Lisboa |
Encontro da Pastoral Social sobre ‘A caridade em ação’, em Torres Vedras
“A Igreja não pode descurar o serviço da caridade”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa considera que “a prática da caridade confirma-se” como uma das “funções essenciais” da Igreja. Num encontro sobre ‘A caridade em ação’, em Torres Vedras, no dia 29 de abril, D. Manuel Clemente apelou ainda ao Estado que “generosamente reconheça e apoie, segundo o princípio da subsidiariedade, as iniciativas que nascem das diversas forças sociais”, como “a Igreja”.

 

«Com o passar dos anos e a progressiva difusão da Igreja, a prática da caridade confirma-se como uma das suas funções essenciais, juntamente com a celebração dos Sacramentos e o anúncio da Palavra. A Igreja não pode descurar o serviço da caridade, tal como não pode negligenciar os Sacramentos nem a Palavra». Esta frase do número 22 da encíclica ‘Deus caritas est’, do Papa Bento XVI, foi o mote para o Cardeal-Patriarca de Lisboa reforçar aos agentes da pastoral social a importância que a Igreja atribui à caridade. “Esta é uma frase que até podia estar bem afixada nas paróquias”, apontou D. Manuel Clemente, no encontro sobre ‘A caridade em ação’. “O sócio caritativo não é um anexo, mas é a expressão e a autenticidade verificada e concreta daquilo que se recebe de Deus, em Jesus Cristo Ressuscitado e na força do seu Espírito”, completou.

No Centro Pastoral de Torres Vedras, num encontro promovido pelo Departamento da Pastoral Sócio Caritativa do Patriarcado de Lisboa, na manhã do passado dia 29 de abril, o Cardeal-Patriarca convidou os agentes desta pastoral a relerem a primeira encíclica do Papa alemão, que foi publicada em 2005. “Nós não encontramos outro documento que de uma maneira tão sistemática, tão organizada, tão clara e tão bela se tenha debruçado sobre a caridade de Deus, na caridade de Cristo e na caridade do seu corpo que é a Igreja. E indo ao concreto das ações sócio caritativas da Igreja e do significado que elas têm e devem ter”, apontou.

 

Amorosa dedicação pessoal

O número 28 do documento do agora Papa Emérito Bento XVI, segundo o Cardeal-Patriarca, “tem uma reflexão importantíssima, concretamente para Lisboa e para Portugal, nas atuais circunstâncias, da colaboração e do apoio que o Estado dá ou não dá”. «Um Estado, que queira prover a tudo e tudo açambarcar, torna-se no fim de contas uma instância burocrática, que não pode assegurar o essencial de que o ser humano sofredor – todo o ser humano – tem necessidade: a amorosa dedicação pessoal», leu D. Manuel Clemente. “Podem-lhe chamar voluntariado, podem-lhe chamar boa vontade, mesmo daqueles que honradamente ganham o seu ordenado nessas atividades. Mas isto – a amorosa dedicação pessoal – não se garante em nenhuma repartição nem em nenhuma burocracia”, assegurou, citando novamente o número 28 de ‘Deus caritas est’: «Não precisamos de um Estado que regule tudo, mas de um Estado que generosamente reconheça e apoie, segundo o princípio da subsidiariedade, as iniciativas que nascem das diversas forças sociais e conjugam espontaneidade e proximidade às pessoas carecidas de ajuda. A Igreja é uma destas forças vivas». “Esta é uma frase que tem de chegar a todo o lado”, observou.

 

Quatro princípios e três características

Neste encontro com os agentes da pastoral social, o Cardeal-Patriarca enumerou, “dentro da Doutrina Social da Igreja”, a “conjugação dos seus quatro princípios permanentes, que devem sair todos eles da própria atitude de Jesus Cristo”. “A dignidade da pessoa humana – para Jesus, cada pessoa é um mundo; o bem comum – valorizando tudo o que é necessário, material, cultural ou espiritual, para que cada membro da sociedade se possa realizar plenamente; a solidariedade – aquela a que o Estado estaria mais propenso no sentido de que garantia que ninguém ficava de fora; e a subsidiariedade – ou seja, não fazer isto por si mas ajudar os outros a fazer”, expôs.

Através do número 31 da encíclica ‘Deus caritas est’, elencou “o que é próprio da caridade da Igreja”. “A expressão sócio caritativa da Igreja como corpo de Cristo no mundo distingue-se em três características: ser imediata, ser independente e ser gratuita. Ser imediata é ser como o bom Samaritano, ou seja prestar o que é necessário prestar na altura; ser independente, porque a Igreja não faz isto por ideologia; e ser gratuita, no sentido de que vale por si e não serve para fazer proselitismo. «O amor é gratuito; não é realizado para alcançar outros fins. Consequentemente, a melhor defesa de Deus e do homem consiste precisamente no amor. É dever das organizações caritativas da Igreja reforçar de tal modo esta consciência dos seus membros, que estes, através do seu agir – como também do seu falar, do seu silêncio e do seu exemplo –, se tornem testemunhas credíveis de Cristo»”, citou D. Manuel Clemente.

