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Vaticano anuncia canonização dos pastorinhos a 13 de maio, em Fátima
Mensagem reavivada
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“O que os pastorinhos ouviram, o que eles transmitiram, é urgente agora como era urgente então”, considera o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, a propósito do anúncio da canonização em Fátima, no próximo dia 13 de maio, de Francisco e Jacinta Marto.

 

Foi “com muita alegria” que D. Manuel Clemente recebeu a informação da canonização dos pastorinhos em Fátima. “É uma alegria redobrada porque são canonizados e, por isso, postos à veneração dos fiéis de uma maneira mais geral, em todo o mundo, e com outra intensidade. Porque é no próprio sítio e no dia em que eles receberam essa mensagem da Mãe de Jesus, de Nossa Senhora de Fátima, e que agora essa mesma mensagem é reavivada”, afirmou o Cardeal-Patriarca, em declarações à Renascença. Este facto deve alegrar os portugueses, mas também os compromete, considerou. “Porque o que eles ouviram, o que eles transmitiram, é urgente agora como era urgente então. Aquelas crianças com a Mãe de Jesus aperceberam-se de uma maneira muito forte do que é o mal do mundo, mas sobretudo e ainda de uma maneira mais forte, de como este mal pode ser ultrapassado, pondo-nos do lado de Deus, e da sua misericórdia como ela é transmitida pelo próprio Coração Imaculado de Maria”, acrescentou.

A mensagem e o exemplo de Francisco e Jacinta Marto é perfeitamente atual, salientou ainda o Cardeal-Patriarca. “Isso significa, para todos nós, que diante das dificuldades, e que são tantas agora como eram na altura – porventura ainda mais – os perigos e as dificuldades de tanta gente por esse mundo além, até perto de nós, devemos estar do lado de Deus, de Jesus e Maria, e por isso a crescer como cresceram os pastorinhos, a partir daí e de que maneira, em mais caridade, em mais preocupação com os outros, em mais fé e em mais confiança em Deus. E, de alguma maneira, compartilhar desses sentimentos de Deus, de Jesus, da Mãe de Jesus, para que as coisas se ultrapassem na raiz, na conversão e insistência na penitência, que é mudar para o lado de Deus na nossa vida, e no sentido do Evangelho, a nossa prática”, apontou D. Manuel Clemente.

O facto de a canonização ser em Portugal tem o significado especial de “fazer com que o que foi o percurso dos pastorinhos, no sentido de adesão a Deus e às propostas da Mãe de Deus de conversão, de interesse por todos, realmente persistente, seja também agora o nosso comportamento, a nossa conduta, o nosso propósito”, concluiu o Cardeal-Patriarca de Lisboa.

 

Vida “rica de fé, amor e oração”

O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, assinalou o anúncio da canonização de Jacinta e Francisco Marto em Fátima, a 13 de maio, durante a visita do Papa Francisco. “O presidente da República saúda e felicita a comunidade católica, crente em Fátima, pela decisão de canonização de Jacinta e Francisco Marto, que, certamente, conhecerá na próxima visita do Papa Francisco o culminar de um longo processo eclesiástico”, assinala uma nota, divulgada pela Presidência da República.

Também o jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, destaca, na sua edição de 21 de abril, a canonização dos pastorinhos, “por ocasião do centenário das aparições marianas”. “As duas crianças, ambas testemunhas, com a prima Lúcia dos Santos, das aparições da Virgem Maria na Cova da Iria, serão elevadas às honras dos altares pessoalmente pelo Papa Francisco que pela terceira vez presidirá a uma canonização fora de Roma”, realça o jornal.

A data e o local para a canonização dos irmãos pastorinhos foram anunciados pelo Papa Francisco, após um Consistório Público [reunião formal entre o Papa e cardeais], no Palácio Apostólico do Vaticano, realizado no passado dia 20 de abril. A cerimónia foi acompanhada pela irmã Ângela Coelho, postuladora da causa de canonização de Francisco e Jacinta, e pelo padre Vítor Coutinho, vice-reitor do Santuário de Fátima. Na ocasião, o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Angelo Amato, sublinhou que a “breve vida” dos mais novos pastorinhos de Fátima “foi rica de fé, amor e oração”.

