Um sacerdote “persistente”, com uma “atitude mariana de acompanhamento”, que tocou “muitos sacerdotes do Patriarcado e de outras dioceses” como diretor espiritual. É desta forma que o Cardeal-Patriarca recorda o cónego Joaquim da Conceição Duarte, falecido no passado dia 7 de setembro, aos 81 anos. Um sacerdote que, nas suas paróquias, se destacou pela atenção à catequese da infância.
“Uma vida como foi a do senhor cónego Joaquim da Conceição Duarte, e a sua dedicação pastoral e sacerdotal, é para agradecer, tem uma origem, que é Deus, e só em Deus se pode concluir perfeitamente como agora, decerto, acontece”, manifestou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, na Missa exequial do cónego Joaquim da Conceição Duarte. Na capela do Seminário dos Olivais, a 8 de setembro, Festa da Natividade da Virgem Santa Maria, foram muitos os sacerdotes, do Patriarcado e de outras dioceses que quiseram estar presentes nas exéquias de um padre que dedicou diversos anos da sua vida à pastoral vocacional. “O senhor cónego Joaquim da Conceição Duarte atravessou a sua vida sacerdotal nesta diocese e em benefício não só desta diocese mas de muitas outras dioceses”, lembrou D. Manuel Clemente. Foram 35 os anos em que o cónego Joaquim foi diretor espiritual nos seminários diocesanos: primeiro em Almada, entre 1966 e 1999, pelo meio Olivais (1968-1969) e depois ainda no Seminário de Caparide, de 1999 a 2001.
Persistir
Lembrando “o nosso querido cónego Joaquim Duarte”, o Cardeal-Patriarca de Lisboa recordou, na homilia, estes anos da vida do sacerdote. “Nesta mesma casa, onde ele se tinha formado, no final dos anos 60 passou-se de uma grande quantidade de seminaristas para muito poucos, mesmo muito poucos. O senhor cónego Joaquim da Conceição Duarte sentiu, de uma maneira particular, toda esta crise. Muitos dos que aqui estão – e deixai-me incluir –, a partir dos anos 70, acompanhámos de perto a maneira como ele sentiu esta crise e como conseguiu ultrapassá-la. Isso significou persistir, e daqui, primeiro, para Almada, depois, onde ficou muito tempo, o cónego Joaquim, com os poucos colegas que ‘sobraram’ e estavam disponíveis para acarretar com essa responsabilidade da formação sacerdotal, em tempos de tanta perplexidade e interrogação, abriu um caminho que muitíssimos dos que aqui estamos somos devedores e exemplificação”, manifestou.
D. Manuel Clemente lembrou ainda a insistência do cónego Joaquim no estudo dos documentos conciliares. “Entre os anos 60 e os anos 70, para a formação sacerdotal e para a vida da Igreja em geral, não bastava continuar o que havia – porque já havia, nalguns casos, muito pouco ou mesmo nada. Tratava-se de voltar ao princípio e o cónego Joaquim Duarte encontrou esse princípio, como tantas vezes disse, no Concílio Vaticano II. Todos nós sabemos, não só nesses anos 70, mas depois nos 80, nos 90 e mesmo já na sua vida paroquial, que ele insistia na necessidade de ler e reler e de estudar, estudar mais, os documentos conciliares. Esta necessidade foi quase um refrão do seu discurso”, apontou.
Atitude mariana
Nesta celebração das exéquias do cónego Joaquim da Conceição Duarte, o Cardeal-Patriarca enumerou os documentos conciliares que o sacerdote sublinhava particularmente, “porque eram os da sua missão”, concretamente ‘Presbyterorum Ordinis’, sobre o ministério e a vida dos sacerdotes, e ‘Optatam Totius’, sobre a formação sacerdotal, além das quatro Constituições [Dei Verbum, Lumen Gentium, Gaudium et Spes e Sacrosanctum Concilium], “particularmente a constituição dogmática sobre a Igreja”.
