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O exemplo de fé dos Chin em plena selva, na Birmânia
O padre da floresta
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Em Mianmar, antiga Birmânia, os Cristãos são uma imensa minoria e, muitas vezes, confundem-se com os mais pobres dos pobres. Eles são, tantas vezes, os mais discriminados, os que têm menos direitos. Os que vivem na selva. Como os Chin, que todos os dias ensinam ao Padre John que as orações também se dizem nos sacrifícios, nas dificuldades e nos sofrimentos do dia-a-dia.

 

Birmânia. Paróquia de Tanzang, em plena floresta junto à fronteira com a Índia. A vida não é fácil para a população local, muito pobre, muito dependente dos humores do clima. O Padre John Om Se procura aliviar sofrimentos, aproximar pessoas, promover algum bem-estar. A população local, os Chin, como são conhecidos, fazem parte de uma das minorias mais desprotegidas em toda o país. Tal como os muçulmanos rohingya, que continuam a ser vítimas de perseguição religiosa, os Cristãos Chin também sabem bem o que é viver na margem da sociedade. Para o Padre John Om, é difícil responder aos anseios de todos os seus paroquianos. “Quando fui ordenado sacerdote fui enviado para a paróquia de Tanzang. Nesse tempo, abrangia cinquenta e seis aldeias.” Era uma situação insustentável. Na verdade, o Padre John pouco podia fazer para contrariar o sentimento de marginalização que todos por ali sentiam. Agora, o trabalho foi um pouco minimizado. Onde havia apenas uma paróquia, há quatro. Mas a realidade é a mesma. Ser-se cristão em Mianmar, a antiga Birmânia, é pertencer a uma minoria. Num país em que se confunde o Budismo com o próprio Estado, é muito difícil lidar com situações de extremismo e de ataques contra as minorias.

 

Intolerância

Este é um problema que afecta a comunidade cristã. Ainda em Maio, um proeminente monge budista convidou os seus seguidores a destruir as igrejas do país substituindo-as por templos budistas. E, em alguns casos, é o próprio Estado a assumir comportamentos radicais. Como aconteceu, recentemente, quando as autoridades exigiram que os Cristãos retirassem uma cruz, de cerca de dezasseis metros de altura, que estava instalada numa colina perto da cidade de Hakha. Na verdade, a liberdade é ainda uma miragem longínqua na antiga Birmânia. Apesar dos ventos de Primavera que se fazem sentir em Mianmar - com os militares a permitiram, ao fim de mais de meio século, que o país tenha um presidente civil, depois de eleições ganhas por esmagadora maioria por Aung San Suu Kyi, a activista dos direitos humanos galardoada com o Prémio Nobel da Paz – os cristãos são vítimas da intolerância religiosa e, acima de tudo, do desprezo a que o país tem votado algumas comunidades. Como os que vivem no meio da floresta, os Chin, os paroquianos do Padre John.

 

Sacrifício

“As pessoas aqui são muito pobres – explica o Padre John Om Se. Cultivamos as nossas quintas e se o tempo é mau… acabou-se. Sobreviver é bastante difícil.” O estado Chin, que baptizou as populações locais com o seu nome, alberga algumas das comunidades cristãs da Birmânia. Na verdade, quase se poderia dizer que, por ali, vivem todos na selva. O estado Chin é composto por montanhas acidentadas, por vezes com floresta densa. Diz o Padre John: “A comunicação e o transporte são muito difíceis. Na estação das chuvas, não conseguimos ir até às aldeias”. Dizer aldeias pode ser presunçoso. Às vezes, são apenas casas isoladas. Umas aqui, outras acolá. No início, a única forma de o Padre John se deslocar de aldeia em aldeia era a pé, em trilhos difíceis, sinuosos. Por vezes, ia a cavalo. Agora, tem uma mota, com a ajuda da Fundação AIS. Mas, mesmo assim, a natureza é demasiado caprichosa. “Mesmo com a mota, não se consegue viajar durante a estação das chuvas, porque as estradas nem sempre estão em boas condições. Os deslizamentos de terra destroem as estradas…”

 

Fazer o bem

Quando os caminhos se revelam intransitáveis, o isolamento é total. “Não há telemóveis, não há rede. Se houver uma emergência, temos de enviar uma pessoa ou mensageiro.” Apesar das dificuldades da natureza, apesar dos obstáculos de uma sociedade que se tem revelado pouco cooperante para com as minorias, o Padre John nunca desistiu da sua missão junto dos mais pobres dos pobres. “Temos de associar a oração às obras de caridade e, assim, experimentar a presença de Deus em nós, a fim de nos sentirmos tocados e ajudar os outros: os órfãos, as viúvas e os viúvos. Temos de cuidar deles”, diz, acrescentando: “Eles fazem parte da nossa vida”. “Na verdade, quando rezamos por eles e eles rezam por nós – com os seus sacrifícios, oferecendo as suas dificuldades e sofrimentos a Deus… de alguma forma também nos ajudam. De alguma forma ajudam-me a ser um sacerdote cheio de vida, de fé e a fazer o bem aos outros. É isto que eu vivo.” Lá longe, no meio das florestas da Birmânia, os Cristãos continuam a ensinar que as orações também se dizem nos sacrifícios, nas dificuldades e no sofrimento do dia-a-dia.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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