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À procura da Palavra
O trabalho feliz
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DOMINGO IV COMUM Ano A

“Bem-aventurados os pobres em espírito,

porque deles é o reino dos Céus.”

Mt 5, 3

 

Com as bem-aventuranças estamos sempre a começar de novo!” Assim diz um amigo meu que, há anos, costuma fazer um original propósito de “ano novo”. Lê e medita o início do sermão da montanha de São Mateus, e começa a escrever a lista pessoal das felicidades que, com a experiência do ano passado, vai procurar viver ao longo do ano. Olha para as pequenas e grandes felicidades dos que o rodeiam, para as pequenas e grandes necessidades em que pode agir, e acolhe a ousadia e a surpresa que “Deus quiser apontar”!

 

Há uma dificuldade séria de as religiões lidarem com a felicidade. Talvez o desejo de perfeição projecte um rosto de Deus constantemente insatisfeito com as imperfeições humanas, e quase invejoso do prazer de viver. Será que a fé anda de mãos dadas com a felicidade? Pelo menos irradiamo-la os que nos dizemos religiosos? Encanta-me que Jesus comece, em S. Mateus, o seu discurso da montanha, com esta “carta magna da felicidade”, iniciada pela primeira palavra usada por David, que também foi a última de Moisés: “Felizes”! O desejo mais profundo do ser humano não é simplesmente um dom, mas um trabalho. Aprendemos e especializamo-nos em ser e fazer outros felizes.

O que sucederia se todos os pais e educadores lessem as bem-aventuranças como uma fórmula mágica para a sua missão? Independentemente da fé e de serem cristãos ou não, que renovação poderia trazer ao desencanto e desistência com que lidam com filhos e alunos? Porque andamos enganados e a enganar-nos com “instruções” de felicidade aumentam a infelicidade. De entre as muitas “instruções” erradas, que seria bom descobrirmos, partilho três, referidas por José António Pagola, um teólogo espanhol: “Se não tens êxito, não vales nada!”; “Se queres ter êxito, tens de valer mais do que os outros!”; “Se não respondes às expectativas, não podes ser feliz!”. Quase sem darmos conta, e quando damos as urgências da vida são tantas!..., andamos mal programados. Gostaríamos de mudar o mundo e as condições exteriores, mas as primeiras mudanças são interiores, e esse é o trabalho que a felicidade dá. Havia muita injustiça e violência no tempo de Jesus, enorme desigualdade e demasiados excluídos, e muitos esperavam que Ele viesse guiar a revolução contra os opressores. O maior choque das “bem-aventuranças” é a mudança interior que reclama aos que as leem. E o choque seguinte é emoldurá-las num bonito e devoto quadro para pôr numa sala da igreja!

 

Na desvalorização geral do trabalho humano, em que a lógica da felicidade se escreve com “sorte” e “esperteza”, a convocatória para este trabalho feliz que Jesus propõe será sempre uma novidade. Na língua e mentalidade hebraicas “felizes” é dito daqueles que abrem caminhos novos, belos e bons, de vida nova. Sentimo-nos contratados para este trabalho, ou esperamos que algum “subsídio de felicidade” venha não sabemos bem donde?

 

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