Artigos |
P. Manuel Barbosa, scj
Integrar, dialogar, gerar
<<
1/
>>
Imagem
Decorreu em Berlim, de 30 de junho a 3 de julho, o 44.° Encontro dos Secretários Gerais das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), no qual participei em nome da Conferência Episcopal Portuguesa; na pluralidade de cada país, foi um tempo de escuta e partilha, de celebração e comunhão, de pensar o que somos e queremos ser na Europa. Fomos ainda sensíveis à recente decisão referendária da Grande Bretanha de deixar a União Europeia (Brexit).

Sintetizo breves notas do comunicado, em parte alinhado pelas três palavras que o Papa Francisco utilizou para indicar a vocação da Europa, quando recebeu o Prémio Carlos Magno: integrar, dialogar, gerar. As mesmas inspiraram o nosso debate sobre a solidariedade com os migrantes e refugiados (integrar), com as famílias (dialogar) e entre as conferências episcopais do continente europeu (gerar).

INTEGRAR implica ser solidário com os migrantes e refugiados, nas numerosas experiências de generosidade e contribuição, de acolhimento e integração promovidas pela Igreja, mas também nas suas implicações relacionais com os Estados. Contudo, é preciso ter consciência que as várias políticas migratórias na Europa «são sobretudo inspiradas por uma leitura económica do fenómeno. Não podemos continuar a enfrentar este desafio limitando-nos a simples políticas de redistribuição. É preciso ter a coragem de tratar também as causas na origem deste fenómeno e acompanhar com responsabilidade a questão da integração. A história da Europa é uma história de migrações».

DIALOGAR exige ser solidário com as famílias, inspirados na Exortação apostólica Amoris laetitia. Da síntese apresentada sobre as iniciativas da Igreja em cada país da Europa para aplicar as indicações do Papa Francisco, percebe-se que «as conferências episcopais estão particularmente atentas aos caminhos de preparação para o matrimónio e a considerar a família como origem e fim de toda a ação pastoral da Igreja. Para isso, torna-se cada vez mais necessário estabelecer um diálogo entre a pastoral juvenil e a pastoral familiar; um diálogo e acompanhamento com os casais que já celebraram o matrimónio e a promoção da solidariedade inter-familiar».

GERAR indica um permanente trabalho solidário entre todas as conferências episcopais. Aqui emerge a prática da sinodalidade (caminhar juntos) na Igreja. «A sinodalidade é ao mesmo tempo uma atitude e uma prática eclesial, é uma dimensão da vida eclesial que permite preservar a unidade na Igreja, assim como as suas diversidades de expressões e respostas pastorais». A propósito, importa salientar a realização do Sínodo no nosso Patriarcado de Lisboa, quase a chegar ao momento decisivo de discernimento comunitário e, sobretudo, de novas propostas pastorais.

Num momento em que vivemos um intenso e renovado ânimo graças aos excelentes empenhos desportivos de Portugal na Europa, mas ao mesmo tempo a tentação do desânimo face a dramáticos acontecimentos de violência e morte junto dos refugiados, nos atentados em Nice e no golpe de Estado na Turquia, como recentes exemplos mais marcantes de destruição de numerosas vidas humanas, vale a pena revisitar e projetar os dinamismos que bebem da doutrina social da Igreja inspirados na frescura de autênticos valores humanistas.

Citando o cardeal Marx neste encontro de Berlim, «temos necessidade de uma renovação da evangelização. Para isso é preciso unir juntos o Evangelho e o nosso empenho pela Europa. O Evangelho é, de facto, a mensagem central para o continente europeu. Não podemos compreender a Europa sem a nossa fé, o Evangelho, e não podemos compreender a Igreja sem a história da liberdade que temos experimentado neste continente».

É por aí que passa o futuro da Europa, num rebuscar contínuo da sua alma e das suas raízes, sem cansar nem desanimar, como cidadãos transportados pelo Evangelho que é Cristo.