Lisboa |
Visita Pastoral à paróquia de Santo António de Campolide
Oferecer dignidade
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A presença num lar de idosos invertidamente ‘elitista’, onde “a única condição para entrar é ser pobre”, e a visita a um estabelecimento prisional, que ajudou a mostrar que “a prisão não é a eternidade”, marcaram a Visita Pastoral de D. José Traquina à paróquia de Santo António de Campolide, na Vigararia Lisboa III.

 

“Vivi como um animal, mas agora morro como um ser humano...” – estas palavras proferidas, em 1964, por um moribundo abraçado pela Beata Madre Teresa de Calcutá, nas ruas de Bombaim, na Índia, foram lembradas durante a Visita Pastoral de D. José Traquina à paróquia de Campolide, durante os dias 19 a 24 de janeiro. Em declarações ao Jornal VOZ DA VERDADE, o Bispo Auxiliar de Lisboa partilhou a “experiência muito bonita” que viveu na visita ao lar das Irmãzinhas dos Pobres, a ‘Residência de Velhinhos’, na Rua de Campolide. “É um milagre, na cidade de Lisboa, existir um lar cuja única condição para entrar é ser pobre. É um critério invertido daquilo que é mais habitual. Quem tem dinheiro para pagar não entra”, apontou D. José Traquina, salientando a dignidade oferecida aos utentes, pelas religiosas da congregação fundada, em 1839, por Santa Joana Jugan. “É um lar de velhinhos pobres e as irmãs têm aquele espaço com uma grande dignidade. Espantou-me, por exemplo, a própria beleza dos lençóis das camas. Ouvi uma das irmãs dizer: ‘Aqui tratamos as pessoas como merecem ser tratadas’. Não há outro segredo”, salienta.

 

A prisão não é a eternidade

Para além de constatar “a presença de leigos dedicados e empenhados na paróquia” e de verificar a “boa gestão do Centro Social e Paroquial”, visitando as duas valências dirigidas à infância, D. José Traquina visitou também o Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL) que se situa no espaço geográfico da paróquia de Campolide. De todas as visitas a prisões, o Bispo Auxiliar do Patriarcado sublinha que esta “foi a melhor experiência” que teve. “Foi muito edificante. Tive ali pessoas com o desejo de ouvir. São reclusos muito novos e com muita esperança. Isso é muito bom”, descreve.

A visita ao EPL, que decorreu na companhia do padre João Nogueira, pároco de Campolide e capelão do estabelecimento, e com o grupo habitual de 12 visitadores católicos, foi um “momento muito ternurento da relação com os reclusos”, classificou D. José Traquina, referindo que “a visita trouxe-lhes o valor da vida e o respeito que Deus tem por cada um, nas situações mais complicadas”. “Deus sabe o que fazer com cada um deles e pode acompanhá-los. Uma situação que pode ser complicada, por estar ali preso, não é a eternidade! Foi dito que aquela situação deve ser aproveitada para crescer e não para corromper ou estragar. Penso que alguns deles ter-se-ão apercebido do valor da reflexão porque vieram agradecer, livremente. Sentiram-se muito felizes”, partilha o Bispo Auxiliar.

 

Misericórdia na cadeia

A experiência de 10 anos como capelão do EPL levam o padre João Nogueira a refletir sobre as diferentes formas de fazer chegar a misericórdia de Deus a quem está privado da liberdade. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, este sacerdote de 52 anos refere que “a misericórdia, numa cadeia, pode dizer-se de muitas maneiras: através de um olhar, de um sorriso, de uma mão que se estende... ou escutando o clamor de um homem, a dor de uma vida”. “Podemos não dizer grandes palavras mas escutar já é ser misericordioso. Eles sabem que não condenamos e estamos disponíveis para ouvir. Por isso, nunca pergunto ao recluso que crime fez. É o respeito por aquela vida e percurso”, descreve o padre João, frisando o principal legado que a presença do Bispo deixou nos presos: “Os reclusos são sempre muito gratos a quem os visita. No coração daqueles que ouviram o Bispo, certamente começaram por reconhecer que ‘Eu sou um homem, eu sou digno’. Dignidade em primeiro lugar”.

