DOMINGO V DA PÁSCOA Ano C
“Dou-vos um mandamento novo:
que vos ameis uns aos outros.”
Jo 13, 34
A campanha “E se fosse eu? Fazer a mochila e partir” de sensibilização dos estudantes para os refugiados alargou-se a muitas figuras públicas, e teve a sua dose de seriedade, mas também de algum humor. Na base está uma ideia importante para não tornar irreal o “espetáculo” deste e de outros dramas: sem nos colocarmos “na pele” de quem sofre, não podemos julgar com objetividade. Como diz o provérbio indígena: “antes de julgares o teu vizinho experimenta calçar uma semana as suas sandálias”! Quase na mesma linha estreou na SIC, na passada segunda-feira, o programa “E se fosse consigo?” da autoria da jornalista Conceição Lino. Nele procura-se testar a capacidade de intervenção dos portugueses na defesa do outro, a partir de situações ficcionadas, e o tema do primeiro programa foi o racismo. Vale a pena rever e esperar pelos seguintes, pois o que nos faz pensar e aprofundar os valores e o modo como os vivemos, é um bom trabalho contra a indiferença.
No fundo, o que é também o amor senão uma vitória contra a indiferença e o egoísmo? O amor, mais vontade do que apenas sentimento, mais compromisso do que apenas fogo que rapidamente se extingue. A novidade do mandamento do amor que Jesus nos deixa não surge do nada. Todo o Antigo Testamento está cheio dessa centralidade do amor na relação com Deus, com os outros, nas famílias e nas consequências sociais de uma fé, e os profetas tanto insistem nisso, tem de construir mais justiça e dignidade humanas. “Amar o próximo como a si mesmo” estava unido ao “amar a Deus sobre todas as coisas” e Jesus começou por recordar isso mesmo. Claro que o ritualismo, o legalismo de uma Lei que procurava ordenar toda a existência humana, o julgamento e condenação fácil de todos os que “infringiam” regras e preceitos produziu (e produz!) uma religião mais do “sacrifício” que do amor. Porque é fácil deixarmos de nos pôr “na pele” do outro!
O passo novo e pleno do amor, que Jesus propõe, está na expressão “como Eu vos amei”. E aí, não nos é dada uma lista de condições para preencher, mas uma medida sem medida, uma vida que se atualiza e interpela, uma doação que não se contabiliza. É o sinal “mais” da cruz que faz passar do “eu” isolado ao “nós” da comunhão. E isso é fácil? Se o fosse não seríamos convidados a vivê-lo, nem a procurá-lo com tanta entrega. A sede de um amor autêntico concretiza-se na atenção ao outro e aos outros, à maneira de Jesus para quem ninguém é indiferente.
Já comecei a ler “A alegria do Amor”, a Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre o Amor na família, a que ele próprio “não aconselha uma leitura geral apressada”. Quero fazê-la com calma, sublinhando, partilhando, dialogando com o texto e com outros leitores. Na pressa de uma ideia geral é fácil desperdiçar conteúdos importantes. Não é essa também uma das dificuldades do amor? Somos apressados em julgar e deixamos de acompanhar; apressados em obter respostas e deixamos de discernir; apressados em excluir e deixamos de integrar. Talvez a leitura do comentário ao Hino da caridade dos nn. 89-118 possa começar a envolver-nos nesse dinamismo que hoje deu título a esta crónica: “e se fosse comigo?”
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