 

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Família vai fazer declaração sobre o milagre, em Fátima

Criança miraculada assiste à canonização de Francisco e Jacinta

 

A criança brasileira cuja cura milagrosa foi obtida por intercessão de Francisco e Jacinta Marto, num milagre reconhecido pelo Papa e que está na base da canonização dos dois videntes, vai estar em Fátima a 13 de maio, acompanhada pela família.

 

No dia 11 de maio, a família vai fazer uma declaração em Fátima sobre o milagre, estando disponível para falar com a comunicação social, assistindo, no dia 13, à canonização dos dois pastorinhos. Até esse momento, a família não vai dar entrevistas nem fazer declarações, por pretender que o seu testemunho seja feito no Santuário de Fátima.

O milagre reconhecido pela Igreja, em 23 de março passado, diz respeito a uma criança brasileira, que na época tinha seis anos, segundo a Rádio Vaticano. A criança “estava na casa do avô, a brincar com a irmã, quando caiu, por acidente, de uma janela de cerca sete metros de altura, sofrendo um grave traumatismo crânio encefálico, com a perda de material cerebral”. Depois de transportada “ao hospital, em estado de coma, foi operada”, e os médicos disseram que, “caso sobrevivesse, viveria em estado vegetativo ou, no mínimo, com graves deficiências cognitivas”. Escreve a Rádio do Vaticano que, “milagrosamente, após três dias, a criança recebeu alta, não sendo constatado nenhum dano neurológico ou cognitivo”. A 2 de fevereiro de 2007, uma equipa médica, segundo a mesma fonte, deu um “parecer positivo unânime sobre o caso, como ‘cura inexplicável do ponto de vista científico’”. Na descrição da Rádio Vaticano, “no momento do incidente, o pai da criança havia invocado Nossa Senhora de Fátima e os dois pequenos beatos”. “Na mesma noite, os familiares e uma comunidade de irmãs de clausura tinham rezado com insistência, pedindo a intercessão dos pastorinhos de Fátima”, lê-se no texto publicado no site do Vaticano.

 

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“Um grande dom para a nossa diocese, donde são originários os pastorinhos, como também para o Santuário de Fátima, para a Igreja em Portugal e para a Igreja universal, para todos os que reconhecem nos pastorinhos o exemplo luminoso de um caminho de santidade que, através do Imaculado Coração de Maria, nos conduz até Deus. A santidade destas duas crianças é, na verdade, ‘um dos frutos mais belos da Mensagem de Fátima’.”

D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

 

“Será um ponto alto das celebrações do centenário de Fátima. Um lugar onde houve uma mensagem que agora sabemos leva à santidade. A escolha de Fátima para realizar a canonização demonstra a relevância de uma mensagem que é eloquente para um mundo necessitado de paz e para homens e mulheres para quem Deus pode dar razões de esperança e de sentido.”

Irmã Ângela Coelho, postuladora da causa de canonização dos pastorinhos

 

“Que esta canonização tenha lugar em Fátima torna-a, para nós, muito especial: porque é este Santuário que custodia as suas relíquias; é neste Santuário que estão os seus túmulos; muito especial porque escolher Fátima para este ato solene da Igreja universal é reconhecer a importância mundial de Fátima e é igualmente reconhecer Fátima como verdadeira ‘escola de santidade’.”

Padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima

 

“A vinda do Papa, a canonização dos dois pastorinhos, e o facto de ser aqui em Fátima, são três componentes de uma mesma realidade que é o prestígio do Santuário, da mensagem. Um desafio não só para a Igreja, mas para todo o mundo, porque a mensagem de Fátima é um compêndio de todo o Evangelho sob o aspeto sociológico, de justiça social, mas também de conversão e harmonia das pessoas.”

