Lisboa |
Visita do Cardeal-Patriarca à Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz, em Lisboa
Esperança no que há de vir
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É do futuro que se trata na Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz, em Lisboa – um local onde “diariamente se promove a esperança” e que, no passado dia 16 de dezembro, recebeu a visita do Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

 

Cuidados continuados e paliativos não são sinónimo de um conjunto de tratamentos ministrados a pessoas em fim de vida ou que estão numa espécie de “antecâmera da morte”, frisa Isabel Galriça Neto, diretora da Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz, em Lisboa, durante um encontro do Cardeal-Patriarca com os profissionais deste serviço hospitalar. Para esta médica, o trabalho multidisciplinar, em equipa, atento à “esfera social, espiritual e religiosa” da pessoa doente e da sua família é uma marca dos cuidados paliativos e garante de um bom serviço. “A nossa vitória não é aquela que, muitas vezes, as pessoas esperam... que é  acharmos que todos são imortais. Todos somos mortais. Nós precisamos de uma sociedade paliativa e dos cuidados paliativos. É uma área que tem de existir na saúde”, defende.

 

Criar futuro

Falar de esperança numa unidade de cuidados paliativos não é um contrassenso, num local onde “diariamente se promovem esperanças”, com pequenas metas, tal como um casamento, reconciliações entre familiares, entre outros. Em conversa com funcionários da unidade hospitalar, o Cardeal-Patriarca observou: “Todos crescemos como pessoas, sejam qual for a fase da nossa vida... Houve pessoas que aqui, nesta unidade, descobriram dimensões da sua personalidade que nunca tinham descoberto”. D. Manuel Clemente também voltou a salientar a importância de se “transformar” a sociedade numa “sociedade paliativa”. “Uma sociedade que envolva, que apoie. Todos nós precisamos de uma sociedade em que sejamos protagonistas e que seja paliativa. Se começamos a idealizar uma sociedade do fitness, da perfeição, qualquer dia estamos todos de fora”, alertou.

Para o Cardeal-Patriarca, “unidades como esta são unidades muito criadoras de futuro – do único futuro que é digno desse nome – e estão na primeira linha da sociedade que queremos para todos. Cada uma das vitórias que se fazem nesta unidade, é bom para a sociedade inteira”.

D. Manuel Clemente sublinhou ainda a importância de ser mantido o artigo nº 24 da Constituição da República Portuguesa: “A vida humana é inviolável”. “Como é que este artigo se confirma, pela positiva?”, questionou, destacando o trabalho realizado pelos profissionais deste hospital em Lisboa.

Na tarde do passado dia 16, após o encontro com estes profissionais, o Cardeal-Patriarca visitou alguns dos doentes internados nesta unidade, deixando-lhes palavras de conforto, esperança e votos de um bom Natal.

 

Trabalho a fazer

Nomeado há cerca de quatro meses para a missão de capelão do Hospital da Luz, em Lisboa, o padre Gonçalo Figueiredo, da Ordem dos Frades Menores, destaca ao Jornal VOZ DA VERDADE a “grande importância” da visita do Cardeal-Patriarca à Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do hospital. Esta visita vem “mostrar a riqueza dos cuidados paliativos” e, para o pessoal não doente, “surge como o reforço da importância do trabalho que está a ser feito”. “Foi um momento muito bom”, classifica este sacerdote religioso, que aponta ainda um caminho a ser feito na área dos cuidados paliativos: “Esta questão da sociedade paliativa tem de ser trabalhada, a nível de sociedade, a nível do cuidado médico e da atenção ao doente”.

Devido às características próprias de um hospital particular, marcado pelos internamentos de curta duração, a capelania do Hospital da Luz tem atualmente seis voluntários que “são igualmente Ministros Extraordinários da Comunhão”. “Para além de visitarem os doentes, dão a comunhão diária àqueles que desejam”, explica o padre Gonçalo, sublinhando a importância da “implicação da família” no processo de cuidado e tratamento do doente.

  

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A importância da esperança nos doentes vulneráveis e em fim de vida

 

Por: Ana Luísa Gonçalves, Ana Filipa Guedes, Rita Santos Silva (enfermeiras) e Isabel Galriça Neto (médica)

In revista ‘Patient Care’, novembro 2016

 

(...) A espiritualidade assume-se como um princípio vital e universal, sendo definida como a consciência do transcendente (o que está para além de nós). Está relacionada com o significado e finalidade da vida e pode associar-se à relação com os outros, com a natureza, e eventualmente para alguns com Deus. Independentemente de ter ou não um credo religioso, todo o ser humano tem uma dimensão espiritual.

Por seu lado, a esperança, definida como uma necessidade espiritual, é descrita como um poder ou força que impulsiona a pessoa a transcender-se da situação atual, em direção a uma nova consciência e enriquecimento do ser, ou também como uma forma de encontrar sentido na vida. De forma pragmática, poderemos dizer que a esperança é a expectativa de a pessoa doente poder atingir um objetivo e constitui um pilar da dimensão existencial e espiritual do ser humano, doente ou não.

