24.04.2016
Papa |
Roma
Papa aos refugiados: “Não percais a esperança!”
O Papa visitou os refugiados, na ilha grega de Lesbos, pediu perdão pela “falta de abertura e indiferença” e partilhou histórias vividas nesta curta viagem. Francisco renovou ainda o apelo de ajuda à Ucrânia, neste Domingo.
1. O Papa visitou os refugiados do campo de Mória, na ilha grega de Lesbos, e pediu-lhes para não perderem a esperança. “Esta é a mensagem que, hoje, vos quero deixar: não percais a esperança! O maior presente que podemos oferecer uns aos outros é o amor: um olhar misericordioso, a solicitude por nos ouvirmos e compreendermos, uma palavra de encorajamento, uma oração. Oxalá possais partilhar este presente uns com os outros”, desejou Francisco, no passado sábado, 16 de abril, ladeado pelo Patriarca ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu, e pelo Arcebispo Jerónimo de Atenas. “Desejei vir estar convosco hoje. Quero dizer-vos que não estais sozinhos. Vim aqui com os meus irmãos, o Patriarca Bartolomeu e o Arcebispo Jerónimo, apenas para estar convosco e ouvir os vossos dramas. Viemos a fim de chamar a atenção do mundo para esta grave crise humanitária e implorar a sua resolução”, assegurou Francisco.
O Papa, que nesta curta viagem se encontrou com o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, disse saber das “inúmeras tribulações” que os refugiados sofrem em “busca duma vida melhor”, dos “grandes sacrifícios” que passam “sobretudo, por amor” dos seus filhos – “dos vossos pequeninos” – e garantiu que unirá a sua voz às de Jerónimo e Bartolomeu “para falar abertamente” em nome de todos. “Esperamos que o mundo preste atenção a estas situações de trágica e verdadeiramente desesperada necessidade e responda de modo digno da nossa humanidade comum”, apontou.
O Papa rezou por todos os migrantes mortos no Mar Mediterrâneo, lançando, de seguida, flores em homenagem aos desaparecidos. “Deus de misericórdia, pedimos-vos por todos os homens, mulheres e crianças, que morreram depois de ter deixado as suas terras à procura duma vida melhor”. Assim começou a oração de Francisco, que, mais adiante, lembrou que, “embora muitos dos seus túmulos não tenham nome”, cada um dos mortos é uma pessoa amada por Deus. “Que nunca sejam esquecidos por nós, mas possamos honrar o seu sacrifício mais com as obras do que com as palavras”, disse o Papa.
Em Lesbos, o Papa Francisco, o Patriarca ecuménico Bartolomeu e o Arcebispo Jerónimo de Atenas apelaram, numa declaração conjunta que assinaram, “à comunidade internacional” para dar uma resposta “com coragem” à “maciça crise humanitária” dos refugiados e também “às causas que lhe estão subjacentes, por meio de iniciativas diplomáticas, políticas e caritativas e através de esforços de cooperação simultaneamente no Médio Oriente e na Europa”.
O Papa esclareceu ainda a situação dos 12 refugiados (seis adultos e seis crianças de nacionalidade síria, todos de confissão muçulmana) que viajaram para Roma, no avião papal, após a visita a Lesbos. “São convidados do Vaticano”, garantiu Francisco, sublinhando que “tudo foi feito de acordo com as regras”.”Eles têm documentos, os três governos, o Vaticano, Itália, e o governo grego, examinaram tudo e deram-lhes vistos. Eles serão recebidos pelo Vaticano com a ajuda da comunidade de Santo Egídio que irá ajudá-los a encontrar trabalho, se puderem. São convidados do Vaticano”, revelou.
2. Uma cristã degolada pelos terroristas e um marido muçulmano desolado com tanto sofrimento. O caso foi contado pelo Papa, um dia depois de ter visitado um campo de refugiados em Lesbos, na Grécia. Foi no Domingo, 17 de abril, que Francisco partilhou com os peregrinos, na Praça de São Pedro, em Roma, as histórias de dor de quem foge da guerra e da fome. “Muitos dos refugiados eram crianças. Alguns deles assistiram à morte dos pais e companheiros e tantos morreram afogados no mar. Vi muita dor” no campo de Mória, em Lesbos. Depois, o Papa contou um caso particular. “Encontrei ontem [sábado] um homem jovem de 40 anos, muçulmano com dois filhos; era casado com uma rapariga cristã. Amavam-se muito mas, infelizmente, esta rapariga foi degolada pelos terroristas, porque não quis negar Cristo e renegar a sua fé. É uma mártir. Por isso o homem chorava tanto”.
Francisco disse que a visita a Lesbos foi um gesto de “solidariedade da Igreja” para com os refugiados e o povo grego. “Fui acompanhado pelo Patriarca ecuménico Bartolomeu e pelo Arcebispo Jerónimo de Atenas e todas as Grécias, como gesto de unidade na caridade de todos os discípulos do Senhor. Visitámos um dos campos de refugiados, onde se encontram pessoas oriundas da Líbia, Afeganistão, Síria, África, de tantos países. Saudámos cerca de 300 refugiados, um a um, nós os três juntos”, salientou o Papa.
3. Três dias depois de visitar o campo de refugiados de Lesbos, na Grécia, o Papa pediu perdão aos refugiados pela “falta de abertura e indiferença das sociedades”. “Perdoem a falta de abertura e a indiferença das nossas sociedades que temem a mudança de vida e de mentalidade que a vossa presença exige”, disse Francisco diretamente aos refugiados, numa mensagem vídeo a propósito dos 35 anos do centro jesuíta de refugiados Astali, em Roma, divulgada terça-feira, dia 19 de abril. “Sois tratados como um peso, um problema e um custo, mas – na verdade – sois um dom”, assegurou. “Cada refugiado que bate à nossa porta tem o rosto de Deus, é carne de Cristo”.
Francisco lembrou que os refugiados são pessoas “que fugiram das suas terras por causa da opressão, da guerra, de lugares desfigurados pela poluição, pela desertificação ou por causa da injusta distribuição dos recursos. São irmãos com quem se deve partilhar o pão, a casa e a vida”, resumiu o Papa.
4. O Papa renovou o apelo de ajuda à Ucrânia. Na habitual audiência-geral de quarta-feira, dia 20 de abril, na Praça de São Pedro, Francisco relembrou o conflito armado naquele país e apelou à generosidade dos católicos. “A população da Ucrânia sofre há demasiado tempo as consequências de um conflito armado, esquecido por muitos. Como sabeis, convidei a Igreja na Europa a apoiar a minha iniciativa para ajudar nesta emergência humanitária”, lembrou, agradecendo depois a “todos quantos colaborarem generosamente nesta iniciativa que terá lugar no próximo Domingo, dia 24 de abril”.
Na audiência-geral, o Papa saudou ainda um grupo de sobreviventes da catástrofe da central nuclear de Chernobyl, vindos da Ucrânia e da Bielorrússia, os dois países mais atingidos pela tragédia de 26 de abril de 1986. Francisco renovou as orações pelas vítimas, exprimindo o seu reconhecimento aos que prestaram socorro e a todas as iniciativas destinadas a aliviar o sofrimento e os danos provocados pelo desastre nuclear.
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