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P. Gonçalo Portocarrero de Almada
Em boa Companhia!
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Foi no passado dia 9 de Julho que o Senhor Patriarca, D. Manuel, houve por bem ordenar presbíteros, na belíssima Igreja de São Roque, em Lisboa, quatro diáconos jesuítas.

No texto que, para esta celebração, a província portuguesa da Companhia de Jesus editou, lê-se: “No dia 24 de Junho de 1537, Santo Inácio de Loyola e os seus companheiros, foram ordenados sacerdotes, em Veneza. Era já grande o desejo de servir a Igreja e o mundo e, com dedicação, oração e perseverança, chegaram a ver fundada, pelo papa Paulo III, em 1540, a Companhia de Jesus. O Andreas Lind, o António Ary, o Bruno Nobre e o Francisco Mota fazem parte desse grupo de companheiros de Jesus que desejam estar ao Seu serviço junto daqueles que mais precisam, onde faça mais falta, onde ninguém quer ir. Hoje, é a sua vez de ser ordenados sacerdotes, depois dos últimos anos de formação e deste ano de serviço à Igreja e ao mundo como diáconos”.

Não é todos os anos que a província portuguesa de uma instituição religiosa universal, como a Companhia de Jesus, recebe a graça de ver chamados ao presbiterado quatro dos seus membros. Mas este dom não é apenas uma bênção para essa tão venerável congregação religiosa, que tantos frutos de santidade e de apostolado tem dado à Igreja e ao mundo: é também um grande bem para a diocese de Lisboa, para a Igreja em Portugal e para toda a humanidade.

Nem sempre a comunhão prevaleceu sobre a diversidade dos carismas eclesiais, talvez porque, por vezes, predominou um certo bairrismo por parte dessas mesmas instituições, ou houve, noutros casos, alguma dificuldade em acolher novas espiritualidades, por parte da hierarquia. Recorde-se, a este propósito, que a Companhia de Jesus chegou a ser extinta por um papa e que, vários séculos antes, um cónego de Paris afirmou que, as então recém-fundadas ordens mendicantes, eram o próprio Anticristo!

A eclesiologia conciliar, que relançou o ecumenismo, também desafia todos os fiéis e todas as instituições católicas à sua prática intraeclesial: não se pode permitir que as legítimas e salutares diferenças de carismas e de métodos apostólicos firam a unidade eclesial. A comunhão deve ser por todos vivida na fiel obediência ao magistério da Igreja e aos seus legítimos pastores, bem como na vivência daquela especial fraternidade que nasce do baptismo, que a todos une, em Cristo Nosso Senhor, na filiação a Deus Pai e na missão que o Espírito Santo realiza através de toda a Igreja e da Igreja toda.

Ser católico é, em termos etimológicos, ser universal: nada seria mais contrário do que a mentalidade de ‘capelinha’, ou o absurdo de ser muito ecuménico com os ‘de fora’ – os não católicos e os não cristãos – mas indiferente, desconfiado ou até hostil para com os ‘de dentro’, ou seja, para as outras espiritualidades e apostolados católicos. É muito salutar, sem dúvida, a abertura aos ateus, aos agnósticos, aos crentes de outras religiões e aos cristãos não católicos, mas não faria sentido que um tal ecumenismo não se traduzisse, também dentro da própria Igreja católica, pelo espírito e pela praxe da comunhão.

Se é verdade que cada presbítero é ordenado para o serviço da porção do povo de Deus que lhe é confiada pelo seu bispo, ou pelos seus legítimos superiores, o sacerdócio católico também está ordenado, pela sua própria natureza universal, para o serviço de toda a Igreja, no mundo todo. Por isso, a festa do passado dia 9 de Julho transcende a Companhia de Jesus, ou o patriarcado de Lisboa: estamos todos de parabéns!

Que Deus abençoe e acompanhe estes novos presbíteros da Companhia de Jesus! A sabedoria popular ensina: diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és! Que se note, pois, pelas vidas e ministério sacerdotal destes novos quatro padres, que também eles – como Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Pedro Fabro, João de Brito e tantos outros santos jesuítas – andam sempre em tão boa companhia!        

 

foto por Arlindo Homem