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P. Duarte da Cunha
Alternativas políticas, a necessidade de cristãos
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Assistimos nos últimos tempos a uma enorme pressão na opinião pública que parece exigir a opção entre um mundo globalizado centrado na grande finança e um mundo dividido em ilhas fechadas aos outros.

No primeiro caso temos a impressão de ser governados por pessoas com uma moral não identificada, onde a economia deixa de ser apenas um aspeto da vida humana para passar a ser o motor, o objetivo e a forma da vida humana. Não é raro descobrirmos que os interesses privados nestes casos se sobrepõem ao bem comum. Também têm sido estes a promoverem a filosofia de vida individualista e consumista. Além disso, como não ver que está em crise o respeito pela vida humana e pela sua dignidade quando se globaliza e justifica moralmente e legalmente o aborto e a eutanásia?

No outro extremo, temos a fixação nas questões de segurança, que se baseia em alguns factos mas que tende a exaltar o individualismo tal como os outros. Também estes parecem falar sobretudo do dinheiro e prometerem mais dinheiro às pessoas. Alguns chamam-nos populistas – e estes na Europa tanto os há de esquerda como de direita. Um dos sinais distintivos é a desconfiança dos estrangeiros e pensar, ingenuamente, que é possível viver sem a solidariedade dos outros e com os outros. Como se um país conseguisse no mundo atual viver sem ter relações e acordos com os outros países e pudesse viver em paz quando os outros estão em guerra, e não devesse ajudar os inocentes que sofrem.

Uns e outros acabam por ver no poder que querem conquistar o direito a fazer o que pensam, desrespeitando as estruturas intermédias e considerando que a célula da sociedade é a pessoa individual e não a família. O princípio da subsidiariedade deixa de fazer sentido quando só se pensa no eu e na eficácia financeira!

Traduzindo em termos mais simples, podemos dizer que assistimos à exigência de optar entre os senhores da grande finança, acreditando que a sua melhoria de vida corresponde também à nossa, mas certos que é a deles que têm em mente; e os senhores anti-sistema que denunciam os outros, mas só sabem propor um olhar egoísta como alternativo ao olhar interesseiro dos primeiros.

Tudo isto deixa os cristãos muito desamparados e com dificuldade de escolher os partidos e os candidatos. Não estamos de acordo com quem diz que a finança é o objetivo último, vemos nisso algo de ridiculamente redutor, pois o homem é muito mais do que o que possui. Consideramos serem imperativos políticos o respeito pela dignidade da pessoa humana em todas as fases da sua vida desde a conceção à morte natural. Defendemos que a regra de uma boa política é o cuidado do bem comum, que tem em conta o bem de todos e cada um, porque é mais do que a soma dos bens individuais, já que é também o bem da comunidade e da coesão social.

Além disso, sabemos que Deus é amor e criou os homens e mulheres à sua imagem e semelhança, indicando deste modo que não é possível a humanidade realizar-se como tal sem viver o amor e o cuidado pelos outros. O egoísmo, o individualismo, o hedonismo não são só pecados que fazem mal à pessoa, eles destroem a sociedade. Criador de todos os homens, é também Deus que assegura a dignidade humana e explica que todos os homens têm direito a viver e devem ser respeitados nos seus direitos fundamentais. Também sabemos que é na história, onde o próprio Deus entrou, que se revela a verdade de Deus e do homem e, por isso, compreendemos a importância das famílias e das nações, que são expressão dessa história e devem ser valorizadas, sem que para isso seja necessário pretenderem ser melhores ou ter mais direitos que outras pessoas ou nações.

Fica-nos o desejo: podemos pensar em ter um governo que pense no bem comum e reconheça a dignidade de todas as pessoas, sem considerar que um doente ou idoso que sofre pode ser morto? Podemos pensar num governo que tente melhorar a vida económica das pessoas sem pretender que a economia seja o tudo? Podemos imaginar que o amor, tal como Jesus o viveu e ensinou, é pertinente na política e tem lugar na vida pública? Podemos voltar a ter a família como célula da sociedade e vencer o individualismo que deprime?

Não haverá boas políticas sem políticos sérios e estes precisam de ser pessoas apaixonadas pela vida e pelo bem comum que se juntam para servir a sociedade. Torna-se decisivo pedir aos cristãos, que sabem que os grandes ideais são possíveis graças à Redenção realizada por Jesus Cristo, que saiam para a vida pública com coragem.