Entrevistas |
Diretor do Serviço Diocesano de Acólitos, diácono Pedro Moutinho
“Praticar na vida aquilo que exerce no serviço do Altar”
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O diácono Pedro Moutinho é, desde há cerca de um ano, diretor do Serviço Diocesano de Acólitos de Lisboa e espera que os acólitos sejam capazes de “praticar na vida” aquilo que exercem “no serviço do Altar”. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, este responsável manifesta ainda o desejo de “contactar com todos os grupos de acólitos da diocese”.

 

Como acolheu a nomeação para esta missão de responsável pelo Serviço Diocesano de Acólitos (SDA)?

Da mesma forma como acolho tudo desde que o Senhor me chamou a ser diácono: com a simplicidade de quem está disponível para servir, que crê firmemente que o chamamento vem de Deus e que, quando mais esse chamamento me surpreende, mais provável é que seja mesmo d’Ele. Então rezo o chamamento, partilho-o com a família, principalmente com a minha mulher, e respondo com a liberdade que Ele próprio me dá. Quanto mais incapaz me sinto mais alegre fico, pois é sinal de que Ele me quer mais humilde e de que a sua presença e ação ser farão sentir no novo serviço.

 

O que tem sido possível concretizar no SDA neste primeiro ano?

Em primeiro lugar, a continuidade daqueles que são os marcos com muitos anos de tradição: o EMA e a inserção na Peregrinação Nacional de Acólitos. De novo, têm-se experimentado coisas diferentes, para perceber o interesse e adesão. Os acólitos têm tantos compromissos paralelos que não adianta incrementar a quantidade, mas sim o valor.

Temos proposto de novo encontros de reflexão trimestrais, cujo tema tem acompanhado o caminho sinodal que vamos percorrendo. Cada capítulo da Exortação Apostólica foi sendo partilhado na perspetiva do significado específico que tem para os acólitos. Temos também procurado sensibilizar para o serviço na diocese, nomeadamente na participação nas celebrações da Missa Crismal e Procissão do Corpo de Deus, assim como nas celebrações do sacramento do Crisma que ocorrem na Sé, durante o Tempo Pascal. Por estranho que pareça, a Sé não tem acólitos e, sendo o Crisma presidido por um dos nossos Bispos, é uma oportunidade que os acólitos têm de servir a diocese e de conhecer de forma mais próxima os nossos Bispos. São momentos que tocam os mais pequenos. Finalmente, a obediência ao desafio do Santo Padre e do nosso Patriarca: o SDA está ‘em saída’ e acolhe em missão, respetivamente. Isto significa que o SDA tem ido a várias paróquias, para conhecer os acólitos e as suas dinâmicas e, a partir daí, convidá-los para que se envolvam a nível diocesano. Sente-se a alegria e o cuidado no acolhimento e verifico que muitos dos que são visitados, depois vêm.

Mas há outros desafios pela frente: conseguir contactar com todos os grupos da diocese e constituir uma direção que me ajude na pouca disponibilidade que tenho. Para isso, a única forma é conhecer e dar a conhecer.

 

Hoje, no momento que a Igreja vive, qual a missão do acólito?

Esta pergunta é super-importante! A missão do acólito hoje é mais importante que nunca: praticar na vida aquilo que exerce no serviço do Altar. Esta que parece uma frase feita, é de uma profundidade enorme. Quantos acólitos não vêm o seu serviço das portas da paróquia para dentro e como um conjunto de tarefas a desempenhar, muitas vezes até como definição do lugar ou antiguidade que têm no grupo? Pois é precisamente o contrário. O acólito tem um lugar privilegiado para viver de forma mais profunda a celebração litúrgica, cujo centro é o Mistério Pascal de Cristo. E o ser de Jesus Cristo passou pela obediência ao Pai, pelo serviço, pela entrega, pela gratuidade, pelo perdão. O acólito, no serviço ao Altar, não deve querer fazer tarefas, mas sim, servir Aquele que deve ser o centro da sua vida. Ora isto não acontece uma hora por semana, tem que acontecer em cada momento da sua vida! Por isso, muitas vezes lhes digo: “Se vocês discutem para decidir quem é o turiferário ou o cruciferário ou o que serve ao livro e, em casa, não discutem para decidir quem faz a cama, levanta a mesa ou ajuda o colega que precisa... não são mais do que simples tarefeiros que ainda não compreenderam a verdadeira dimensão do serviço”. Como teríamos ambientes diferentes se o serviço dos acólitos transparecesse mais no mundo. É bem verdade que muitas vezes falta esta dimensão da formação, porque é mais fácil falar na ‘técnica dos serviços’. Neste sentido, creio que o principal desafio de um acólito deve ser: como é que consigo concretizar em minha casa, na escola, na universidade, no trabalho o serviço que presto no Altar.

 

Qual a importância do grupo de acólitos para uma paróquia?

Creio que é muito importante e não exclusivamente na dimensão litúrgica. É certo que liturgia é mais bela e solene, quando aquele que preside não está sozinho no Altar, mas há a dimensão vocacional e o envolvimento das famílias, que podem ser determinantes para o rejuvenescimento tão necessário na nossa Igreja de Lisboa. Em alguns casos, há muito por fazer, porque os acólitos não são devidamente acompanhados e acarinhados. Lembro-me, na minha juventude, a importância e a marca que o grupo de acólitos tinha na Portela e até na diocese.