É precisamente no último capítulo da constituição dogmática sobre a Igreja, Gaudium et Spes, “que Maria aparece como ícone daquilo que todos devemos ser como Igreja de Jesus Cristo”. “Quantos de nós, que aqui estamos, poderão contar histórias, as suas próprias histórias, em termos da atenção, do acompanhamento, quer na fase de formação sacerdotal quer depois ao longo da vida sacerdotal, protagonizados exatamente por esta atitude mariana do senhor cónego Joaquim da Conceição Duarte”, salientou D. Manuel Clemente, sublinhando que “esta atitude, no senhor cónego Joaquim, teve expressões muito bonitas de disponibilidade, de amizade, de ir ao fundo das questões”. “E o fundo das questões não é a cabeça é o coração”, garantiu.
Dedicação
Antes de ser ordenado sacerdote, em 15 de agosto de 1964, o cónego Joaquim Duarte fez a sua formação, de 1952 a 1955, no Seminário de Santarém, seguindo-se mais três anos no Seminário de Almada e seis nos Olivais, entre 1958 e 1964. Pertenceu ao curso de São Nuno de Santa Maria, onde esteve também o padre Joaquim Batalha, atual pároco de Ribamar. “De todos é conhecido o grande testemunho do cónego Joaquim da Conceição Duarte, pela sua dedicação à Igreja diocesana e particularmente na pastoral vocacional e o seu zelo na formação de muitos sacerdotes”, frisou o padre Batalha, no final da Missa exequial. Na sua intervenção, este sacerdote de 78 anos destacou a importância do cónego Joaquim na vida de padres de muitas dioceses. “Do Patriarcado de Lisboa, a Setúbal e Santarém, mas também das dioceses de Aveiro, de Beja e de Benguela, Angola”. E trouxe palavras de um antigo colega de ambos. “Em Benguela está o Bispo Emérito D. Óscar Braga, também pertencente ao nosso curso, que especialmente me recomendou a comunhão sacerdotal nesta celebração, com a garantia da sua oração, dando graças a Deus pelo dom da vida e pelo belo testemunho que o padre Joaquim nos deixou”, revelou.
“Longo testemunho”
Em 2014, durante a sua ordenação episcopal, D. José Traquina, Bispo Auxiliar de Lisboa, destacou a importância do cónego Joaquim da Conceição Duarte na sua vocação. “Pelos meus dezanove anos de idade, o Seminário vocacional de Almada, veio a descobrir-me em Alcobaça, terra onde trabalhava no comércio e estudava à noite. Deus tem os seus desígnios e envolve-nos na sua vontade de chegar a outros. Foi assim com o Padre Joaquim, agora Cónego Joaquim da Conceição Duarte, que em tempos tão especiais dos anos setenta, soube ir ao encontro dos jovens da zona pastoral do Oeste e vários entraram no Seminário. E foi assim que aconteceu comigo. Cumpri depois o Serviço militar em Santarém cultivando com gosto e alegria a oração diária. E naquela cidade, pelos 22 anos de idade, decidi deixar outros projetos e ir apresentar-me no Seminário de Almada, dizendo ao Padre Joaquim que estava disponível para responder ao convite que ele me tinha feito, dois anos antes”, partilhou, então, o novo Bispo Auxiliar do Patriarcado. Nesta celebração no Mosteiro do Jerónimos, no dia 1 de junho de há dois anos, precisamente a data de aniversário natalício do cónego Joaquim Duarte, D. José Traquina agradeceu-lhe ainda “de coração” o seu “longo testemunho”.
Profundo amor ao presbitério
Também o cónego Daniel Batalha Henriques, de 50 anos, destacou, na página do Patriarcado de Lisboa na rede social Facebook, a importância do cónego Joaquim da Conceição Duarte para a sua vida. “Tanto devo a este homem de Deus! O despertar vocacional aos meus 15 anos, a direção espiritual nos quatro anos do Seminário de Almada, o companheiro de equipa sacerdotal nos sete anos que passei na equipa formadora no mesmo seminário”, começou por lembrar o atual pároco de Torres Vedras. “Guardo dele tantas lições de vida e de fé! Uma guardo especialmente no coração: um profundo amor ao presbitério e uma entrega total aos colegas padres, particularmente os que estavam em maiores dificuldades. Ano após ano, todas as quintas-feiras, o seu dia de folga, saia muito cedo e regressava à noite para passar todo o dia a visitar os padres e a acompanhar os jovens no seu discernimento vocacional”, partilhou ainda este sacerdote.
