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Cristãos da Síria celebram mais um Natal em clima de guerra
“Não me deixem sozinho”
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Pelo quinto ano consecutivo, a guerra ensombrou o Natal em Alepo. O desalento é indisfarçável. Falta tudo na Síria. Por causa dos constantes bombardeamentos, dos infindáveis tiroteios, a água secou nas torneiras, as lâmpadas continuam emudecidas, a comida escasseia e a cidade é uma ruína imensa, uma sombra lúgubre do que foi. O Arcebispo escreveu-nos uma carta. É um enorme lamento.

 

A destruição é tanta que o Arcebispo Jean-Clément até tem medo de usar as palavras como se elas pudessem ferir ainda mais a cidade, como se elas pudessem fazer sangrar ainda mais a vida dos que restam em Alepo. D. Jean-Clément escreveu-nos. É uma carta sofrida, um longo lamento, uma lágrima sem fim. “Nesta noite de Natal, estou triste. Sinto uma enorme necessidade de escrever, de vos escrever, a vós, os meus amigos mais próximos, para pedir que aceitem partilhar comigo algumas das minhas preocupações e o meu sofrimento.”

Jean-Clément diz que tem o “coração escurecido” e sente-se impotente perante tantos cristãos forçados a deixar o país rumo a um exílio no estrangeiro. Fogem de uma “guerra injusta e selvagem”, que continua a “semear o terror e a insegurança”, e que já matou quase 300 mil seres humanos “em nome do próprio Criador”.

 

Órfãos e viúvas

Em Alepo, como em tantas outras cidades e lugares na Síria, só restam mesmo os mais pobres, os que não puderam fugir. Ficaram os órfãos e as viúvas. Os idosos e os doentes. As lágrimas deles são também as lágrimas de Jean-Clément. A cidade foi destruída nestes cinco anos de guerra. Mas a cidade continua a ser destruída todos os dias sempre que cai uma bomba, sempre que uma bala é disparada, sempre que alguém cai ensanguentado. Falta tudo. A destruição é dantesca. Quase todas as escolas, hospitais e fábricas foram reduzidas a escombros. São ruínas. “Estou triste por ver o nosso povo a viver na miséria, sem recursos, sem água ou electricidade, nas filas para receber uma ajuda alimentar modesta. Estou triste porque não sei como dizer palavras de encorajamento aos meus fiéis que estão sem fôlego e perdem dia após dia o que resta das poucas esperanças que ainda tinham.”

 

Cidade em ruínas

Jean-Clément escreveu-nos as palavras que não pode dizer ao seu povo. Compreende-se. As pessoas olham para ele com expectativa. Ele é o Arcebispo. “Estou triste mas não posso dizer-lhes isso.” É difícil imaginar como foi realmente este Natal em Alepo. Na carta que nos enviou, o Arcebispo Jean-Clément confidencia-nos a oração que fez ao Menino Jesus. “Vou pedir-Lhe para vir em nosso socorro. Peço-Lhe, neste Natal, como presente, que possa devolver os sorrisos ao nosso querido povo, peço-Lhe, de todo o coração, que faça aparecer, com o Seu nascimento, a ternura nos corações endurecidos, a amizade entre os homens e a paz para o nosso país.”

 

O conforto das orações

Alepo é uma cidade em ruínas. Falta tudo. Comida, água, luz eléctrica, roupa quente. O frio do Inverno é também uma arma de guerra. Como se a própria natureza desejasse o sofrimento dos que vivem ainda na cidade.

Jean-Clément suplica-nos para não o deixarmos sozinho, pede que o acompanhemos com as nossas orações. Pede-nos ajuda. Já passaram quinze dias desde o Natal. Em Alepo, quinze dias são quase uma eternidade. As pessoas têm medo. Mesmo após cinco anos de guerra, ninguém se habitua verdadeiramente à morte. Todos os dias se ouvem tiros, rebentamentos de bombas. Todos os dias alguém fica ferido. Todos os dias morre mais alguém. Todos os dias. “Não me deixem sozinho”, pede-nos D. Jean-Clément.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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