 

Atenção amiga

No Centro Pastoral de Torres Vedras, o Cardeal-Patriarca indicou igualmente o “querido Papa Francisco”, no número 199 da exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’, para apelar à atenção ao outro. «O nosso compromisso não consiste exclusivamente em ações ou em programas de promoção e assistência; aquilo que o Espírito põe em movimento não é um excesso de ativismo, mas propriamente uma atenção prestada ao outro considerando-o como um só consigo mesmo. Esta atenção amiga é o início duma verdadeira preocupação pela sua pessoa e, a partir dela, desejo de procurar efetivamente o seu bem». “O que nos move é uma atenção amiga. Isto faz toda a diferença, deve ser a nossa diferença e deve ser reconhecida e apoiada por quem de direito”, frisou D. Manuel Clemente.

 

Associação profissional?

No debate que se seguiu, uma agente pastoral levantou a possibilidade de ser criado “um movimento de leigos que trabalham na área social”. “Precisamos de trabalhar mais uns com os outros. Precisávamos mesmo de um movimento de leigos dedicados, para termos formação, organização, liderança. Que fosse uma coisa que nós partilhássemos de paróquia para paróquia, de centros com centros. Isto de vivermos muito dentro das nossas ‘hortas’ está-nos a tirar o sentido de compromisso com os outros. Somos tantos, tantos funcionários, tantos colaboradores, que precisávamos deste caminhar juntos. É um desafio que deixo para o futuro, porque existem os professores católicos, os médicos católicos, por que não pode existir também o movimento dos profissionais de ação social católica?”, questionou, em tom de desafio, uma leiga.

O Cardeal-Patriarca mostrou-se entusiasmado com a proposta de criação de uma associação profissional católica dos agentes da pastoral sócio caritativa e revelou mesmo que “nunca tinha ouvido” esta possibilidade. “Surgiu hoje uma ideia muito interessante, que eu nunca tinha ouvido falar nestes termos, de se criar uma associação católica dos profissionais da ação social da Igreja. Acho muito interessante e estamos a verificar na diocese uma nova vitalidade das associações profissionais católicas, que vão organizar, no início de novembro, um congresso”, partilhou D. Manuel Clemente.

  

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“A caridade no centro da nossa Igreja”

O diretor do Departamento da Pastoral Sócio Caritativa do Patriarcado de Lisboa considera que nos últimos anos foi possível “colocar a caridade no centro” da Igreja Diocesana. No encontro de pastoral social em Torres Vedras, o cónego Francisco Crespo fez uma retrospetiva dos ‘Encontros do Turcifal’, iniciados em 2008, e lançou propostas futuras. “Estes oito anos de encontros de reflexão, formação, partilha e amizade permitiu-nos olhar para a Pastoral Sócio Caritativa com um olhar primordial e colocar a caridade no centro da nossa Igreja. Hoje temos consciência de que somos uma força viva na sociedade e na Igreja de Lisboa, que não podemos querer apagar a chama que fomos alimentando ao longo deste tempo, pelo contrário temos que ousar iluminar as nossas estruturas sociais com a chama do espírito de serviço, de entrega e generosidade porque somos uma multidão a agir num mesmo sentido. Não temos que ter medo de agir proclamando que o amor que nos move tem a dimensão da cruz mas tem a alegria do ressuscitado que caminha connosco para que O reconheçam no partir do pão”, manifestou o sacerdote, na intervenção ‘Caminhos percorridos de Evangelização pela Caridade’ que pode ser lida na íntegra no site do Patriarcado de Lisboa (www.patriarcado-lisboa.pt), na secção ‘Documentos’ e depois ‘Conferências’.

Este responsável apelou ainda à criação, “em cada comunidade paroquial”, de “equipas de acompanhamento de pessoas em situações de solidão, que completem outras respostas organizadas”. “Realçar e trazer à reflexão para as comunidades as experiências dos nossos ‘olheiros do silêncio’ que são os visitadores de doentes, os Vicentinos, os Ministros Extraordinários de Comunhão que levam o Cristo no pão Vivo e que olham pelo Cristo sofredor deitado numa cama. Não tenhamos medo de mergulhar na realidade das comunidades cristãs identificando tão clara quanto possível as reais carências daqueles que nos rodeiam, a fim de crescer na capacidade de responder cada vez mais à raiz dos problemas e não apenas aos seus sintomas”, desafiou.

Aos agentes da pastoral social, o cónego Crespo destacou ainda uma iniciativa criada pelos ‘Encontros do Turcifal’, o Projeto Igreja Solidária, que “foi e continua a ser um pequeno gesto da Igreja de Lisboa para com os mais necessitados”. “Ao longo destes 7 anos da sua existência foram recolhidos até ao momento: 342.500 euros em donativos e foram distribuídos através das paróquias 306.000 euros aproximadamente”, revelou.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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