Ligação à família
Vítor Cordeiro é primo em segundo grau do cónego Joaquim da Conceição Duarte – “a minha mãe era prima direita da mãe do padre Joaquim” – e recorda ao Jornal VOZ DA VERDADE as muitas tardes passadas no Seminário de Almada com o seu familiar sacerdote. “A minha mulher e eu casámos no dia 1 de junho, que era precisamente o dia de anos do padre Joaquim, e foram muitas as vezes que celebrámos o nosso aniversário de casamento com ele, no seminário. Os seminaristas organizavam uma festa, com violas e muita alegria”, conta. Vendedor de automóveis, em toda a zona do Oeste, Vítor lembra também “as diversas visitas” ao seu primo quando esteve, enquanto pároco, nas Caldas da Rainha. Depois de deixar esta paróquia, em 2015, o cónego Joaquim da Conceição Duarte passou este último ano na Casa Sacerdotal, em Lisboa. Também aqui, Vítor Cordeiro procurou sempre estar perto do seu familiar. “Ele nunca gostou de barulho e nos últimos tempos já falava muito devagar, mas perguntava sempre pelos sobrinhos e familiares”, lembra.
A amizade ao primo, no entanto, vem desde a infância. Em criança, Vítor ia muitas vezes passar férias a Azóia de Cima, a cerca de 15 quilómetros de Santarém, onde o cónego Joaquim nasceu. “Os meus pais nasceram lá, tal como a mãe dele, e sempre que o padre Joaquim ia à terra era uma festa, celebrava Missa. Nós, os mais jovens, íamos ter com o meu primo à igreja e ele era sempre muito carinhoso com todos”, recorda o primo Vítor, 11 anos mais novo do que o cónego Joaquim. “Era uma pessoa de um trato exemplar, finíssimo, muito educado”, lembra.
Atenção particular à catequese
Depois de 35 anos como diretor espiritual nos seminários diocesanos, estávamos no ano 2001 quando o cónego Joaquim assume, pela primeira vez, uma missão paroquial, em Caldas da Rainha e Vidais, e depois também no Coto e São Gregório. Esteve 14 anos nas Caldas da Rainha, até 2015, e a catequese foi sempre a sua preocupação e aposta pastoral, conforme revelou numa entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE em março de 2013. “Desde o princípio, a incidência foi a evangelização em geral e a catequese organizada. Uma das coisas que me empenhei sempre foi numa boa catequese de infância, até à Primeira Comunhão. Constituímos grupos pequenos, de cerca de oito elementos, e sou eu que os cuido particularmente”, testemunhava ao jornal diocesano, por ocasião da Visita Pastoral que decorria à sua paróquia.
Segundo revelou, um dos frutos da nova dinâmica da catequese de infância que implantou na paróquia foi a evangelização dos pais. “Os pais das crianças não eram grandes praticantes e frequentadores da Igreja, mas estão a começar a sê-lo pelo acompanhamento que prestam aos filhos na catequese”, destacava, então, o cónego Joaquim da Conceição Duarte.
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Perfil
Falecido no passado dia 7 de setembro, o cónego Joaquim da Conceição Duarte esteve durante muitos anos ligado à Pastoral Vocacional e foi responsável pela formação espiritual de gerações de sacerdotes. Foi diretor espiritual no Seminário de Almada (1966-1999), no Seminário dos Olivais (1968-1969) e no Seminário de Caparide (1999-2001). Ordenado em 15 de agosto de 1964, o sacerdote, que fazia parte do Cabido da Sé desde 1999, foi, entre 2001 e 2015, pároco de Caldas da Rainha. Acumulou, primeiro, entre 2001 e 2007, com a paróquia de Vidais, e depois, a partir de 2007, com a paróquia do Coto. Entre 2010 e 2011, foi também pároco de São Gregório.
Faleceu no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, com 81 anos de idade, vítima de doença prolongada.
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