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Iraque: cumpriu-se o sonho do seminarista Martin Baani
O padre do sorriso
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Expulso da sua aldeia, no auge dos ataques jihadistas no Iraque, Martin Baani foi obrigado a fugir com a roupa que trazia vestida. Só teve tempo para salvar o Santíssimo da igreja de Karamlesh, onde vivia. Tudo o resto ficou para trás. Martin era seminarista e prometeu ali, na igreja vazia que estava prestes a ser profanada, que ninguém iria impedi-lo de cumprir o sonho da sua vida.

 

Martin, por mais anos que viva, nunca mais conseguirá esquecer esse fim de tarde de 6 de Agosto de 2014 quando todas as pessoas da aldeia de Karamalesh, onde vivia, fugiram apavoradas perante a iminente chegada dos jihadistas do auto-proclamado Estado Islâmico. Foi um susto, um pavor. Na memória de Martin há ainda os gritos confusos das pessoas a tentarem resgatar alguma coisa de suas casas, na certeza quase absoluta de que não voltariam mais a entrar por aquelas portas, a andar naquelas ruas. Na memória de Martin há ainda a confusão de centenas de pessoas em fuga, umas atrás das outras, todas perdidas, todas assustadas. Por mais anos que viva, Martin nunca mais poderá esquecer também aqueles instantes em que, como num arrebatamento, decidiu voltar atrás, já estavam todos os outros no carro: o Pe. Paul Thabet e outros três sacerdotes. Não havia tempo a perder. Os jihadistas estavam a poucos quilómetros de distância e traziam consigo o horror de histórias de massacres, de mulheres escravizadas, da barbárie absoluta. Mas Martin teve de voltar atrás, teve de regressar à Igreja. Era preciso resgatar o Santíssimo.

 

Seguir a vocação

Martin tinha então 24 anos. A Igreja de Santo Adaal, em Karamalesh, estava vazia. Todos passavam por ela apressados, em fuga, como se a igreja já nem existisse. Martin, porém, só pensava em resgatar o Santíssimo e levar consigo alguns dos livros sagrados que atestavam a presença cristã de centenas de anos naquela região. Martin Baani era ainda seminarista. Durante anos alimentara o sonho de entregar a vida a Deus, de se oferecer por inteiro ao povo Iraquiano. Quando o carro se afastou velozmente de Karamalesh, com o Santíssimo já a salvo, muito provavelmente terá havido um enorme silêncio. Todas as palavras seriam inúteis. Aquela seria, por certo, uma viagem sem retorno. Todos fugiam dos jihadistas. Martin, no entanto, estava apenas a ir ao encontro do seu próprio destino. Foram dez horas de carro até ao norte do país, até Ankawa, o subúrbio cristão da cidade de Erbil. Tal como Martin, também os seus familiares mais próximos foram escorraçados de casa, foram obrigados a fugir. Porém, ao contrário dele, decidiram partir rumo aos Estados Unidos. Martin decidiu ficar no Iraque para continuar a sua caminhada até ao sacerdócio. “Quero servir o meu povo. Esta é a minha vocação. Amo o meu povo, amo o meu país. Tenho de ficar e servi-lo.”

 

O regresso a casa

Dia 16 de Setembro de 2016. A igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Erbil, no chamado Curdistão Iraquiano, está a abarrotar de fiéis. É dia de ordenações. Entre os sete novos sacerdotes está Martin Baan. Tem agora 26 anos. Passaram exactamente dois anos e quarenta e um dias desde que os jihadistas ocuparam Karamalesh e provocaram a fuga de toda a população. No final da Missa, o Pe. Martin agradeceu a Deus pelo apoio que recebeu de amigos e família, agradeceu a ajuda preciosa do Pe. Thabet, o seu director espiritual, e agradeceu a todos os fiéis que, em todo o mundo, rezaram por ele. A ocupação da sua aldeia pelos jihadistas não o derrotou. Pelo contrário. Tornou-o mais forte, permitiu-lhe ver com clareza a sua missão. Durante exactamente dois anos e quarenta e um dias, enquanto se preparava para o sacerdócio, Martin foi aos campos de refugiados para acompanhar as famílias cristãs, procurando ajudá-las no seu sofrimento, nas suas dores, nas suas lágrimas. Por ali, todos o conhecem, todos o estimam. Todos recordam a ternura do seu sorrido. Era apenas o Martin. Agora é o Pe. Martin.

 

As nossas orações
No ano passado, a Fundação AIS lançou uma campanha, junto dos seus benfeitores e amigos, denominada “adopte um seminarista na oração”. Martin Baan era um desses seminaristas. O tempo passou. Agora, o Pe. Martin vai ser enviado para Bagdade para, depois, ir para a cidade de Duhok. Para onde quer que vá, seja uma cidade, vila, ou mesmo na mais insignificante aldeia, haverá, por certo, gente em lágrimas que precisa de ajuda. O Pe. Martin vai, com o coração cheio, para Duhok, sempre à espera do dia em que possa regressar a Karamalesh para entrar de novo na sua igreja e poder ajoelhar-se junto ao Santíssimo que ele próprio salvou das mãos dos jihadistas. O Pe. Martin pede que não o esqueçamos mais, que o ajudemos nesta missão que sonhou para a sua vida. Não quer adoptar este sacerdote nas suas orações?

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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