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À procura da Palavra
Lágrimas de vida
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DOMINGO V QUARESMA Ano A

“Jesus chorou. [...]

Bradou com voz forte: «Lázaro, sai para fora.»”

Jo 11, 35.43

 

Não há palavras para a morte. Explicações e justificações não enchem o vazio deixado pela ausência de quem amamos. E as lágrimas são um rosário de gotas que brotam das janelas da alma dos nossos olhos. Não digam que um homem não chora; o próprio Filho de Deus chorou diante de Lázaro morto. Mas que ninguém se afogue em lágrimas, pois até elas lavam os olhos para vermos mais longe.

 

Que fazer da morte? Revoltarmo-nos? Deprimirmo-nos? O mais comum é fazer por esquecer e seguir para diante. A jornalista Patrícia Reis dizia-o numa entrevista ao Diário de Notícias: “Costumo dizer, e os miúdos às vezes chateavam-se comigo, mas quando há um problema eu digo: vais morrer, não sabes quando, queres mesmo desperdiçar as tuas energias nisso? Há que relativizar as coisas.” O compromisso por uma vida com sentido saboreia-se mesmo nas palavras do poeta Sebastião da Gama: “Que a Morte, quando vier, / não venha matar um morto.... / Quero morrer em pujança.” E se, perante o mistério da morte os dogmas científicos e religiosos são frágeis, há uma humildade comum a crentes e não crentes. Humildade que os cristãos concretizamos em confiança na bondade radical de Deus manifestada em Jesus, na abertura à surpresa feliz da vida eterna, no amor que tem a marca da Páscoa.

 

Há palavras para a vida. Na voz de Jesus a ressuscitar Lázaro há a força de um despertar do sono. É a aprendizagem do renascer depois da destruição, um impossível que se torna possível. E isto não se percebe de fora, é preciso entrar dentro de Jesus e, como Marta, responder à sua pergunta: “Acreditas nisto?” Acreditar é participar, é viver ressuscitando, é sonhar o impossível. E quem disse que é fácil acreditar em Jesus? Eis-nos em caminho quaresmal para rever as tentações do ritualismo oco, do dogmatismo sectário, do facilitismo espiritual. Sem nos aflorarem aos olhos as lágrimas nascidas no coração, como a Jesus perante a impotência diante da morte (e das “mortes” a que nos habituamos, num pelo egoísmo e insensibilidade aos outros), como escutaremos a voz que diz: “Sai para fora!”?

 

Que fazer da vida? Não terá sido essa a pergunta de Lázaro, espantado pelo regresso à vida? Ir e caminhar com outros, na tarefa quotidiana de libertar do mal e vencer a morte é uma resposta. A confiança em Deus não é uma espera passiva por medo de errar. É um caminho de fidelidade e coragem, em que as lágrimas de amor podem ajudar a ver melhor. A tarefa da ressurreição não é só para a outra vida. É dos túmulos em que tantos se encerram ou aí são colocados que é urgente sair para a vida. Aquela que vai ser, um dia, surpresa de Deus, e a de hoje! Sim, esta aqui e agora, que Jesus abraçou e onde se comoveu até às lágrimas, e não certamente só de dor!

 

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