Domingo |
À procura da Palavra
Tanto para agradecer
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DOMINGO XXVIII COMUM Ano C
“Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus
senão este estrangeiro?”
Lc 17, 18

 

Na ilha de Okinawa, no Japão, existem mais pessoas com idade superior a 100 anos por cada 100 mil habitantes do que em qualquer outra região do mundo.” Assim começava uma notícia do jornal electrónico “Observador” na passada semana, que dava conta da investigação de dois jornalistas sobre o segredo de tal facto. No local coligiram uma lista de 10 lições de sabedoria e simplicidade que publicaram em livro, semelhantes a muitas outros que se encontram coligidas em muitos outros livros. Interpelou-me especialmente a oitava, dita numa única palavra: “Agradeça.” E citavam os autores: “Ter consciência da inconstância das coisas não deve entristecer-nos, mas ajudar-nos a amar o presente e as pessoas que nos rodeiam.”

Não é apenas de gratidão que o coração dos dois leprosos, cujas curas nos relatam as leituras deste domingo, está cheio. Sim, eles fizeram a experiência de um milagre de Deus, de uma “pequena” ressurreição que os pôde trazer de novo à comunhão com amigos e familiares, e glorificam Deus, num acto de fé que é surpreendente. Mas a gratidão é o sentimento primeiro, no qual a fé lança raízes e cresce. Duplamente excluídos, pela origem e pela doença, experimentam a cura e a libertação de que Deus é especialista, tão distante dos legalismos e fronteiras que, muitas vezes os seus “servidores” sabemos criar. Como não explodir de gratidão? E pergunto-me como cultivamos, na educação dos mais novos e nas relações, nas alegrias e nas adversidades, a gratidão por tantos “milagres” recebidos? Saboreamos essa alegria de dizer “obrigado!” (e que pena termos perdido a tradição latina da palavra “gratias”) a quem nos faz bem e dá vida, ou vivemos tão obcecados por aquilo que nos falta que desistimos de agradecer?

Não é fácil agradecer quando tudo parece ruir, quando os sonhos se desmoronam e a realidade é tão violenta que nos sentimos esquecidos até de Deus. E se no desejo da cura, Naamã e o samaritano fizeram o caminho até Eliseu e até Jesus, e a ambos foram dadas ordens simples (“vai banhar-te no Jordão”, e “ide mostrar-vos aos sacerdotes”) há quem viva a gratidão no meio de um mal inimaginável. Verdadeiros tratados de vida, de fé e de gratidão são dois “Diários” que germinaram no meio do horror nazi. O de Anne Franck e o de Etty Hillesum. Leituras extraordinárias a que seria bom voltar de tempos a tempos. Escreveu Anne Franck: “A beleza continua a existir mesmo no infortúnio. Se a procurares, descobrirás cada vez mais felicidade, e recuperarás o equilíbrio. Uma pessoa feliz tornará as outras felizes; uma pessoa com coragem e fé nunca morrerá na desgraça. [...] Quero continuar a viver depois da morte! E é por isso que estou tão grata a Deus por me ter dado este dom que posso usar para me exprimir tudo o que esta dentro de mim.” E Etty Hillesum: “Quando fico parada num canto do campo, com os pés fincados na terra, os olhos levantados para o teu céu, tenho por vezes a cara inundada de lágrimas – único escape da minha emoção interior e da minha gratidão. À noite também, quando, deitada na minha cama, me recolho em Ti, meu Deus, lágrimas de gratidão me inundam às vezes o rosto. É a minha oração.

Agradecer é também um milagre. Que cura muitas feridas e enche de vida os corações vazios. Pode nascer ou fazer nascer a fé. Vivemos agradecidos?

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