Lisboa |
Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Diocese de Lisboa
“Em todas as paróquias e movimentos deve haver lugar para a pessoa com deficiência”
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A coordenadora do novo Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Diocese de Lisboa não tem dúvidas de que a pessoa com deficiência deve ser integrada nas paróquias e movimentos da Igreja. Conceição Teixeira Martins diz ser urgente “fazer o levantamento do que está a ser feito nas paróquias”, nesta área.

 

“Esta pastoral visa, em termos práticos, que a pessoa com deficiência e as suas famílias se sintam verdadeiramente acolhidas na Igreja e se sintam pertencentes à Igreja, com lugar para elas. Que sintam que são importantes para a Igreja”. Conceição Teixeira Martins é a primeira coordenadora do novo Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Diocese de Lisboa, que o Cardeal-Patriarca criou no final do ano 2016. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, esta responsável salienta que “este é um caminho que se está a iniciar e que se quer fazer em unidade com as paróquias, as famílias e todos aqueles que dão resposta à pessoa com deficiência”.

Como mãe de uma filha com deficiência, Conceição vive situações muito diversas nas comunidades cristãs: “Há paróquias que não estão despertas nem muito abertas para esta realidade; existem situações em que o facto de a pessoa com deficiência estar ou não estar é indiferente, desde que não incomodem também não fazem muito para os acolher e para que se sintam integrados; mas há também casos de paróquias que estão a dar uma boa resposta, em que se integra a pessoa com deficiência e se está atento às suas necessidades e às da própria família”.

 

Um serviço de animação

Em Portugal, o Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência foi criado pela Conferência Episcopal, em novembro de 2010, no âmbito da Pastoral Social. Atualmente, são quatro as dioceses portuguesas que têm equipas nomeadas oficialmente: além de Lisboa, também o Algarve, Bragança-Miranda e Portalegre-Castelo Branco. “Existem outras dioceses com uma ou outra pessoa a colaborar, mas ainda não têm equipa nomeada”, aponta Conceição.

No Patriarcado, este novo serviço pastoral foi também integrado no Sector da Pastoral Social da diocese. “Eu pertencia à equipa nacional quando foi feito o convite para partirmos com esta equipa na Diocese de Lisboa. Tem sido o senhor D. José Traquina, Bispo Auxiliar de Lisboa, que tem trabalhado connosco e o que sinto como sua maior preocupação é que sejamos sobretudo uma equipa animadora, não uma equipa para fazer grandes atividades. Sobretudo ser uma equipa que esteja de retaguarda às paróquias, às instituições, no apoio que se possa dar na intercomunicação desta realidade, na partilha de experiências. Este é sobretudo um serviço de animação, de animar aqueles que já fazem e incentivar aqueles que ainda não o realizam”, refere a coordenadora.

 

Paróquias sensíveis

Em termos paroquiais, que caminho pode ser feito com as pessoas com deficiência? “A deficiência é muito abrangente, portanto os caminhos são variados. Consoante as realidades das paróquias e consoante as realidades específicas que têm na sua paróquia, o caminho será começar por alguma coisa, e depois ir abrangendo e tornar o leque mais abrangente”, responde Conceição Teixeira Martins, exemplificando com “as paróquias que conseguem fazer a integração da pessoa com deficiência a nível da catequese ou dos acólitos”.

No plano de ação inicial, a coordenadora do novo Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Diocese de Lisboa refere que, nesta primeira fase, vai ser feito “o levantamento daquilo que já existe”. “Isso vai permitir às famílias que tenham facilidade de deslocação poderem ir onde já há resposta; e vai também permitir que às paróquias que ainda não têm resposta, e estão interessadas em ter, nós possamos dizer o que se faz noutras paróquias em termos de serviço e acolhimento e colocá-las em ligação”, revela Conceição, reforçando “o desejo de que todas as paróquias estejam sensibilizadas para esta área”. A ideia inicial é, assim, “abranger a paróquia como um todo”, sem esquecer os centros sociais paroquiais.

 

Despertar para a deficiência

Conceição recorda que “há 30 anos os deficientes eram muitas vezes colocados em escolas específicas ou ficavam em casa” e reconhece, por isso, que “a sociedade deu um salto para a integração da pessoa com deficiência”. “Nós vamos aos centros comerciais e cruzamo-nos com pessoas com deficiência, vemos pais com os filhos deficientes em espaços de lazer. Portanto, há já uma presença maior, no entanto há ainda pessoas e famílias que não estão em contacto com a realidade e, por isso, não estão despertas para determinados pormenores relativamente à deficiência”, alerta.

Questionada sobre qual o maior estigma que esta pastoral vai encontrar na Igreja, a coordenadora diocesana acredita que “as pessoas têm dificuldade porque não sabem como lidar”. “Como é uma realidade que não conhecem, não sabem que respostas dar, nem que necessidades existem. Há uma falta de conhecimento e de relacionamento com esta realidade, e esse é o principal problema, porque quando as pessoas começam a relacionar e a descobrir a riqueza que há por trás da pessoa com deficiência, começam a descobrir essa realidade a que é preciso dar resposta”, observa Conceição Teixeira Martins, sublinhando que “está um pouco enraizado que o deficiente não terá necessidade de Deus ou da frequência religiosa”. Uma ideia que esta responsável contradiz: “Na minha realidade, com a minha filha, há pequenos gestos que se vão notando, pelo próprio estar dela. A Ana é uma miúda que está bem quando rezamos, gosta de ter a Bíblia com ela, para a folhear para a frente e para trás, e que se sabe benzer. Naquilo que não é muito possível perceber – porque ela tem um atraso cognitivo grande – ela vive esta realidade da fé, também porque a conhece desde sempre”.

