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P. Duarte da Cunha
Colaborar é urgente
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A missão de evangelizar o mundo e de cuidar da fé dos crentes, juntamente com tudo o que há a fazer para ajudar os mais pobres e necessitados, requer colaboração. E isso nem sempre é fácil. Na missão em que me encontro actualmente este é “o” grande desafio. As actividades do Conselho das Conferências Episcopais da Europa – mas estou em crer que o mesmo acontece nas Conferências Episcopais, nos conselhos pastorais diocesanos ou paroquiais – visam, se assim podemos sintetizar, gerar relações que se tornem colaboração.

Entre bispos e entre padres é urgente a colaboração. Antes de mais entre eles. A comunhão vocacional é já uma companhia, uma familiaridade ou fraternidade que existe por todos serem parte de um mesmo corpo – o colégio episcopal ou o presbitério. Contudo, é bem-sabido que nenhum bispo ou padre pode levar por diante tudo o que é chamado a fazer sem a colaboração de tantos leigos.

Colaborar, ou seja, “laborar” “com” os outros, tem muitas dimensões. E tudo é importante. Mas antes de mais implica a relação entre os colaboradores. Num mundo tecnicizado pode alguém pensar que o importante é saber o que fazer e conhecer as regras para cada um fazer a sua parte. Até há quem diga que não deve haver grande intimidade entre os colaboradores para não se perder a eficácia. Mas não é assim na perspectiva cristã, cuja identidade está no mandamento de Jesus: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. A especificidade da colaboração cristã consiste em ter na origem a unidade gerada pelo amor.

Cuidar das relações humanas e da amizade entre bispos, entre padres e entre pastores e leigos, é, por um lado a meta a que Jesus nos desafia: “que sejam um como Tu, ó Pai, e Eu somos um”; por outro lado é o ponto de partida: porque a obra que nasce de uma comunhão é mais potente que aquela que nasce da simples justaposição de interesses. Olhando para uma família, unida pelo amor, percebemos que cada membro participa à sua maneira na missão comum a todos eles: crescer como família e ser célula viva de uma nova sociedade.  E isso concretiza-se quando há uma autêntica colaboração, em que cada um faz a sua parte, mas todos o fazem a partir do amor que os une. É isso que faz a diferença. Também assim na Igreja como família de Deus.

Se promover a amizade é essencial para que haja mais e melhor colaboração, também é importante que se ajudem na tentativa de compreender a realidade. Olhar com atenção e fazer uma justa interpretação dos factos é essencial para nos pormos juntos a trabalhar. No mundo actual seria quase ridículo alguém pensar ter compreendido tudo sozinho e não sentir a necessidade de aprender dos outros. Não é perda de tempo conversar, ouvir e partilhar. Pelo contrário. Já numa lógica empresarial é importante que os colaboradores conversem para saber o que cada um deve fazer e quais os métodos a aplicar, mas na lógica da comunhão, mais importante isso se torna. Queremos estar unidos no olhar e na avaliação para que haja uma verdadeira concórdia (“com” + “cordes - coração”) no discernimento. Só assim, quando cada um fizer o que lhe toca fazer, isso será vivido como uma acção do corpo todo e não apenas de um membro.

Quando há uma percepção efectiva da comunhão já existe colaboração, mesmo que não se tenha de fazer nada junto. Porque, quando cada um está preocupado e, se possível, ocupado, com os outros, já existe colaboração. Vejo muito bem a diferença entre ter de fazer as minhas coisas desinteressado pelo que o outro está a enfrentar, ou acompanhando-o nas suas dificuldades.

Finalmente, há casos em que é mesmo preciso agir em conjunto. Em que é preciso definir etapas, métodos e estratégias comuns. Vai ser preciso sentirmo-nos co-responsáveis e confiar que o outro faz a parte dele. Na construção de uma catedral há o arquitecto, o pedreiro, o artista e o carpinteiro, mas também há o que varre o chão e o que transporta o cimento. Todos colaboram e a obra não dispensa ninguém.

Mas nunca esqueçamos: “Se o Senhor não edificar a sua casa em vão trabalham os que a constroem”. O nosso trabalho é sempre uma colaboração com Deus.