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Ucrânia: milhares de pessoas dependem da ajuda da Igreja
A guerra esquecida
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No Leste da Ucrânia, desde que deflagrou o conflito entre separatistas pró-russos e as forças de Kiev, em 2014, há milhares de pessoas que vivem como que esquecidas, que sofrem, que estão abandonadas e que precisam de ajuda. A Igreja tem desenvolvido um trabalho notável junto destas populações, mas sem a nossa ajuda pouco podem fazer…

 

O Papa Francisco tem apelado à generosidade dos Cristãos da Europa para com estas populações sitiadas pela violência no Leste da Ucrânia. Este ano, em Abril, pediu até uma colecta especial a favor das vítimas desta guerra. E são já milhares de pessoas – talvez mais de 10 mil - que perderam a vida neste conflito que o mundo tende a querer ignorar. E são seguramente mais de dois milhões os que perderam tudo o que tinham por causa desta guerra. Esta multidão de desalojados, em plena Europa, nos dias de hoje, não deixa de interpelar as nossas consciências. A resposta dos Cristãos da Europa ao apelo do Santo Padre foi um sinal de que estas populações não podem ser abandonadas e muito menos esquecidas. O Bispo Bohdan Dzyurakh agradeceu “esta generosidade” em nome de todos os ucranianos que “diariamente estão a sofrer”, devido a este conflito “injusto e feroz”. Disse ele: “Em nome de todos, obrigado por não nos terem deixado sozinhos no nosso sofrimento, por não terem sido espectadores indiferentes mas nossos irmãos e irmãs”. O bispo ucraniano disse ainda que este conflito, que já deixou tantas famílias enlutadas, tantas pessoas em lágrimas, nunca se resolverá verdadeiramente nem pela força das armas nem pelas negociações diplomáticas, se não houver um desejo real de paz. É necessária a “oração de todos para que o amor e o perdão se sobreponham ao ódio e à violência”, disse D. Bohdan.

 

Beco sem saída

Nas zonas tampão, entre as forças pró-russas e os militares ucranianos, vive-se todos os dias o receio de que o clima de forte tensão possa degenerar em troca de tiros, em guerra aberta. As populações sentem-se ameaçadas e desprotegidas. A pobreza em que já viviam agravou-se ainda mais. Sem trabalho, com a ameaça permanente da guerra, milhares de pessoas vivem como que encurraladas num beco sem saída. Para cuidar delas, resta apenas a solidariedade da Igreja. São muitas vezes as congregações femininas que têm estado nesta nova linha da frente da solidariedade perante estas populações quase esquecidas. Estas irmãs são hoje o sinal bem visível da presença renascida da Igreja depois das décadas de opressão nos tempos soviéticos. Na Ucrânia há hoje 56 congregações femininas num total de cerca de meio milhar de consagradas. Cerca de metade são bastante jovens. Quase todas estas congregações são apoiadas directamente pela Fundação AIS. Sabina Pekala, das Irmãs Missionárias de São Orione Kharkiv, dedica os seus dias a estes novos pobres do Leste do país. “Desde há ano e meio que há um grande número de refugiados. São pessoas que nos procuram e pedem ajuda todos os dias para o mais básico: a alimentação, roupa, medicamentos.”

 

Novos pobres

Todos estes novos refugiados são pessoas comuns que perderam a vida normal que levavam com a anexação dos territórios do Leste do país pelas forças pró-russas e a instalação do clima de guerra. São novos refugiados. São novos pobres. Às vezes, quase todos os dias, as Irmãs têm de decifrar nos seus olhares aquilo de que mais precisam e não conseguem sequer pedir. Não é fácil mendigar. Diz, de novo, a irmã Sabina: “Sentem-se humilhados, porque têm de vir aqui e nós temos de agir com cautela. Às vezes percebemos nos seus olhos que precisam de algo, mas não o dizem. São pessoas desesperadas… Muitos perderam as suas casas, estão todos traumatizados, choram… Às vezes – acrescenta a irmã – também nós ficamos com lágrimas só de os escutarmos…”

 

O contágio do amor

As Irmãs Missionárias de São Orione Kharkiv são testemunhas, também, de que a solidariedade se contagia. “Muitas vezes – diz a I.rmã Sabina – batem-nos à porta e trazem-nos algum dinheiro. Muitos trazem roupa. Vêm e dizem: ‘vemos que ajudam e alimentam tantas pessoas. Podemos ajudar-vos de alguma maneira?’ Digo sempre que sim. Todos dão o que têm. Alguns trazem maçãs do quintal, outras trazem uvas…”
Estas irmãs são, na sua pobreza, o sinal da solidariedade da Igreja. A própria casa em que vivem precisa de obras urgentes, especialmente a renovação do telhado. Quando chove muito ficam com a cozinha e a casa de banho inundadas. Mas elas, à semelhança das pessoas que lhes batem à porta, também estão de mãos estendidas. A Fundação AIS tem procurado ajudar – graças à generosidade dos seus benfeitores e amigos – estas irmãs assim como todas as congregações ucranianas que, todos os dias, procuram aliviar estas populações vítimas da guerra mais esquecida na Europa.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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