Lisboa |
Festa da Vida e da Família, na Casa do Gaiato de Lisboa
Um vínculo “habitado pelo amor divino”
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O Cardeal-Patriarca apelou ao “esforço pastoral” para “consolidar os matrimónios” e “evitar roturas”. Na Festa da Vida e da Família, que decorreu na Casa do Gaiato de Lisboa, no passado Domingo, 8 de maio, D. Manuel Clemente sublinhou ainda que “as famílias cristãs são, pela graça do sacramento nupcial, os sujeitos principais da pastoral familiar”.

 

A Festa da Vida e da Família ficou marcada pelo apelo do Cardeal-Patriarca a uma “pastoral do vínculo”. Na Eucaristia com que encerrou esta jornada diocesana da família, D. Manuel Clemente citou a exortação apostólica pós-sinodal ‘Amoris laetitia’ (AL), lembrando o desejo do Papa Francisco. “O que sobremaneira pretende é o que nós havemos de procurar também: «Hoje, mais importante do que uma pastoral dos falhanços é o esforço pastoral para consolidar os matrimónios e assim evitar roturas» (AL, 307). O Papa chega mesmo a caracterizar o objetivo e o espírito da ação matrimonial da Igreja em termos de “vínculo”. Assim e perentoriamente: «Tanto a pastoral pré-matrimonial como a matrimonial devem ser, antes de mais nada, uma pastoral do vínculo, na qual se ofereçam elementos que ajudem quer a amadurecer o amor quer a superar os momentos duros» (AL, 211). E, quase no fim da exortação: «Em suma, a espiritualidade matrimonial é uma espiritualidade do vínculo habitado pelo amor divino» (AL, 315)”, referiu, perante cerca de duas mil e quinhentas a três mil pessoas.

No pavilhão da Casa do Gaiato de Lisboa, em Santo Antão do Tojal, a Festa da Vida e da Família foi organizada conjuntamente pela Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa e pelo Departamento diocesano da Catequese e teve como tema ‘Viu-o e encheu-se de compaixão’ (Lc 10, 33). Na sua homilia, o Cardeal-Patriarca sublinhou que as famílias cristãs são os sujeitos principais da pastoral familiar. “O Papa lembra também que «os Padres sinodais insistiram no facto de que as famílias cristãs são, pela graça do sacramento nupcial, os sujeitos principais da pastoral familiar, sobretudo oferecendo o testemunho jubiloso dos cônjuges e das famílias, igrejas domésticas» (AL, 200). Conjugadamente há de tomar-se a comunidade cristã como autêntica e operativa «família de famílias» (AL, 202)”, desejou.

 

Divorciados recasados

Os divorciados recasados não foram esquecidos por D. Manuel Clemente, na sua reflexão, tendo como base novamente a exortação apostólica publicada no passado mês de março. “O Papa Francisco dá-nos indicações claras e precisas para a vida da Igreja, na sua relação com as famílias. Na esteira dos seus predecessores, insiste na integração eclesial de todos os batizados, inclusive dos divorciados recasados, dizendo em relação a estes que «a sua participação pode exprimir-se em diferentes serviços eclesiais, sendo necessário, por isso, discernir quais das diferentes formas de exclusão atualmente praticadas em âmbito litúrgico, pastoral, educativo e institucional podem ser superadas» (AL, 299). Ainda que não inclua nesta série de exclusões a superar as de ordem sacramental, não dispensa estes irmãos e irmãs da ascensão para Deus, com tudo o que possa e deva ser”, lembrou.

 

Testemunhas da esperança

Citando ‘Amoris laetitia’, onde “o Papa Francisco evidencia a família como lugar original e pedagogia básica da vida e da convivência”, o Cardeal-Patriarca considerou que a família “é o primeiro patamar duma vida em “ascensão”, como o próprio Jesus humanamente a viveu, na família de Belém e Nazaré”. “Ascensão e comunhão vão a par, pois não se ascende ao Deus Amor senão amando e aprendendo a amar, a viver com os outros e para os outros, familiarmente assim”, apontou. “Como o Papa enuncia, numa série fundamental de verbos: «A família é o âmbito da socialização primária, porque é o primeiro lugar onde se aprende a relacionar-se com o outro, a escutar, partilhar, suportar, respeitar, ajudar, conviver. A tarefa educativa deve levar a sentir o mundo e a sociedade como ambiente familiar: é uma educação para saber habitar para lá dos limites da própria casa» (AL, 276). Encontro neste tópico “familiar” o cerne da exortação papal: a família sólida e protegida é a base insubstituível dum mundo solidário. Religiosamente considerada, é também o ponto de partida da ascensão para Deus”, acrescentou o Patriarca.

Na Casa do Gaiato de Lisboa, perante as famílias cristãs e os adolescentes do 8º ano da catequese, D. Manuel Clemente convidou ainda os cristãos a serem testemunhas da esperança. “Diante de tantas vidas mal suportadas no corpo ou no espírito, diante de famílias que dificilmente se podem constituir ou sustentar, um cristão e os que se casam “em Cristo” só podem ser testemunhas da esperança, no horizonte infindo que a sua ressurreição abriu e a ascensão culminou”, desafiou o Cardeal-Patriarca.

