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A. Pereira Caldas
Brinquedos
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Já não há brinquedos como havia dantes. E havia-os de todos os géneros, uns baratos outros caros (ou caríssimos…) mas quase todos verdadeiramente interessantes pela sua perfeição, criatividade e enquadramento no tempo e nas suas realidades,

Foram, a pouco e pouco, substituídos por computadores, jogos, tablets e “smartphones”, entre outros instrumentos de comunicação de alta tecnologia. E como seria de esperar, aí estava lançado o desafio. Bastava  aceitá-lo para que tudo mudasse ao sabor dos prodígios das novas técnicas e dos novos caminhos que se rasgavam.

Hoje, são já muitas as crianças que, a partir dos sete anos, dominam os teclados, embora mal saibam soletrar uma palavra ou uma simples frase – o que não significa, de modo algum, que não estejam perfeitamente à vontade para lidar com os equipamentos, todos sempre mais e mais sofisticados. Chegam até a resolver, muitas vezes sem perceberem como, erros próprios ou gerados pelos sistemas operativos…

Tudo isto segue, naturalmente, uma via de progresso. O novo substitui o velho e o obsoleto – e entra-se num amanhã irrecusável, à partida atractivo mas pouco claro, mesmo misterioso, quanto às consequências que arrasta, cada vez mais difíceis de travar, sobretudo antes de serem minimamente conhecidas.

O uso indiscriminado dos “novos brinquedos” surge neste contexto, e há vários anos, como um perigo real no domínio dos comportamentos, submetendo-os ao peso de uma crescente influência da “rede” (leia-se internet) na difusão de ideias e conceitos que fazem do homem um joguete de interesses e objectivos inconfessáveis que apenas pretendem destruir ou inverter a matriz dos valores em que se radica a sua existência.

Não se duvide, contudo, da enorme importância da internet nos dias de hoje, em todos os domínios do conhecimento e em todas as actividades. As suas capacidades quase não têm limites e o seu poder é fortíssimo. Por isso, a grande questão que se coloca é como conseguir domesticá-la e pô-la ao serviço integral das grandes causas da humanidade, a maior das quais é a Paz.

É, porém, fundamental, controlar o acesso à “Rede”. As crianças têm de ser protegidas, sobretudo em certas fases da sua formação, e não podem ser agredidas por conteúdos que não respeitem a sua idade e, porque não dizê-lo, a dignidade a que têm pleno direito.

Evidentemente que se trata de uma missão quase impossível. Existem mecanismos de controlo, a maioria dos quais é gerida para servir em casa em alturas escolhidas – o que acarreta, desde logo, uma enorme responsabilidade familiar. Mas fora desse âmbito restrito, pouco ou nada se poderá fazer. A missão parece mesmo impossível.

É caso para dizer que, afinal, a técnica não pode tudo. Não pode, por exemplo, limitar-se a si própria.

E fica, então, inevitável, uma pergunta: não valerá a pena voltar a construir brinquedos antigos?