(...) Nos últimos anos, a esperança emergiu como um fator terapêutico na literatura sobre saúde, e a investigação disponível suporta a noção de que a esperança é, por um lado, uma estratégia de coping, mas também um importante fator na majoração da qualidade de vida dos doentes com cancro. Por outro lado, a desesperança ou desalento em doentes com cancro avançado, prediz a ocorrência de ideação suicida e de desejo de morrer. A Esperança influencia a sensação de bem-estar, estando ligada à dimensão física, emocional e espiritual. Parece também facilitar e potenciar a capacidade dos indivíduos para contemplarem a sua finitude e o final de vida sem entrarem em desespero, e a viver os seus últimos tempos da forma mais plena possível. (...) A pessoa doente não tem apenas a esperança da cura, mas tem, pode e deve ter, vários objetivos e esperanças, nomeadamente quando a cura deixa de ser viável.

Uma comunicação empática, baseada numa relação de ajuda e que respeita as crenças e valores dos doentes, promove proativamente a esperança, não de forma incorreta e irrealista (por exemplo, prometendo a cura quando objetivamente ela deixou de ser realista), mas sim buscando objetivos realistas, passíveis de serem concretizados.

 

Como promover a esperança nos doentes

(...) A pessoa tem necessidade de alcançar um significado para a vida, principalmente em situações de crise, como o lidar com a doença e/ou preparação para a morte. A existência ou ausência de esperança pode influenciar decisivamente o modo como alguém vivencia essa fase. Abordando especificamente doentes que necessitam de cuidados paliativos e se encontram na fase final de vida (últimos 12 meses de vida), a esperança é parte integrante e determinante na existência destas pessoas, pois é um processo que lhes permite suportar o sofrimento e um meio que ajuda a mobilizar forças para facilitar a sua vivência, ajuda na adaptação à sua doença, reduz a angústia psicológica, aumenta o bem-estar psicossocial e a qualidade de vida.  Neste contexto, quando a cura não é possível, o focus da esperança assume uma importância fundamental na forma como os doentes vivem o período de fim da vida. Quando a cura passa a ser inviável, o reorientar da esperança, o estabelecimento de objetivos realistas com a pessoa doente, sem negar a existência de doença crónica e/ou incurável, constituem uma das formas de restaurar e manter a esperança.

  

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Bastonários, juntos, contra a Eutanásia

O atual Bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, e os seus antecessores António Gentil Martins, Carlos Soares Ribeiro, Germano Sousa e Pedro Nunes subscreveram uma declaração, no passado mês de setembro, em que se manifestam contra a eutanásia, o suicídio assistido e a distanásia. No texto da declaração, os bastonários começam por considerar que “nas suas múltiplas dimensões, a vida humana é inviolável” e que a eutanásia “é a morte intencionalmente provocada por um profissional de saúde”. “Não é mais do que tirar a vida, seja qual for a razão e a idade. Não é eutanásia a aplicação de medicação ministrada com a intenção de diminuir o sofrimento do doente terminal mesmo que contribua indiretamente para lhe abreviar a vida (mecanismo do duplo efeito)”, salientam os profissionais que lideraram e lideram a Ordem dos Médicos. Na opinião do atual Bastonário e dos seus antecessores, “em nenhuma circunstância e sob nenhum pretexto, é legítimo a sociedade procurar induzir os Médicos a violar o seu Código Deontológico e o seu compromisso com a Vida e com os que sofrem”.

  

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Eutanásia – O que está em causa?

No passado mês de março, a Conferência Episcopal Portuguesa publicou uma nota pastoral que apresenta alguns esclarecimentos sobre “o que está em causa” no debate sobre a legalização da “eutanásia” e do “suicídio assistido”. No documento ‘Eutanásia: o que está em causa? Contributos para um diálogo sereno e humanizador’, disponível em http://goo.gl/CYXtak, é contestada a legalização da eutanásia em Portugal,  salientando-se que “o direito à vida é indisponível, como o são outros direitos humanos fundamentais, expressão do valor objetivo da dignidade da pessoa humana”.

Nesta nota pastoral, os bispos portugueses alertam, também, para o facto de, numa eventual legalização da eutanásia, não se eliminar “o sofrimento com a morte: com a morte elimina-se a vida da pessoa que sofre. O sofrimento pode ser eliminado ou debelado com os cuidados paliativos, não com a morte”, refere a nota da CEP.

Também no comunicado da Assembleia Plenária da CEP, que se realizou no passado mês de abril, foi sublinhado que “a Igreja nunca deixará de defender a vida como bem absoluto para o homem, rejeitando todas as formas de cultura de morte”, e deixado o apelo a uma maior promoção da “proximidade junto dos que mais sofrem” e que “se intensifique a rede de cuidados paliativos como direito para todos, os quais servem para ajudar a viver e fomentar a esperança”.

texto e fotos por Filipe Teixeira
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