 

Caminho único

No final da celebração, o diretor do Sector da Pastoral da Família de Lisboa, padre Rui Pedro Trigo Carvalho, destacou que neste ano a Festa da Família juntou também a habitual Festa da Vida dos adolescentes do 8º ano da catequese. “Família e catequese são um caminho único que não se pode separar”, observou o sacerdote. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Rui Pedro salienta que “a vida surge no meio da família” e esta Festa da Vida e da Família foi “uma forma de ensaiar uma pastoral de conjunto”, no sentido de “começar a trazer os pais para a pastoral da família, a partir da catequese”. “Queremos que a catequese seja uma ponte para depois levarmos os pais a pensarem a família no seu todo. Se a catequese não pensar em âmbito familiar, e ‘tirarmos’ as crianças das famílias, acaba por ser contraproducente. A família é o primeiro sujeito da evangelização”, lembrou o diretor da Pastoral Familiar de Lisboa, fazendo ainda “um balanço positivo” desta festa diocesana, que “permitiu o contacto das famílias com os nossos Bispos e o encontro com todos os movimentos e associações desta temática da família”.

 

‘Aplicar’ o Bom Samaritano

Para os adolescentes do 8º ano da catequese, a Festa da Vida e da Família teve início na Escola João Villaret, no Infantado, Loures. O diretor do Departamento da Catequese, padre Tiago Neto, ao Jornal VOZ DA VERDADE, destaca o encontro matinal dos adolescentes com a vida religiosa. “Da parte da manhã, os adolescentes foram convidados a viver e aplicar na sua vida concreta a parábola do Bom Samaritano. Fizemos uma parceria com alguns institutos de vida consagrada e congregações religiosas, para testemunharem o seu carisma e apresentarem o seu fundador, no sentido que vivem esta missão do Bom Samaritano. Os adolescentes foram convidados a partilhar as suas missões, realizadas nas paróquias”, conta.  

Sobre a colaboração da Catequese com a Pastoral da Família, este sacerdote assinala as “duas realidades pastorais muito próximas, que se tocam muito”. “Há caminho aberto no sentido de uma colaboração mais próxima entre a pastoral familiar e a pastoral catequética, sobretudo naquilo que é a visão da vida cristã como realidade que diz respeito a toda a vida neste sentido familiar”, frisa o padre Tiago Neto.

  

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O “justo financiamento” das escolas não estatais

O Cardeal-Patriarca de Lisboa defende que o Estado deve atribuir às escolas não estatais “o justo financiamento que merecem, paritário com o que o mesmo Estado presta às que diretamente cria”. Na homilia da Eucaristia na Festa da Vida e da Família, D. Manuel Clemente abordou o tema dos cortes que o Governo quer fazer nos contratos de associação com as escolas do ensino particular e cooperativo. “O Estado é subsidiário dos pais e das respetivas escolhas e iniciativas educativas, num quadro geral de direitos humanos efetivamente respeitados. E subsidiar implica atribuir às escolas não estatais o justo financiamento que merecem, paritário com o que o mesmo Estado presta às que diretamente cria. Na verdade, esses pais são tão contribuintes como os outros e também financiam as escolas estatais. E estas últimas – que são de nós todos – deverão atender ao que os pais pretendem para os seus filhos, em termos de valores a transmitir”, apontou.

 

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A importância de a família permanecer junta

Durante a Festa da Vida e da Família, foi apresentado o livro ‘A família gera o mundo’, da Paulus Editora, com as catequeses do Papa Francisco sobre a família. “O Papa Francisco sente muito o problema – e que creio que todos nós sentimos –, de o mundo estar muito desacompanhado. Ouvimos o ator Ruy de Carvalho, e a sua filha, a enaltecerem o valor da família, a importância de permanecerem juntos: os mais novos cuidarem dos mais velhos, dos mais velhos participarem na vida da família, ainda que as gerações se sucedam”, começou por lembrar o Cardeal-Patriarca. No palco principal do pavilhão da Casa do Gaiato de Lisboa, D. Manuel Clemente desejou que “as pessoas possam ser mais acompanhadas a partir das suas famílias”.

Foi ainda apresentada a exortação apostólica ‘Amoris laetitia - A Alegria do Amor’ que, segundo o Cardeal-Patriarca, “visa, sobretudo, reforçar a vida das famílias na Igreja e a ação da Igreja em prol da família”.

A obra ‘A família gera o mundo’, através de “uma linguagem muito simples, como é própria do Papa Francisco, fala das questões das famílias e da maneira como as ajudar”, e a exortação apostólica ‘Amoris laetitia’, de “uma maneira mais trabalhada, mais organizada, é uma ótima oportunidade para as famílias e para as comunidades se inteirarem desta problemática e ficarem mais convictas do seu papel na Igreja e na sociedade”, apontou D. Manuel Clemente, pedindo “coragem às famílias cristãs” para “trabalhar em prol da família”.

 

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Foram 13 os workshops disponíveis na parte da manhã, durante a Feira Familiar

 

As pinturas faciais das crianças deram uma cor diferente à festa

 

O início da tarde ficou marcado pelo testemunho de várias famílias cristãs

 

O ator Ruy de Carvalho, viúvo, fez-se acompanhar da filha e deu também o seu testemunho

 

Durante a Eucaristia, os adolescentes do 8º ano da catequese receberam a Cruz da Vida, das mãos do Cardeal-Patriarca

 

Foram 160 os casais que celebraram as bodas matrimoniais na Festa da Vida e da Família por, em 2016, fazerem ou terem feito 10, 25, 50 ou mais anos de casados

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Nuno Fortes, Pastoral da Família
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