Jornal Voz da Verdade

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02.10.2016

Domingo |

� procura da Palavra

A f�-j�-quase-s�-amor

DOMINGO XXVII COMUM Ano C
“Se tiv�sseis f� como um gr�o de mostarda...”
Lc 17, 6

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No evangelho de S�o Lucas os disc�pulos fazem a Jesus dois pedidos singulares: “Ensina-nos a rezar.” (11, 1) e “Aumenta a nossa f�.” (17, 5). N�o s�o ocasionais estes pedidos: o primeiro surge depois de verem Jesus rezar; o segundo depois de uma “conversa” sobre o perd�o. Do exemplo e da radicalidade das palavras de Jesus n�o nasce essa abertura que � base de toda a religi�o: ser com e como Deus? Por isso o tema da f� � central�ssimo no cristianismo, como no de todas as religi�es.

Mas o que dizemos quando dizemos “f�”? Quase sempre lhe juntamos o verbo “ter”: “ter ou n�o ter f�”. Como se fosse algo simplesmente “material”, que se pudesse p�r num bolso ou guardar num cofre, ou at� ser objecto de um exame. � a ideia de que a f� � essencialmente uma lista de “conte�dos”, de dogmas e tradi��es, dos par�grafos do Catecismo. Claro que h� uma intelig�ncia da f�, um “credo” que sintetiza e une, uma procura racional das raz�es da nossa esperan�a. Acreditar n�o � um acto de irracionalidade. Mas n�o se reduz a um saber, distinto do sabor que a vida ganha para quem tem f�. � a vida organizada segundo princ�pios fundamentais, pelos quais “damos a vida”, e a f� crist� � viver com e como Cristo. Essa � a f� que move montanhas, pois ao pensar, sentir e agir como Jesus, encontramos a forma mais divina de sermos humanos. Mais do que os dogmas, o que faz mover as montanhas (e poder�amos pensar nas “montanhas” das guerras, das injusti�as, da desumanidade, da indiferen�a, e tamb�m nos “montinhos” que cada um de n�s bem conhece!) � amar como Jesus!��

Diz o te�logo Hans Urs von Balthasar, no pequeno livro j� surpreendente pelo t�tulo - “S� o amor � digno de f�”: “S� o amor � cred�vel, nada mais do que o amor pode e deve ser crido. A realiza��o, a “obra da f�”, consiste em reconhecer esta prioridade absoluta do amor, por nada alcan��vel e acess�vel. Crer que o amor, o amor absoluto existe – e tal como realidade �ltima, sem nada mais al�m. [...] A primeira coisa que, na f� dos crist�os, deveria surpreender um n�o-crist�o � que eles, de um modo vis�vel, arriscam demasiado.” Sim, h� um risco demasiado em viver a f� que � j�-quase-s�-amor. Pois a f� est� marcada com o sinal da cruz tra�ada sobre cada um em cada momento comunit�rio de ora��o: da cabe�a ao peito e de um ombro ao outro, como que a dizer que a intelig�ncia e o cora��o determinam a for�a para viver com e como Cristo

Um novo ano pastoral come�a em cada in�cio de Outono. Velhos ritmos e novos desafios agitam as nossas comunidades. A alegria do servi�o que vence o perfeccionismo e o ego�smo � um bom cont�gio de renova��o. No gosto de aprofundar a intelig�ncia da f�, no debate de ideias, na reflex�o partilhada, na vontade de sonhar, e na vida transformada os pequenos gr�os de mostarda podem tornar-se belas �rvores. Conhe�amos as verdades “sem as quais n�o pod�amos viver” e concretizemo-las em amor efectivo!

P. V�tor Gon�alves