Doutrina social |
Paz e responsabilidade
Promover sociedades pacíficas e instituições responsáveis
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Na Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa refere que “há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai.” (n.3). Vivemos num desses momentos.

 

Uma fogueira que alastra

Com a queda do Muro de Berlim em 1989, o mundo respirou de alívio perante o receio de um confronto trágico entre os dois blocos que polarizavam as políticas e as tensões a nível mundial. Foi uma alvorada que parecia anunciar uma nova era. Um quarto de século mais tarde, nos nossos dias, o mundo vive em maior convulsão e mergulhado no medo de um confronto de consequências imprevisíveis.

Assim o manifestam os acontecimentos dos últimos dias na Síria, na Turquia, na Costa do Marfim, com todo o cortejo de consequências, como a deslocação massiva de populações colocando problemas sérios aos países mais próximos e aos mais atrativos; mais do que isso, confrontamo-nos com uma insensibilidade desumana perante o drama daqueles que são as vítimas inocentes de jogos de poder e de interesses mesquinhos. Como ficar indiferente perante a carnificina – não imaginável para humanos do século XXI – como a que ainda há pouco se verificou em Beni, na região congolesa de Kivu? Ou ainda os ataques e as carnificinas perpetradas contra populações civis, nomeadamente cristãs, como repetidamente se têm verificando na Nigéria e noutros países africanos, pelas mãos de radicais islâmicos? E o que dizer do silêncio que se faz à volta desses crimes que não são notícia? Repetindo o que o Papa Francisco diz, “não é possível que a morte por enregelamento de um idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto que o é a descida de dois pontos na Bolsa.” (EG 53).

 

Permitir que o passado nos ensine

Voltando aos massacres de Beni, revemos o filme do genocídio do Uganda levado a cabo pelos extremistas hutus contra os tutsis em 1994 e que, a partir de um certo momento, chamou a atenção do mundo. Foi um projeto habilmente preparado e financiado com dinheiros desviados dos programas de ajuda e com armas provenientes do governo hutu, que as havia adquirido junto de nações ocidentais, nomeadamente na França. As movimentações que hoje se verificam na região dos Grandes Lagos não prenunciam melhorias. A sede de poder político e económico de tiranetes locais, aliada a interesses do exterior, nomeadamente no que se refere à exploração de matérias-primas, poderá levar à repetição de idêntica tragédia.

Por isso o apelo de Francisco aos líderes do mundo dos negócios, reunidos no Fórum Económico Mundial de Davos, na Suíça, a 20 de Janeiro do corrente ano: “Não esqueçais os pobres! Este é o principal desafio que tendes diante de vós !”

Ele sabe, como todos sabemos, que a guerra nasce das desigualdades, que conduzem à marginalização e exclusão, cujo fruto é a violência. Como diz S. Tiago: “De onde vêm as guerras e as lutas que há entre vós ?... Cobiçais, e nada tendes ? Então, matais !” (Tg 4,1)

 

Promover a paz e a responsabilidade

Na mesma ocasião o Papa acrescentou um desejo: que “a cultura do bem-estar não anestesie os mais favorecidos”, que eles sejam capazes de “chorar perante o drama dos outros”. Face à profunda crise humanitária que vivemos, a Comissão Nacional Justiça e Paz, na sua reflexão para a Quaresma, fala na “amorfia das sociedades”. Baseava a afirmação num relatório apresentado no mesmo Fórum pela ONG Oxfam, que dá conta de uma “economia nada humana”, em que 1% da população mundial possui riqueza igual à que é partilhada pelos restantes 99% e onde a riqueza das 62 pessoas super-ricas é equivalente à repartida por cerca de metade da população mundial.

Por isso, quando ouvimos, como no Domingo passado, o profeta anunciando que o Senhor vai “abrir um caminho no deserto e fazer brotar rios na terra árida” (Is. 43,19), entendemos que o primeiro milagre acontece na pessoa que se abre a Deus, deixando transformar o olhar e as motivações; depois vem o segundo milagre, mas este a realizar pela pessoa que, transformada, se vê impelida a transformar o mundo de que faz parte; é a fé que se concretiza em obras, vencendo a amorfia e não pactuando com ídolos que oprimem a humanidade; é a Paixão direcionada para a Páscoa.

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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