Lisboa |
1ª Jornada Diocesana da Comunicação
Ponto de partida
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Na primeira edição da Jornada Diocesana da Comunicação, o Cardeal-Patriarca de Lisboa centrou a importância da comunicação na “autenticidade do ponto de partida” mais do que no de chegada. Em Queijas, no passado dia 27 de fevereiro, na mesa redonda que reuniu vários profissionais da comunicação não houve soluções milagrosas para se fazer comunicação paroquial com 5 euros mas ficaram contributos para comunicar a ‘história’ mais valiosa de sempre.

 

Na conferência que encerrou a primeira edição da Jornada Diocesana da Comunicação, D. Manuel Clemente lembrou dois exemplos que, associados ao número 5 – número utilizado como tema da mesa redonda da parte da tarde –,  chegaram a muita gente, “pela força do ponto de partida”. “Teresa, uma jovem europeia que estava em Calcutá, onde foi interpelada pela realidade imensa da imigração constante, vinda do norte da Índia, de onde as pessoas vinham sem nada. Esta realidade impulsionou-a muito e esta jovem saiu do seu convento e entrou na cidade, com apenas 5 rupias. Apareceu logo um homem da comunicação, que por sinal era um pároco, que estava a pedir dinheiro para um boletim paroquial e que lhe levou as 5 rupias. E ela começou, mesmo sem 5 rupias, a obra das Missionárias da Caridade. Anos mais tarde, um jornalista japonês, que nem era crente, ouvindo falar do trabalho daquelas freiras, foi lá inteirar-se. Foi a partir daí que ela, e o trabalho da congregação, se tornou conhecida em todo o mundo. Começou com 5 rupias e foi um grande fenómeno de comunicação que fez tanto pela presença do Evangelho na Índia”, recordou o Cardeal-Patriarca, no auditório da igreja paroquial de Queijas, em Oeiras.

 

Silêncio

Outro dos exemplos recordado por D. Manuel Clemente, na Jornada Diocesana da Comunicação, aconteceu com o próprio, em 1982, aquando a visita do Papa João Paulo II a Fátima, um ano após ter sido baleado, na Praça de São Pedro, em Roma. Durante esses dias, o então padre Manuel Clemente esteve a comentar a visita nos estúdios da RTP, relembrando agora um momento que foi para além do previsto. “Estávamos à espera da chegada do Papa à Capelinha das Aparições. Estava indicado que o tempo na capelinha seria de 5 minutos… Quando o Papa João Paulo II chega, genuflete e faz-se silêncio – o que é um pavor em termos de comunicação. Era uma imagem parada, sem som. Passou um minuto, dois minutos... passou um quarto de hora, passou meia-hora... e, a pouco e pouco, o silêncio começou também a tomar conta do estúdio. Acredito que esse silêncio foi um silêncio repercutido em milhares e milhares de pessoas que estavam a seguir essa transmissão em direto”, recordou aos cerca de 100 agentes da pastoral da comunicação presentes, frisando que “se o ponto de partida for forte, aquilo que aconteceu em 1946 em Calcutá, ou aquilo que aconteceu em 1982, em Fátima, está sempre a emitir”. “Não perde, tem força e uma força muito grande... e tem também o seu ritmo que vai além de toda a capacidade tecnológica de transmitir e comunicar que nós temos hoje”, apontou o Cardeal-Patriarca. Mas este procedimento “não é fácil”, reconhece. “Quer no caso de Madre Teresa de Calcutá, quer no caso de João Paulo II, estamos a falar de pessoas que se tornaram verdadeiramente pontos de partida porque aprofundaram muito e aprofundaram-se também. São homens de muitos hábitos de interiorização. Isto provoca-nos uma enorme interrogação, ou seja, se nós, hoje, conseguimos a densidade suficiente para conseguirmos comunicar realmente, seja o que for, que fique e que chegue. O alcance da chegada garante-se pela profundidade da partida. Aqui não pode haver partidas em falso. Evangelização não é transmitir uma grande oratória ou produzir uma grande argumentação, mas comunicar uma Pessoa”, frisou o Cardeal-Patriarca de Lisboa.

 

 

Dar a informação

Sob o tema ‘Projetar a comunicação de uma paróquia, com apenas 5 euros’, o Departamento da Comunicação do Patriarcado de Lisboa convidou profissionais da área comunicacional a darem o seu contributo, num debate moderado por Carlos Liz, fundador da Ipsos Apeme, para a elaboração de um plano comunicacional com orçamento muito restrito.

O padre Paulo Franco, pároco do Parque das Nações, procurou, nesta mesa redonda, criar uma paróquia que tivesse as características mais comuns da maioria das paróquias da diocese e frisou os principais ‘vazios’ que são necessários preencher. “A comunicação não se esgota na pregação do padre. Há um mundo muito mais vasto que espera também uma comunicação. Espera, em primeiro lugar, conhecer. E recebe informação que lhes é dada. Portanto, se nós dermos, as pessoas recebem o que lhes damos; se não, recebem outras coisas que lhes dão. Esta gente que habita na ‘nossa paróquia’ está aberta a receber a mensagem do Evangelho. Muita gente desconhece o que a comunidade cristã tem para oferecer. A prioridade é para com os que estão mais afastados”, descreveu.

