Alepo transformou-se no campo de batalha mais sangrento da guerra na Síria. A vitória ou a derrota deste conflito parece jogar-se ali. Combate-se rua a rua, bairro a bairro. Casa a casa. De Alepo chegam-nos gritos de ajuda. Há pessoas encurraladas, cercadas por tiros, bombas, destruição e morte. Há milhares de cristãos, de pessoas desesperadas que precisam da nossa ajuda agora.
A imagem do menino Omran Daqneesh, de apenas 5 anos, sozinho, sentado no banco de uma ambulância depois de ter sido retirado dos escombros da sua casa, destruída pela explosão de uma bomba, em Alepo, tornou-se, nos últimos dias, numa das mais poderosas imagens da guerra civil na Síria. Cheio de pó e ensanguentado, esta criança está completamente alheada, como se ainda não tivesse tomado consciência de todo o horror que representa. O seu irmão mais velho morreu nesse ataque. Omran é apenas uma criança, uma das muitas crianças sírias que nunca conheceram outra realidade para além desta guerra que dura há precisamente cinco anos. Em Alepo há milhares de outras crianças, como Omran, que estão sós, estão em lágrimas e imploram pela nossa ajuda.
Morte e destruição
É raro o dia em que não chegam da Síria notícias sangrentas. Cada raide aéreo, cada bombardeamento, cada incursão militar traz consigo morte e destruição, como se fosse possível ainda haver mais violência nesta guerra que parece não ter fim e que transformou este belo país num destroço de onde se escutam agora lamentos e sofrimento. De todas as cidades em guerra, Alepo é a mais fustigada. Parece que a vitória ou a derrota deste conflito se discute ali, nos seus bairros, nas suas ruas, casa a casa. Em Alepo vivem ainda milhares de pessoas. São os mais pobres dos pobres, os que não conseguiram fugir. A cidade está dividida em bairros. Cada bairro é um bastião armado. As pessoas estão encurraladas nestes lugares e não têm como fugir. A casa dia que passa é maior o sofrimento. Em Alepo quase não há electricidade nem água, ou alimentos frescos e medicamentos. Em Alepo só há guerra, o ruído das bombas que caem em silvos de morte, o desmoronar dos prédios, os escombros sangrentos das casas. Em Alepo, cidade transformada em campo de batalha, só resta a morte.
O exemplo das carmelitas
A situação é tão grave que a Fundação AIS lançou uma nova campanha internacional de emergência para ajudar estas populações. Não fazer nada seria criminoso. Cada bairro é um bastião armado controlado pelas forças governamentais ou pelos rebeldes, ou ainda por forças curdas ou de jihadistas. Para os civis, para quem as balas não têm cor ou ideologia, isso é quase indiferente. Para eles sobra apenas o medo, o sofrimento e o luto. Num desses bairros está situado o convento das Carmelitas Descalças. A Irmã Anne Françoise, que vive nesta comunidade religiosa, contactou a Fundação AIS para explicar, de viva voz, como são trágicos os dias em Alepo. “As pessoas estão a sofrer e a morrer”, disse. “Por favor, ajudem-nos! As bombas caem à nossa volta, mas não vamos abandonar o povo que está a sofrer.” Ao todo são seis irmãs. Quatro sírias e duas francesas. Apesar do medo e das enormes limitações materiais, estas carmelitas decidiram abrir as suas portas e, num edifício adstrito ao convento, passaram a acolher um grande número de famílias refugiadas por causa da guerra.
Ruído das balas
Esta é uma guerra que se escuta, com toda a crueza, dentro dos muros do convento. “Quando o exército sírio tenta impedir a oposição e outros grupos de entrar na cidade, os bombardeamentos e os disparos estão muito próximos de nós. Graças a Deus, ainda não nos atingiram, mas ouvimos constantemente as balas por cima das nossas cabeças”, diz ainda a Irmã Anne. No convento das Carmelitas de Alepo o murmúrio das orações mistura-se assim constantemente com o metralhar das balas, o silvo das bombas, o estrondo da destruição e o choro das pessoas. Estas irmãs pedem-nos ajuda. “Por favor, tenham piedade destes milhares de vidas desfeitas pela guerra. Por favor, não se esqueçam de nós. Precisamos das vossas orações e da vossa ajuda prática!”
Campanha de ajuda
A situação é dramática em Alepo. Tão dramática que a Fundação AIS decidiu lançar uma campanha internacional de ajuda de emergência para as populações dessa cidade, assim como para as famílias dos deslocados internos de Damasco, Tartus e Al Hassakeh, por exemplo. A estas famílias, que perderam tudo, é absolutamente vital ajudá-las a pagar agora a renda dos quartos onde estão alojadas provisoriamente, assim como auxiliá-las nos tratamentos médicos, na compra de roupa, na educação dos filhos e na alimentação. São milhares de famílias sem nada. São pessoas, homens, mulheres e crianças de mão estendida que pedem a nossa ajuda. Se a imagem do menino Omran Daqneesh, depois de ter sido retirado dos escombros da sua casa, destruída por uma bomba, em Alepo, não larga a nossa memória, será que ficaremos de consciência tranquila se não fizermos nada por todas as outras vítimas desta guerra?
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