Doutrina social |
Centenário da morte do beato Carlos de Foucauld
A proposta de Jesus provoca consequências sociais
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“A proposta de Jesus é o Reino de Deus. Na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos”. Assim o afirma a exortação apostólica “Alegria do Evangelho” (180) e logo a seguir: “A verdadeira esperança cristã, que procura o Reino escatológico, gera sempre história.” (181).

 

A semente que desaparece mas não morre

A Família de Foucauld está a celebrar o centenário da morte do seu Fundador, o irmão Carlos de Jesus, que teve um itinerário de vida muito singular: órfão desde os 6 anos, no meio de uma adolescência difícil perde a fé. Faz muitas tentativas para vencer o tédio da vida: abandonando a carreira militar na Argélia, põe-se a explorar Marrocos, sendo muitas vezes acolhido e protegido por muçulmanos muito religiosos, o que o interpela no sentido da fé. Regressado a França converte-se e descobre Deus como um pai infinitamente próximo e cheio de ternura. Numa peregrinação à Terra Santa descobre o rosto de Jesus de Nazaré e a sua obscura existência de trabalhador manual. Passa pela Trapa, depois vive como eremita em Nazaré. Na sua busca regressa a Argélia, estabelecendo-se em Beni Abbés, no deserto do Saará, construindo aí, não um “mosteiro”, mas uma “fraternidade”, uma casa de porta sempre aberta a todos os que ali vierem: “Quero habituar todos os habitantes, cristãos, muçulmanos, judeus, idólatras… a verem em mim um irmão, o irmão universal”. Três anos depois, põe-se a caminhar para as montanhas selvagens de Hoggar, onde nomadizam os Tuaregues e aí reconhece ser o seu lugar. Um ano se passa até vencer a desconfiança das tribos e então estabelece-se em Tamanrasset, onde, na tarde do dia 1 de Dezembro de 1916, morre vítima de um grupo de rebeldes. O chefe, fervoroso muçulmano, escreveu: “Carlos, o marabuto (monge muçulmano), não morreu só por vós, morreu também por todos nós. Que Deus lhe conceda misericórdia e nos reencontremos com ele no paraíso”.

 

A força oculta da semente

Lançada à terra a semente aparentemente morre; mas a força da vida está dentro dela. A pessoa é essa semente, que leva consigo um tremendo potencial de vida, ainda que não se faça notar. Só com algum esforço se consegue sair do banal da vida: existe o que aparece; se não aparece não existe. O olhar superficial fixa-se nos títulos, nas coisas possuídas, nas influências alcançadas. A força da semente não precisa de ser criada; apenas desvendada. O Espírito de Deus, que se movia sobre o mundo informe e vazio, continua a ser o princípio da sua transformação.

Há um ano foi celebrada a passagem dos 50 anos do Pacto das Catacumbas. A tomada de posição de um grupo de Padres Conciliares não nasceu do nada; foi fruto de uma consciência e de uma atitude vivida com o desejo de uma maior identificação com Jesus de Nazaré. Esse foi o fermento que prepararia as transformações tornadas visíveis durante e depois do Concílio, que foram muitas, mas que têm de continuar. Exprime uma visão assumida pelo chamado “Grupo da Igreja dos Pobres”, onde é percetível a inspiração de Paul Gauthier, padre operário e da religiosa carmelita operária em Nazaré, Marie-Thérèse Lescase e dos grupos ligados à espiritualidade de Carlos de Foucauld, empenhados em destacar a memória do Cristo dos Pobres. Essa perspetiva continua a pautar o modo de ser, de viver e anunciar o Evangelho, com toda a sua “fragilidade”, mas ao mesmo tempo com o seu poder transformador. A ternura não é sinónimo de fraqueza, mas sim de fortaleza e audácia, que se manifesta sem medo nem barreiras.
Num mundo em ebulição e por vezes à deriva dos humores dos que aparecem com poder, há que olhar para essas sementes de transformação dum mundo egoísta num outro de fraternidade. Carlos de Foucauld, os Monges de Thiberine, o Irmão Roger são figuras próximas de nós no tempo e próximas do projeto de Jesus, o tal “fracassado” que continua a interpelar a quem busca a verdade. Todos eles, sem exércitos ou fabulosos orçamentos, têm sido, com os irmãos, um fermento de humanização e pacificação para o mundo. Celebrar cem anos da morte do “irmão universal” é celebrar a semente que não morreu.

texto pelo P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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