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Roma
“Esperança é a expectativa de algo que já se cumpriu e se realizará para cada um”
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O Papa Francisco convidou a manter “firme como um capacete a esperança da salvação”. Na semana em que reforçou que cristãos e muçulmanos devem estar unidos contra o terrorismo, o Papa rejeitou o consumo voraz, alertou para “hemorragia que enfraquece a vida consagrada e da Igreja” e falou do extremismo fundamentalista.

 

1. O Papa falou da esperança cristã. “A virtude da esperança recebe uma luz particular no Novo Testamento a partir da novidade representada por Jesus Cristo. Temos um exemplo disso na Primeira Carta aos Tessalonicenses. Aquela jovem comunidade, que celebrava de modo entusiasta a sua fé na vitória de Cristo sobre a morte, encontrava dificuldade para crer na ressurreição dos mortos. Trata-se de uma questão atual. Também muitos de nós, diante da realidade da morte, nos debatemos com a dúvida quanto à existência de uma vida após a morte. Frente a este temor e perplexidade, São Paulo instava os fiéis de Tessalónica a manterem firmes como um capacete a esperança da salvação. Isso significa que, para os cristãos, a esperança não é como o desejo de algo que pode ou não se realizar, mas, ao contrário, é uma expectativa de algo que já se cumpriu e que certamente se realizará para cada um de nós. Esperar, portanto, significa aprender a viver na expectativa, com um coração pobre e humilde, de alguém que não deposita a sua confiança nos seus próprios bens e capacidades, mas em Deus que ressuscitou Jesus dos mortos e há de nos fazer partícipes dessa Ressurreição”, referiu o Papa, na catequese da audiência-geral de quarta-feira, 1 de fevereiro, no Vaticano.

 

2. O Papa Francisco sublinhou a importância de cristãos e muçulmanos estarem unidos contra o terrorismo, na sequência de um ataque que fez seis mortos e oito feridos numa mesquita, no Quebeque, Canadá. Foi num encontro com o cardeal Gérald Cyprien Lacroix, do Quebeque, que se encontrava em Roma na passada segunda-feira de manhã, dia 30 de janeiro.

A Santa Sé enviou ainda um telegrama para a Igreja do Quebeque assegurando a proximidade do Papa nesta ocasião. Na nota introdutória publicada pelo Vaticano, Francisco “confia a Deus as pessoas que perderam a vida e associa-se, pelas orações, ao sofrimento dos seus parentes”. O comunicado diz ainda que o Papa “exprime as suas condolências aos feridos e às suas famílias, bem como a todas as pessoas que contribuíram para as operações de socorro, pedindo ao Senhor que os reconforte e console”. Condenando firmemente qualquer forma de violência, Francisco apela à paz e ao respeito mútuo.

 

3. O Papa fez, no passado Domingo, um apelo à sobriedade e respeito pelos outros, rejeitando o “consumo voraz”, porque “quem vive assim não é feliz”. “A pobreza de espírito em relação aos bens materiais é a sobriedade: não é necessariamente renúncia, mas é a capacidade de gostar do essencial, de partilhar, de renovar todos os dias o espanto pela bondade das coisas, sem o peso da opacidade do consumo voraz. Não é ‘quando mais tenho, mais quero’. Quem vive assim não é feliz”, afirmou Francisco na oração do Angelus, no Vaticano, no dia 29 de janeiro.

“Se, nas nossas comunidades, houvesse mais pobres de espírito, haveria menos divisões, contrastes e polémicas. A humildade, tal como a caridade, é uma virtude essencial para haver convivência nas comunidades cristãs”, sublinhou o Papa, lembrando o Dia Mundial dos Doentes de Lepra, que se assinalava naquele Domingo: “Esta doença, apesar de estar a regredir, ainda é das mais temidas e atinge os mais pobres e marginalizados. É importante lutar contra esta doença, mas também contra as discriminações que ela gera. Encorajo os que se empenham em socorrer e reinserir as pessoas afetadas pela lepra, pelas quais asseguramos a nossa oração”.

 

4. As estatísticas e a preocupação pelo abandono da vida religiosa mereceram, no sábado, 28 de janeiro, uma reflexão do Papa num encontro com representantes de vários institutos e congregações de vida consagrada. “Estamos perante uma autêntica hemorragia que enfraquece a vida consagrada e a própria vida da Igreja”, comentou Francisco, pois “neste momento, a fidelidade é posta à prova”. Entre os vários fatores que podem levar à queda das vocações religiosas, o Papa Francisco recorda “a dificuldade de assumir compromissos definitivos”, numa “cultura fragmentada e provisória, onde se prefere viver ‘a la carte’ e segundo os critérios da moda”. Onde os valores do Evangelho são cada vez mais estranhos e “as regras económicas substituem as morais”. Francisco lamenta que, apesar de não faltarem “jovens generosos e empenhados a nível religioso e social”, muitos deles acabam “vítimas da lógica mundana, que procura sucesso a qualquer preço, dinheiro fácil e prazer imediato”.

Entre os religiosos e consagrados há também o perigo “da rotina, do cansaço, do peso da gestão, das divisões internas, da busca do poder, do autoritarismo ou, então, do deixar-andar”. “Se a vida consagrada quer manter a sua missão profética e o seu fascínio”, concluiu o Papa, “deve manter a frescura e a novidade da contrariedade de Jesus, o atrativo da espiritualidade e a força da missão, deve mostrar a beleza da sequela de Cristo e deve irradiar esperança e alegria”. É que “a vocação, tal como a fé, é um tesouro que trazemos em vasos de barro, por isso, temos de cuidar dele, tal como se cuidam as coisas mais preciosas, para que ninguém nos roube este tesouro, nem ele perca a sua beleza, com o passar do tempo”, sublinhou Francisco.

 

5. Francisco encontrou-se no Vaticano com membros de uma comissão de diálogo entre católicos e ortodoxos presentes em territórios ocupados pelo autoproclamado Estado Islâmico, “que assistem diariamente à fúria da violência e a atos terríveis perpetrados pelo extremismo fundamentalista”, e manifestou a sua solidariedade aos cristãos que são vítimas de um “trágico sofrimento”. Dia 27 de janeiro, o Papa alertou para o crescimento do fundamentalismo em contextos de “pobreza, injustiça e exclusão social”. Os “desertos culturais e espirituais” de quem vive em situações “miseráveis” são mais facilmente manipuláveis e instigáveis para o ódio. “De modo particular, trago no coração os bispos, sacerdotes, consagrados e fiéis que são vítimas de sequestros cruéis e todos os que foram tomados como reféns ou reduzidos à escravidão”, apontou, desafiando os cristãos a responder com a mensagem do Evangelho a esta “lógica da violência”.

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