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Henrique Joaquim
“Não percais a esperança”
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A frase que o Papa Francisco transmitiu aos jornalistas relatando-lhes o que tinha sido o seu diálogo com as pessoas refugiadas na Ilha de Lesbos – “Não percais a esperança!” tem de ecoar na nossa sociedade e nos nossos corações.

Trata-se antes de mais de um gesto, não um gesto isolado porque esta tem sido a sua forma de estar e de agir, a todos os níveis exemplar porque carregado de simbolismo mas ao mesmo tempo de um amor extremamente pragmático para um futuro orientado pela fé e pela esperança!

Num momento em que milhares de pessoas continuam a chegar à Europa “à procura da Vida”, e a Europa não só não consegue dar uma resposta solidária como assinou um acordo que mais parece um negócio com a Turquia, o Papa organizou em poucos dias uma visita a Lesbos (a ilha da Solidariedade), onde se reuniu com os responsáveis políticos e religiosos dando visibilidade ao problema, mas acolheu três famílias refugiadas com um total de 12 pessoas! Talvez até nem tenha sido intencional mas que é simbólico expressar um amor trinitário desta forma é. E que estas 12 pessoas serão para sempre “discípulos” do amor que resgata e reconstrói a vida não tenhamos qualquer dúvida.

Se a presença é desde logo simbólica o Papa torna-a pragmática e ao mesmo tempo humana – “Vim aqui para estar convosco e ouvir as vossas histórias, para exigir ao mundo que preste atenção a esta grave crise humanitária e implorar que seja resolvida” (Papa Francisco).

Claro que neste sentido não deixa de ser política porque clama por justiça e por solidariedade em prol daqueles que mais necessitam! Mas é neste campo uma liderança política que marca e que tem a autoridade que resulta do exemplo! O que seria se cada um dos líderes políticos tivesse uma atitude semelhante? Já não digo que se disponibilizasse pessoalmente para acolher as pessoas mas que pelo menos contribuíssem ativamente para que muitas possam de facto ser acolhidas onde há muito são esperadas.

Continua a ser totalmente incompreensível que haja condições e pessoas preparadas para um acolhimento digno e que por burocracias haja pessoas a sofrer e viver em condições indignas!

Portugal tem neste momento uma resposta exemplar do ponto de vista da solidariedade mas também da organização! Julgo que o grito do Papa Francisco também poderá ser escutado e vivido por cada pessoa e por cada comunidade que, de coração aberto, se tem preparado para a mística do acolhimento que resgata vidas porque nós Somos de facto quando nos damos e, por isso, é fundamental lembrar “não percais a esperança!”

 

Henrique Joaquim, presidente da Comunidade Vida e Paz e professor de Serviço Social na UCP