Fruto das muitas contribuições que, ao longo de dois anos e meio, nos conduziram à assembleia sinodal, foi publicada a 8 de dezembro a Constituição Sinodal de Lisboa.
A Constituição Sinodal localiza o «sonho missionário de chegar a todos» com que o Papa Francisco nos motivou na exortação apostólica Evangelii Gaudium. Desenvolve-se em três partes: I. “Uma mudança de época”: escutar o mundo e olhar a Igreja (nº 4-20). II. “Discernir com critérios evangélicos sobre a própria existência e experiência”: critérios para a ação eclesial (nº 21-33). III. “Não deixar as coisas como estão”: para uma conversão pastoral e missionária (nº 34-70).
No número 70 convergem «alguns caminhos de renovação eclesial especificados nas seguintes opções: santidade, missão, comunidade, iniciação cristã, família, vocação e sinodalidade». Na homilia da solenidade de São Vicente apresentei tal convergência de caminhos e opções: «A santidade lembra-nos que tudo o que fizermos só ganha sentido se nos fizer a nós próprios mais de Deus e para Deus, princípio e fim da evangelização. A missão decorre imediatamente da santidade, porque o nosso Deus é constante saída de si, como Pai em relação ao Filho, como Filho em retribuição ao Pai, como Espírito de mútua entrega. A comunidade, pois nada disto é teórico, mas eminentemente prático, vivendo uns com os outros e para os outros, e assim mesmo escola de vida divina. A iniciação, como revelação que se acolhe e vida nova que começa, numa comunidade que progride. A família, pois tudo há de começar onde naturalmente começamos e aí mesmo encontra a primeira linguagem, o primeiro rosto, a relação fundamental. A vocação, pois o apelo que Deus faz a todos, para sermos realmente seus, incide em cada um para que seja especialmente assim, como Ele quer e espera, como os outros precisam que aconteça. A sinodalidade, porque se trata de caminho a percorrer com todos, rumo ao Deus uno e trino, em unidade plural e partilhada».
Nessa mesma homilia adiantei que, fruto da reflexão feita no Conselho Episcopal com o Secretariado de Ação Pastoral e o Secretário do Sínodo, concretizaremos, a partir de setembro, um programa de três anos dedicado à receção sinodal, que deverá culminar no fim de 2020 com uma assembleia diocesana de avaliação e projeção para o futuro.
Temos nestes meses, de fevereiro até junho, ocasião para precisarmos esse programa trienal, conjugando as reuniões de vigários e as de vigararia, contando igualmente com a colaboração de outras instâncias pastorais.
Tomaremos como base a terceira parte da Constitucional Sinodal, diretamente programática, sem deixar de ter presentes as considerações da totalidade do documento. Desenvolve-se em três dimensões e na edificação comunitária, cada uma delas em vários pontos.
A dimensão profética: anúncio e testemunho do Evangelho, apresenta os seguintes “desafios”: Aceitar a surpresa de Deus (nº 37). Fazer da Palavra de Deus o lugar onde nasce a fé (nº 38). Fomentar uma pastoral de acolhimento (nº 39). Propor percursos de iniciação diferenciados e personalizados (nº 40). Proporcionar experiências de oração e de interioridade na catequese (nº 41). Velar pelos recomeços da fé (nº 42). Comunicar de forma compreensível e adotar novas linguagens (nº 43). Anunciar os valores cristãos na escola e na universidade (nº 44). Promover o diálogo ecuménico, inter-religioso e intercultural (nº 45).
A dimensão sacerdotal: celebração da fé e vida espiritual, destaca os seguintes “aspetos”: A liturgia é obra de Cristo sacerdote no seu Corpo que é a Igreja (nº 46). Viver a liturgia como lugar de encontro (nº 47). Cultivar a vida espiritual (nº 48). Celebrar a liturgia na atenção aos percursos pessoais (nº 49). Despertar o desejo de Deus e propor o seguimento de Cristo na preparação para os sacramentos (nº 50). Valorizar as expressões de piedade popular como abertura ao Evangelho (nº 51).
A dimensão real: serviço e cuidado do próximo, aponta alguns “desafios”: Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias sociais e geográficas (nº 53). Abrir a todos as portas da esperança (nº 54). Intensificar o caráter evangelizador das instituições sociais da Igreja (nº 55). Fomentar a cooperação entre as instituições e apostar na formação dos gestores (nº 56). Diversificar as formas de presença da Igreja nos diversos âmbitos da vida (nº 57).
A edificação comunitária e vivência da comunhão para o serviço do mundo lança os seguintes “desafios”: Viver a misericórdia, rosto da comunhão e alma da missão (nº 59). Fazer da Igreja uma rede de relações fraternas (nº 60). Promover a consciência missionária dos batizados (nº 61). Formar discípulos missionários (nº 62). Suscitar uma cultura missionária e vocacional (nº 63). Formar os ministros ordenados para a comunhão e missão (nº 64). Valorizar e integrar o contributo evangelizador dos diversos carismas (nº 65). Promover a recomposição familiar da vida comunitária (nº 66). Promover a atualidade evangelizadora da paróquia (nº 67). Viver sinodalmente (nº 68). Com Maria, Mãe e modelo da Igreja Evangelizadora (nº 69). Caminhos de renovação eclesial especificados em sete opções: Santidade, missão, comunidade, iniciação cristã, família, vocação, sinodalidade (nº 70).
Proponho que nas reuniões de Vigararia do presente mês de fevereiro – bem como noutras instâncias pastorais – se escolha em cada uma das três dimensões (profética, sacerdotal e real) e na edificação comunitária um ponto prioritário a atender. Quando somarmos todas as escolhas, poderemos assentar nessas bases o nosso percurso sinodal até 2020, com objetivos e meios mais definidos. Não se trata de ignorar o conjunto da Constituição Sinodal, mas sim de o articular em torno de quatro pontos julgados prioritários.
Lisboa, 7 de fevereiro de 2017
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