 

Entregar valor

A jornalista da RTP Alberta Marques Fernandes alertou para a necessidade de uma “maior união” nas diferentes expressões da Igreja. “Para comunicarmos com qualidade e assertividade temos que dar uma imagem de que somos todos a mesma coisa, apesar das diferenças”. A jornalista defendeu que “uma paróquia tem estatuto para interessar à classe jornalística, dependendo da dimensão daquilo que fizer”. “Numa paróquia podemos fazer a apresentação de um livro, uma peça de teatro, etc, com dimensão nacional. Se assim for, é evidente que vai lá a comunicação social”, referiu.

Para Rui Dias Alves, CEO da Return on Ideas, empresa de Consultoria Estratégica e Conhecimento, o low cost não pode estar presente no que existe para comunicar. “A Igreja não pode ter problemas de explicar o contributo que tem na vida das pessoas. Aí subverte toda a lógica que muitas vezes é uma lógica das pessoas avaliarem a sua comunicação como amadora. Não é preciso sê-lo”, garante. “A Igreja tem um valor muito profissional na vida das pessoas e não se pode comportar como uma low cost. Tendo de o ser do ponto de vista financeiro, do ponto de vista da abordagem não pode ser low cost. É demasiado importante para eu assumir que seja menos do que ‘excelente’. Por muito que haja o desafio do orçamento, do outro lado estamos a entregar muito valor à vida das pessoas”, salientou Rui Dias Alves.

 

Conhecer o público-alvo

Enquanto profissional do marketing, Rodrigo Moreira Rato, CEO da MeshApp, refere a “convergência brutal” que existe entre as “tendências da comunicação, da indústria do marketing da comunicação e aqueles que são os ativos da Igreja”. “Hoje em dia as coisas evoluíram e o grande desafio das marcas é relacionarem-se com a sua audiência, através de uma história que a pessoa vai vivendo. Se nós olharmos, a Igreja tem uma história, a mais bonita ‘história’ de sempre. Tem, por isso, o melhor ativo que se pode ter, nas suas mãos”, considerou. Sobre o que fazer com 5 euros, Rodrigo não tem dúvidas: “Gastava em sumos e bolachas, numa mesa que junte pessoas com capacidade que possam desenhar a estratégia de comunicação numa paróquia”. “Um dos grandes desafios da Igreja passa pela profissionalização e por aceitar que o marketing é um meio para atingir um fim e não vai comprometer a missão que a Igreja tem, antes pelo contrário”, assegurou Rodrigo Moreira Rato.

Para José Luís Ramos Pinheiro, administrador do grupo r/com, “o plano de comunicação de uma paróquia tem de ser mais topo de gama (série 5) para poder funcionar com low cost (série 5... euros), pegando nas qualidades e vantagens e vendo a Igreja na óptica das soluções concretas para as pessoas”. Para este profissional, a paróquia “é uma realidade que reflete muito os novos tempos da comunicação, em que as pessoas se aproximaram, se tornaram capazes de produzir ‘pelas suas mãos’ conteúdos que se tornam mais relevantes hoje em dia e que há 10 anos não seria possível”. Também “é necessário saber o que se quer comunicar. É indispensável conhecer o público-alvo para o qual falamos. Se não conhecermos o público-alvo, não sabemos que declinação de mensagem podemos fazer para tocar esse público”, frisou José Luís Ramos Pinheiro.

 


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Workshops (formação prática) na 1ª Jornada Diocesana da Comunicação

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O padre Nuno Rosário Fernandes, diretor do Departamento da Comunicação, apontou como objetivo do departamento a criação de uma cultura de pastoral da comunicação na diocese. “É importante termos presente o termo ‘pastoral da comunicação’ no léxico paroquial”, fazendo com que o Evangelho possa “chegar a mais gente, com qualidade”, referiu o sacerdote na sua intervenção.

 

 

Durante a manhã de trabalhos, o diretor da Agência Ecclesia, Paulo Rocha, deu a conhecer o projeto da agência de notícias da Conferência Episcopal Portuguesa, evidenciando o esforço que a Igreja em Portugal tem feito no mundo da comunicação.

 

O iVangelho (www.ivangelho.com), da paróquia de Monte Abraão, foi apresentado aos agentes de comunicação por Pedro Jesus, que revelou os segredos que estão por trás dos vídeos deste projeto digital de evangelização cristã.

 

Pedro Gil, diretor do Gabinete de Comunicação do Opus Dei, lembrou que um gabinete de imprensa deve ser, sobretudo, um “centro de relações entre pessoas” e destacou a necessidade de “conhecer bem” os media.

texto por Filipe Teixeira; fotos por Arlindo Homem e Diogo Paiva Brandão
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