elian fica relativamente próximo da cidade de Qaratyan e o trabalho de Mourad e da sua equipa era apreciado por todos. De tal forma que era conhecido, entre os muçulmanos, como o “Sheik Jacques”. Para as populações locais, mais do que ser cristão ou sacerdote, Jacques Mourad era um amigo que ajudava todos os que lhe batiam à porta, que distribuía medicamentos, roupa e comida.

 

Paz interior

De Qaratyan começaram a pedir a libertação do Padre Mourad. Pelo menos que o deixassem ficar em prisão domiciliária na cidade. Oitenta e quatro dias depois do sequestro, um dos líderes dos jihadistas entrou de rompante na cela e disse: “Em Qaratyan todos falam de ti, perguntam por ti…” E obrigou-o a acompanhá-lo, vendado e algemado. Jacques Mourad não sabia para onde o levavam. Iriam matá-lo? Estava vendado. Percebia as distâncias pelos passos que dava, tentava escutar ecos nas palavras, cheiros. Tentava ver com todos os outros sentidos. Hoje, quando recorda todos esses dias de cativeiro, fala na enorme serenidade que sempre conseguiu manter. Nunca teve medo. Nunca. “Esse é o milagre que Deus me deu. Enquanto estive preso, enquanto aguardava o dia da minha morte, em que me iriam cortar a garganta, tive sempre uma grande paz interior. Não tinha nenhum problema em morrer em nome de Nosso Senhor. Não seria o primeiro nem o último, mas apenas um entre os milhares de mártires de Cristo.”

 

Igreja que sofre

Quando lhe tiraram a venda dos olhos, o Padre Mourad tinha, à sua frente, a maior parte dos seus paroquianos. “Foi incrível.” Da cela em Raqqa, passou para a prisão domiciliária em Qaratyan. E foi daí que tudo se desenrolou como num filme. Um amigo muçulmano arranjou a motorizada e foi assim, disfarçado de combatente islâmico, que o Padre Mourad conquistou a sua libertação. Mas a sua batalha continua por ali, pelas terras do Mosteiro de Mar Elian, entretanto demolido pelos jihadistas, e pelos bairros de Qaratyan. São muitos, serão centenas, os cristãos que continuam detidos pelos jihadistas. Todos os dias são ameaçados de morte, caso não se convertam ao Islão. Conseguir a libertação deles passou a ser a batalha principal para o Padre Mourad. Agora, ao recordar os dias de prisão, ao lembrar como as pessoas falavam dele, do “Sheik Jacques”, o Padre Mourad compreende com nitidez absoluta como o apoio dado pela Fundação AIS se tem revelado tão fundamental. Os medicamentos, a roupa, os alimentos, a própria água que distribuía por todos, e que era fruto da generosidade dos benfeitores da AIS, foi fazendo a diferença. Enquanto uns usam armas, o terror e a violência, os Cristãos estendem a mão e oferecem-se em favor da comunidade, dando o que têm. “O que a Fundação AIS tem feito para nos ajudar, desempenhou um papel importantíssimo também na minha libertação.”

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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