 

Porta aberta

Paredes meias com a Universidade Nova, a paróquia de Santo António de Campolide tem, desde 1982, um protocolo entre o Patriarcado de Lisboa e a Universidade em que o pároco é simultaneamente o capelão de toda a instituição de ensino. Com os estudantes, existe um acompanhamento permanente do capelão, padre João Nogueira, que descreve as diferentes origens eclesiais dos jovens: “Vêm de diferentes movimentos. Há momentos em que animam a missa da terça-feira, outros momentos que solicitam atendimento e confissão. Depois, na bênção de finalistas, também temos uma celebração especial. Dentro da capelania, eles estão muito ligados aos grupos de origem mas temos sempre a porta aberta para todos”. 

 

Rosto envelhecido

Apesar da vizinhança com a juventude estudantil, este sacerdote, que é pároco de Campolide há 17 anos, garante que “esta é uma paróquia de idosos” mas com uma realidade social “muito diversificada”. “Existe a classe média alta, classe média e depois as franjas de pobreza”. A resposta social da paróquia faz-se por intermédio do Banco Alimentar, “através de uma entrega mensal para 80 famílias, num serviço que é garantido por um conjunto de voluntários”, explica o padre João Nogueira, salientando também a importância das instalações do Centro Social e Paroquial de Campolide, que diariamente recebe cerca de 100 crianças, divididas por duas valências: uma no Bairro da Liberdade e outra no espaço da igreja paroquial, na Travessa de Estêvão Pinto, que também foram visitadas pelo Bispo Auxiliar de Lisboa, D. José Traquina, durante a Visita Pastoral.

Também a Conferência São Vicente Paulo é uma importante referência na resposta caritativa às necessidades mais variadas de pobreza, em particular na população mais idosa. “A primeira grande fatura e a mais pesada é a farmácia, depois a água, luz e gás. Por último, as rendas. As reformas são muito pequenas”, lamenta o padre João, explicando que “uma vez por mês, à saída da igreja, é feito um peditório que, juntamente com vendas de natal, permite angariar alguns recursos... que se esgotam rapidamente”.

 

Vida pastoral

Com a Instauração da República, em 1910, a propriedade do edifício da atual igreja paroquial de Campolide, onde funcionou um Colégio da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, passou para o Estado e a igreja passou a ser usada como depósito da Farmácia Central do Exército. Só em 1938 foi criada a paróquia de Santo António de Campolide, cuja sede se instalou na antiga igreja, outrora confiscada, e que nunca foi devolvida à paróquia. Esse facto tem levado, nos últimos anos, a uma manifestação de desagrado da comunidade paroquial que apenas tem “tentado reparar algumas coisas e procurado fazer alguma manutenção” mas que lamenta a impossibilidade de “não poder fazer obras de fundo”, como frisa o padre João Nogueira.

O valor inalcançável, pedido pelo Ministério das Finanças para aquisição da igreja paroquial de Campolide, não tem, no entanto, desmotivado a vida pastoral da paróquia. “Temos 85 crianças na catequese, com os habituais 10 anos, e o agrupamento de escuteiros conta com 80 jovens”, descreve o padre João Nogueira, que justifica o recente encerramento dos dois grupos bíblicos: “As pessoas vão ficando mais idosas e com maior medo de sair à noite”.

Na paróquia existem outros dois locais de culto, com Missa ao Domingo. O Externato do Parque, das Irmãs Doroteias, com Missa às 12h00, e as Irmãzinhas dos Pobres, que têm um capelão residente, o padre Carreto, e onde a Missa é celebrada diariamente, pelas 11h30, para utentes e aberta a toda a comunidade. A participação de fiéis nas Missas nestes dois locais de culto “é muito variável”, conta o pároco, referindo que a Missa Dominical na igreja de Santo António de Campolide “tem, em média, cerca 80 a 120 pessoas”.

texto por Filipe Teixeira; fotos por Filipe Teixeira e paróquia de Campolide
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