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Ser presença de Deus no meio da guerra civil na Síria
Uma irmã em Alepo
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Tem 41 anos, é argentina e pertence ao Instituto do Verbo Encarnado. Foi para Alepo para tomar conta de uma residência de estudantes pobres, quando a guerra civil a apanhou em cheio. Tudo mudou na sua vida. Apesar do medo, diz que quer continuar na Síria, a missão da sua vida.


“Desde o início da guerra civil que nunca mais pararam os bombardeamentos e os tiroteios. Não me recordo de um só dia em silêncio. É de enlouquecer!” Maria Guadalupe é argentina, tem 41 anos, um sorriso luminoso e vive em Alepo desde 2011, onde é conhecida como “a irmã”. Guadalupe pertence ao Instituto do Verbo Encarnado, cujo trabalho nesta cidade mártir tem sido apoiado directamente pela Fundação AIS. De certa forma, esta irmã foi apanhada pela guerra. O conflito degenerou e hoje a Síria é uma armadilha gigante, com milhões de pessoas em fuga, mais de 250 mil mortos e um incalculável sofrimento. “Não sabia o que era a guerra”, diz a Irmã Guadalupe. “Não dá para imaginar como é viver assim…”

 

Cidade em ruínas

A cidade de Alepo está arruinada. As casas transformaram-se em destroços com pessoas lá dentro. As ruas estão cheias de entulho. Há marcas, verdadeiras cicatrizes da guerra em todo o lado. Como se não bastassem os tiros, a constante expectativa da morte, em Alepo sofre-se ainda pela crónica ausência de alimentos frescos, pela tormenta da falta de água, pelos constantes cortes de energia. Mas as pessoas habituam-se a tudo e, no meio da enorme provação imposta pela guerra, conseguem sentir alegria por pequenos nadas, como quando a luz eléctrica regressa por uma ou duas horas, ou as torneiras voltam a ter alguma água e conseguem tomar banho. “O contacto tão próximo com a morte faz com que a vida ganhe um outro sentido, faz com que se viva plenamente”, diz a Irmã Guadalupe.

 

Ver com os olhos da fé

Maria Guadalupe ainda estava na Argentina quando o Bispo Antoine Audo solicitou a ajuda da sua congregação para desenvolver trabalho pastoral em Alepo, nomeadamente na direcção de uma residência para jovens universitárias pobres. A irmã chegou a Aleppo em 2011. Um ano que ficará para sempre na memória de todos: foi quando começou a guerra civil. As pessoas habituam-se a tudo. Até à guerra. Aos tiros. A Irmã Guadalupe aprendeu, ao longo destes últimos anos, a dominar o medo, a não se assustar com os rebentamentos das bombas, a olhar para mais longe. Hoje, diz que tem recebido todos os dias lições dos sírios de Alepo. “Eles conseguem ver com os olhos da fé. Viver o dia-a-dia com estes cristãos é um enorme privilégio. Entre eles há mártires e confessores da fé!”

 

“Chorar com eles”

Desde os primeiros dias que a Irmã Maria Guadalupe é livre de regressar a sua casa, à Argentina. Porém, está decidida a ficar. “Não posso ir-me embora agora que eles mais precisam de nós”, afirma, sublinhando que “a Igreja ficará ali até ao último cristão”. O mais importante do trabalho destas irmãs em Alepo é mesmo a sua presença ali, no meio da cidade em ruínas. “Isso é o mais importante: estar, acompanhar, animar, às vezes só ouvir. A grande obra humanitária que fazemos é estar com eles, chorar com eles, consolá-los. E ajudá-los para que não tenham de deixar também a sua terra.” O emaranhado de grupos armados que se guerreiam na Síria faz antever que a guerra não terá fim à vista. Se os homens não se entenderem, talvez a paz só seja possível com a ajuda de Deus. “Não deixemos de rezar pela paz”, pede-nos esta irmã que ilumina os outros, em Alepo, com o seu sorriso contagiante.

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