 

De que forma o serviço ao Altar pode ajudar no discernimento vocacional dos jovens?

De muitas formas, se houver ajuda nesse aprofundamento: a extensão do ser acólito na vida, a proximidade que se estabelece com os padres, o testemunho que se pode receber da sua felicidade e da sua realização como pessoas e o apoio que as famílias podem dar, se tiverem atenção aos sinais. Há caminho a fazer e, de alguma forma, para recuperar. Dos meus 7 anos como acólito, vividos de uma forma intensa, que se estendeu na catequese e na vida escolar, saíram duas vocações: uma ao sacerdócio e outra ao diaconado. É muito bom ver a ação de Deus e a forma como se vai concretizando ao seu tempo e não à nossa maneira.

 

Como descreve a realidade dos Ministrantes do Altar na Diocese de Lisboa e de que forma é possível uma maior ligação entre este serviço diocesano e as paróquias?

Os acólitos na diocese são uma realidade dispersa e diversa, onde é preciso tomar mais consciência da dimensão global do serviço. Para mim, a palavra mais me marca no SDA, até pela minha vocação diaconal, é “serviço”. A maior ligação virá do serviço e, por isso, desde o princípio que estou disponível para ir onde me convidarem: conhecer, ensinar, celebrar, desafiar, tornar a diocese próxima da paróquia. Onde tenho ido, tenho sido muito bem acolhido. O exemplo mais recente é o EMA, na paróquia de Linda-a-Velha.

 

Qual o principal legado da Peregrinação Internacional de Acólitos, no passado mês de agosto, em Roma, onde se encontraram com o Papa Francisco?

A minha entrada coincidiu com o final da preparação e já era muito tarde para me conseguir envolver. No entanto, sinto que corremos o risco de não haver legado! Ainda não se conseguiu fazer um encontro de partilha da peregrinação e não há uma mobilização clara para o fazer. É determinante criar legado, para que um momento destes não seja apenas o privilégio de ver o Santo Padre e rezar com ele, mas a possibilidade de criar laços no país e na diocese e que esta alegria seja contagiante para atrair mais acólitos.

 

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Perfil

Responsável, desde há cerca de um ano, pelo Serviço Diocesano de Acólitos do Patriarcado de Lisboa (sda.lisboa@gmail.com), o diácono Pedro Moutinho, de 42 anos, é manager na área de consultoria de sistemas de informação. Casado há 20 anos e com cinco filhos de idades compreendidas entre os 18 e os 4 anos (quatro deles são acólitos), desde a ordenação, em 2010, que exerce o ministério diaconal na paróquia de Cristo-Rei da Portela, onde vive, colaborando na preparação e celebração de batismos, dinamizando o grupo de leitores e MEC, animando semanalmente um serão de Adoração Eucarística, acompanhando grupos de catequese de adultos e Lectio Divina, entre outras iniciativas de caráter pontual. Foi acólito durante sete anos, na Portela, entre 1988 e 1994, onde chegou a ser presidente, nos últimos três anos. “É o tempo que mais marca a minha formação como pessoa e como cristão, já que tinha entre 14 e 20 anos. Entrei para o grupo quase por brincadeira, com um amigo e colega de escola, depois da conclusão da catequese, no 6º catecismo. De alguém que frequentava a catequese e ia à Missa obrigado, aprendi a ser cristão com um padre e um seminarista que viria a ser padre que marcam, até hoje, a forma como vivo a fé e como olho a Pessoa de Jesus Cristo. De acólito a catequista de jovens, até ser visto na paróquia como alguém disponível para o que era necessário, foi um caminho natural”, recorda.

  

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Acólitos desafiados a serem “oásis de misericórdia”

Os acólitos das paróquias do Patriarcado de Lisboa foram convidados a cultivar “um coração bom, compassivo e misericordioso como o coração de Deus”. Durante o 36º EMA - Encontro de Ministrantes do Altar, que decorreu em Linda-a-Velha, no passado dia 25 de abril, o Bispo Auxiliar de Lisboa D. Joaquim Mendes desafiou os acólitos à misericórdia. “Experimentai a misericórdia, aproximando-vos com uma frequência regular do sacramento da Reconciliação, recebendo o balsamo do perdão e da misericórdia que nos torna compreensivos e misericordiosos em relação aos outros, como o Senhor o é para connosco. Praticai as obras de misericórdia. Elas testemunham a autenticidade do nosso ser discípulos de Jesus, a nossa credibilidade como cristãos no mundo de hoje”, apelou. Lembrando ainda o tema deste encontro diocesano de acólitos, ‘Onde o acólito está presente, a Misericórdia de Deus deve ser evidente’, o Bispo Auxiliar convidou os Ministrantes do Altar a serem “oásis de misericórdia”.

Ao Jornal VOZ DA VERDADE, o diretor do Serviço Diocesano de Acólitos sublinhou que um dos aspetos mais importantes do EMA é “descobrir a dimensão diocesana através da partilha, em que surgem realidades comuns sobre o que se faz e as dificuldades que se encontram”. Ao mesmo tempo, frisa o diácono Pedro Moutinho, “a forma como a paróquia que recebe o EMA se mobiliza para a organização do dia que, em alguns casos, pode ser um novo impulso para o grupo”, é também de realçar. “No EMA descobre-se muita diversidade, que não é mais do que riqueza com que se aprende”, aponta este responsável.

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