 

O consolo do Papa

O testemunho do Papa Francisco no acolhimento que presta às pessoas com deficiência é também destacado por Conceição. “Na perspetiva de mãe, é consolador ver os gestos; por outro lado, é incentivador, para quem está à volta, de que é necessário estarmos atentos a esta realidade da deficiência dentro da Igreja”, aponta a coordenadora diocesana desta pastoral.

 

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Perfil

Aos 41 anos, Maria da Conceição Rodrigues Teixeira Martins é a primeira coordenadora do novo Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Diocese de Lisboa. Casada e mãe de dois filhos – Pedro, de 20 anos, e Ana Sofia, de 18 –, Conceição é da Paróquia de Loures, onde foi catequista de grupos da adolescência, tendo ainda coordenado este sector na paróquia, e o marido colaborou no coro da Missa da catequese. Ambos são ainda ministros da comunhão. “Quando o inverno é rigoroso, vamos à Missa no centro comercial Colombo porque o acesso é pelo estacionamento interior e, assim, a nossa filha Ana não apanha frio e chuva, porque ela, além da multideficiência, tem uma imunidade debilitada e faz infeções respiratórias com alguma facilidade”, explica Conceição, única rapariga entre oito irmãos, que profissionalmente é responsável pelo departamento de comunicação da empresa familiar.

 

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Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Diocese de Lisboa

 

O Serviço Diocesano Pastoral a Pessoas com Deficiência integra-se no Departamento da Pastoral Social do Patriarcado de Lisboa.

 

Missão

- Promover a inclusão e participação plena da pessoa com deficiência na vida da Igreja.

 

Objetivos

- Valorizar a dignidade da vida da pessoa com deficiência, desde a sua gestação.

- Contribuir para a eliminação do preconceito e das barreiras, em relação à pessoa com deficiência, especialmente em contexto eclesial.

- Valorizar o crescimento espiritual e o compromisso eclesial da pessoa com deficiência.

- Sensibilizar a pastoral diocesana, as comunidades e os movimentos cristãos, na sua ação pastoral, para a inclusão da pessoa com deficiência e suas famílias.

- Conhecer e divulgar práticas de inclusão e participação eclesial das pessoas com deficiência, em diálogo com diferentes realidades culturais.

- Receber e responder a pedidos de informação referente à vida das pessoas com deficiência na Igreja.

- Articular com o Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, da Conferência Episcopal Portuguesa.

 

Plano de Ações para 2016/17

- Levantamento de boas práticas de inclusão da pessoa com deficiência na vida da Igreja, nomeadamente, nas paróquias, movimentos e instituições no Patriarcado de Lisboa:

i) Paróquias – Através da presença e distribuição de materiais (divulgação e questionário) na reunião geral de vigários;

ii) Movimentos – Através de contacto com o Apostolado dos Leigos/D. Nuno Brás, em reunião conjunta com os vários movimentos;

iii) Instituições / Associações – Levantamento indireto das Instituições/associações existentes no Patriarcado.

- Levantamento das Instituições/Associações de apoio à pessoa com deficiência e suas famílias na área geográfica do Patriarcado, de forma indireta, através de bases de dados.

- Levantamento de documentos da Igreja e subsídios pastorais relativos à pessoa com deficiência.

- Levantamento de apoios à eliminação de barreiras arquitetónicas.

- Peregrinação Nacional da Pessoa com Deficiência, Junho 2017:

i) Colaboração na organização no Secretariado Pastoral a Pessoas com Deficiência, da CEP;

ii) Divulgação nas paróquias, movimentos e instituições da Diocese de Lisboa;

iii) Divulgação das dinâmicas preparatórias para a Peregrinação, na Diocese de Lisboa.

– Comunicação Digital.

 

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Uma equipa diocesana desperta para a problemática

O Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência da Diocese de Lisboa tem uma equipa responsável constituída por sete elementos. Em decreto publicado no final do ano passado, o Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, nomeou coordenadora Maria da Conceição Rodrigues Teixeira Martins e assistente espiritual o diácono Fernando Augusto Magalhães Alves da Cunha. Completam a equipa diocesana a esposa do diácono, Eugénia Maria da Silva Abrantes Magalhães (casal que tem uma filha com deficiência), a fisioterapeuta Filipa Maria de Morais Sarmento Neto Fernandes, Francisco José O’Neill da Silva Marques, que teve uma filha com deficiência que faleceu há alguns anos, Maria João Torre do Valle Avillez, que tem um neto com deficiência, e a enfermeira Sónia Marisa Laginhas Leite Ribeiro. “Procurou-se constituir uma equipa com elementos que estivessem mais sensíveis e despertos para esta pastoral e esta realidade da pessoa com deficiência”, salienta a coordenadora, Conceição Teixeira Martins.

 

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“É indispensável a inclusão plena das pessoas com deficiência e suas famílias na vida das comunidades, nos seus múltiplos serviços e expressões da fé; elas são, na sua diversidade, expressão da riqueza da Igreja e ocasião para o seu enriquecimento.”

Constituição Sinodal de Lisboa, n.º 54

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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