Domingo |
À procura da Palavra
O pouco que é tudo
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DOMINGO XXXII COMUM Ano B
"… ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha,
tudo o que possuía para viver
Mc 12, 44


Apesar de todas as crises e dificuldades estamos submersos na cultura do “muito”. Basta ler a notícia de previsão de compras natalícias: “Os consumidores portugueses vão gastar, em média, 241 euros em presentes, o valor mais alto dos últimos cinco anos”. Claro que isto é importante para a economia, e pode ser um verdadeiro sinal “natalício: “Neste Natal, e pelo segundo ano consecutivo, os portugueses vão ser mais generosos, prevendo gastar mais em presentes” (iOnline 2/11/2015). Sem pôr em causa a generosidade em partilhar os bens, vislumbro uma vez mais a apologia do supérfluo e do excesso que a época natalícia acaba por trazer. E retomo a frase inicial: é o “muito” (material) que parece ser a concretização da felicidade!

Não defendo o miserabilismo nem a austeridade indigna e injusta. Nem a ideia de “pobrezinhos mas felizes” que poderia justificar tempos passados ou realidades do mundo mais perto ou distantes de nós. Creio que os bens estão orientados para o bem que com eles se pode fazer, e o acumular egoísta mata mais do que uma epidemia. Mas também creio que a grandeza de uma pessoa não se pode contabilizar em números, e o coração é um “banco mau” para quem nele quiser guardar dinheiro ou coisas. Também somos aquilo que fazemos com o pouco ou com o muito que administramos; a começar por esse dom irredutível que é a vida, e as mil riquezas que cada um traz dentro de si e faz crescer. Por isso o grande perigo do “muito” (material) é fazer-nos esquecer o “tudo” que cada pessoa é, e pode vir a ser! Olhemos para as crianças: quanto mais as “atafulhamos” de coisas, menos desenvolvem o seu interior e os dons que não se pegam com as mãos!

A caminhar para a festa de Cristo Rei a liturgia oferece-nos duas “heroínas” improváveis como modelo de generosidade: duas viúvas, uma em Sarepta na Sidónia, e outra no templo de Jerusalém. No contexto bíblico, e devido à legislação judaica que tornava herdeiros dos bens do marido os seus irmãos, e não a viúva nem os órfãos, “ser viúva” era o mesmo que ser pobre e dependente. A primeira confiou na palavra do profeta Elias e fez-lhe o pão com a farinha que tinha; a segunda, que não deve ter sabido que Jesus a apresentou como exemplo aos discípulos (e hoje a nós), ofereceu os “cêntimos” que possuía para viver. É um choque este despojamento, e quase um escândalo esta mulher não poupar aquele pouco como uma segurança para o futuro, um “pé-de-meia” para um imprevisto, uma “reforma” para a velhice! Há aqui uma confiança que nos escapa. Mas Jesus sublinha o contraste com os ricos que deram do que lhes sobrava, com os doutores da lei que viviam no luxo e a “devorar” as casas das viúvas, e até com a sumptuosidade do Templo que será destruido. Quando o pouco é tudo, e se oferece na confiança (como os cinco pães e os dois peixes da multiplicação) acontece o milagre!   
Dizia Khalil Gibran: “A generosidade não está em dar aquilo que tenho a mais, mas em dar aquilo de que vós precisais mais do que eu.” Descobrir o que verdadeiramente precisa o outro eliminaria muita esmola inútil, e do pouco partilhado por muitos se mudaria o mundo!

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