D. Serafim Ferreira e Silva, Bispo emérito de Leiria-Fátima

 

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Francisco e Jacinta: a biografia de um sim

Tudo começou com uma resposta. Porque tudo começou com uma pergunta: «Quereis oferecer-vos a Deus»? Assim foi, a 13 de Maio de 1917, na Cova da Iria, aquando desse primeiro diálogo entre a Virgem Maria e os três pastorinhos de Fátima. E a resposta, cheia daquela ousada generosidade tão típica das crianças, estava cheia de futuro: «Sim queremos». Esse seu futuro é hoje, também, o nosso presente. Porque assim se abriu um fecundo caminho de santidade vivida. Uma autêntica biografia de um sim, pessoal e total, comprometido e fiel. Esse sim que agora é reconhecido, de forma pública e afirmativa, como expressão de vida evangelizada. Esse sim que agora, num gesto de toda a Igreja, é canonizado como rosto de santidade.

 

A biografia deste «sim», diz-nos que a santidade começa por ser chamamento. Deus «con-vida» para uma vida com Ele. No princípio desta biografia, como no princípio de tudo, está Deus, que tudo chama à existência. A santidade é assim, na sua génese e estrutura, o fruto excelente de uma vocação. Mas toda a interpelação pede resposta e compromisso. O «sim» dos pastorinhos é pessoal e comunitário. É plenamente eclesial, portanto. O «sim» dos pastorinhos é, simultaneamente, expressão de confiança presente e profecia de relação nova com Deus. Porque assim foi o itinerário de vida de Francisco e Jacinta. Um sim primeiro, grande como chamamento que os «con-vocara». Um sim repetido, nos muitos pequenos gestos com que se teceram as suas breves vidas. Um sim dito, profecia de um sim vivido. Para nós hoje, profecia realizada e, por isso, expressão certa de vida santificada por Deus. Porque identificação com aquele «sim» eterno que nos introduziu numa nova relação de aliança com Deus: «o Filho de Deus, Jesus Cristo […] não foi um “sim” e um “não”, mas unicamente um “sim”. Nele todas as promessas de Deus se tornaram “sim”» (2Cor 1, 19-20).

 

Cem anos depois, torna-se claro como a biografia desse «sim» ainda não acabou. Ele continua a ressoar, como continua a interpelar. Porque o que se vai canonizar em Francisco e Jacinta é, precisamente, este «sim» e a vida nova em Deus que ele possibilitou e gerou. O que se vai canonizar é a identificação desse seu «sim» com o «sim» de Cristo, com o «sim» que é Cristo. O que se vai canonizar, dando como modelo à Igreja e ao mundo, é a liberdade comprometida, o compromisso fiel e fidelidade feliz que, com essa resposta, se fez vida vivida nos pastorinhos. O que se vai canonizar, relendo com gratidão esta história centenária de Fátima, é o amor à vontade de Deus, tão cultivado por Francisco, e o dom de si pelo próximo, tão aprofundado por Jacinta. Eis porque o seu «sim» continua vivo. A sua biografia vive agora um momento simbólico de particular intensidade: 100 anos volvidos, no mesmo local, toda a Igreja se reúne, em torno do «bispo vestido de branco», para canonizar o «sim» de Francisco e Jacinta. E assim, essa singela resposta, deixa de ser apenas memória de um passado. Ela é também convite para um presente, profecia de um novo futuro. Porque agora, sabemo-lo, tem-nos a Virgem a seu lado, quando com voz maternal se nos dirige a nós e, a partir de Fátima, pergunta sempre de novo: quereis oferecer-vos a Deus?

 

por Irmã Ângela Coelho e Pe. Alexandre Palma (A Irmã Ângela Coelho é postuladora da causa de canonização dos pastorinhos beatos Jacinta e Francisco Marto e o Padre Alexandre Palma é professor de Teologia na Universidade Católica Portuguesa)


texto publicado no Observador (www.observador.pt)   


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“É com muita alegria que recebemos a notícia da canonização de Francisco e Jacinta na sua terra! Mais viva fica ainda a celeste notícia que aí mesmo nos transmitiram! #pastorinhos

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