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À procura da Palavra
Os sapatos do Papa
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DOMINGO II DO ADVENTO Ano C
“Endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas;
e toda a criatura verá a salvação de Deus.”
Lc 3, 5-6

 

A imagem foi largamente difundida e primeira página de alguns jornais: o par de sapatos pretos usados (tão parecidos com uns meus!), no meio de milhares de outros na Praça da República em Paris, tinham sido enviados pelo Papa Francisco. Simbolizavam o desejo de estar presente e levar as palavras da encíclica “Laudato Sí” à Cimeira do Clima, que debate as alterações climáticas. Há uma lenda que conta a história de um rei, que sofrendo pelos seus súbditos ferirem os pés descalços nos caminhos pedregosos do reino, teve a ideia de mandar atapetar todos os caminhos. Mas alguém, inteligentemente, convenceu-o a oferecer um par de sapatos a cada um e promover a indústria do calçado do reino! Que nos dizem dos caminhos andados os sapatos de alguém? Como entender a realidade do outro e não ter pressa em julgá-lo sem “andarmos uma semana com os seus sapatos calçados”, como diz um provérbio oriental? Os sapatos usados do Papa Francisco evocam os caminhos tortuosos, e não atapetados, por onde quer andar e desafia a Igreja a percorrer: de que serviriam pantufas ou sapatinhos de pelica fina nos caminhos escarpados que é preciso conhecer para aplanar?

Não se endireitam caminhos à distância. Há cinco anos como director do Museu Nacional de Arte Antiga, António Filipe Pimentel, numa entrevista à revista E do Expresso fala de caminhos e de beleza: “há uma superioridade que nos ilumina para a qual nós devemos trabalhar e que é essa superioridade que iremos legar no futuro. A imagem que as gerações futuras tiverem de nós não será dada pelas faturas do supermercado, será dada, sim, pela beleza que formos capazes de criar. (…) A Humanidade tem uma espécie de compensação entre um sentido de desesperação e uma apetência de elevação, se for puxado esse lado de elevação as pessoas adere. Falta-lhes muitas vezes um norte. […] Há um lado generoso que nos estimula e nos puxa para cima e que nos levaria a corrigir um dos nossos maiores defeitos que é o auto comprazimento e autocompaixão. Vivemos sempre a ter pena de nós próprios, o que é absolutamente inútil.” Algumas réplicas de pinturas do Museu que foram colocadas em algumas ruas de Lisboa fazem eco dessa elevação e tornam mais belos os caminhos nem sempre tão planos! Porque não se trata simplesmente da qualidade do piso: é preciso saber para onde queremos ir e com quem queremos ir!

Preparam-se os caminhos do Senhor ao endireitar os caminhos dos homens. Porque não foram outros que Jesus escolheu percorrer. Os caminhos servem para irmos ao encontro uns dos outros, para fazer circular a vida, como veias deste corpo que é a terra. Em tempo de guerra e medo destroem-se as estradas e as pontes, para isolar e melhor conquistar, e o isolamento das pessoas, e dos corações, mata muito. Parece insignificante o trabalho do cantoneiro mas quando falta, o mato invade o caminho, os buracos não são reparados, o caminho deixa de ser escolhido. Que caminhos precisamos reparar (dentro e fora de nós!) para que a humanidade se eleve? Será preciso pedir os sapatos do Papa Francisco?

 

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